São Paulo, sexta-feira, 09 de maio de 2008

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Confrontos matam dez e agravam crise sectária no Líbano

Hizbollah qualifica desmantelamento de rede de telefonia que operava como "declaração de guerra" pelo governo

Milicianos islâmicos lutam nas ruas de Beirute e vale do Bekaa contra os sunitas que apóiam governo; ONU vota resolução pela paz e diálogo

DA REDAÇÃO

As tensões se agravaram sensivelmente ontem no Líbano, com confrontos armados em Beirute entre sunitas favoráveis ao governo e xiitas ligados ao grupo islâmico Hizbollah, apoiado por Síria e Irã.
Dez civis morreram -entre eles mãe e filho atingidos por uma granada em apartamento no bairro de Ras el-Habeh, na capital- e ao menos 30 ficaram feridos, quatro deles na cidade de Saadnayel, no vale do Bekaa.
O xeque Hassan Nasrallah, dirigente do Hizbollah, qualificou como "um ato de guerra" a decisão do governo do primeiro-ministro pró-ocidental Fuad Siniora de fechar uma rede de telefonia paralela, montada pelo grupo xiita, e de demitir um diretor do aeroporto de Beirute, a ele ligado, por ter autorizado a instalação de câmeras para monitorar a chegada de passageiros.
"Essa decisão é o sinal verde para o início de uma guerra de resistência", afirmou o xeque Nasrallah, na sua mais dura reação nos últimos meses.

Cenário do impasse
O colunista Rafik Khouri, do jornal "Al Anwar", afirma que o país chegou a um impasse, já que o governo não pode recuar da decisão de desmontar a rede islâmica de telefonia, o que o desmoralizaria, mas tampouco tem poder de fogo para neutralizar o Hizbollah, pois é prejudicado na correlação de forças.
Funcionário do governo disse à Reuters que não haverá recuo quanto à rede telefônica.
O Hizbollah retirou seus ministros do governo em 2006, querendo assim antecipar as eleições legislativas. Há sete meses o país está sem presidente, porque o grupo islâmico só votaria no general Michel Suleiman, o nome de consenso, caso pudesse exercer poder de veto sobre os atos do governo.
O Hizbollah é o único grupo autorizado a ter seus próprios arsenais e milícias, em razão do controle que mantém sobre a região da fronteira com Israel, no sul do país.
Em resposta à declaração de Nasrallah, Saad Hariri -uma das principais lideranças sunitas e filho do ex-premiê Rafik Hariri, cujo assassinato em 2005 forçou a Síria a retirar suas tropas do Líbano- lançou um apelo conciliador para que o Hizbollah negocie, retire seus homens armados das ruas de Beirute "e salve o Líbano do inferno". Mas, à noite, o grupo rejeitou a oferta.
Pela manhã, o Hizbollah havia destruído o prédio em que funciona o Movimento do Futuro, partido chefiado por Hariri. Os milicianos xiitas ainda mantinham fechado o acesso ao aeroporto de Beirute, o único do país, de onde apenas um vôo conseguiu decolar.

Greve foi estopim
A crise começou anteontem, quando sindicatos lançaram uma greve em favor do aumento do salário mínimo. O grupo islâmico imediatamente se juntou ao movimento, por ser uma nova oportunidade de enfraquecer o governo. Diante da eclosão da violência, os sindicatos recuaram e disseram que "reprogramariam" a greve para outra data. Mas o estrago já estava inteiramente armado.
O Hizbollah argumenta que sua rede de telefonia, que funciona em Beirute e no sul do país, é uma ferramenta fundamental para seus homens armados que atuam na fronteira com Israel. O grupo enfrentou por 33 dias forças regulares israelenses em meados de 2006.
Em Washington, o porta-voz da Casa Branca, Gordon Johndroe, disse que o Hizbollah precisa optar entre as condições "de grupo terrorista ou de partido político". Em verdade, ele é hoje ao mesmo tempo milícia armada, partido, rede de mídia e entidade assistencial.
O embaixador americano nas Nações Unidas, Zalmay Khalilzad, defendeu a votação de sanções contra o Hizbollah e a Síria. Pouco antes, o Conselho de Segurança votava resolução em que exortava as partes em conflito a cessarem a violência, reabrirem avenidas e estradas e resolverem suas desavenças por meio do diálogo.


Com agências internacionais


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