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Confrontos matam dez e agravam crise sectária no Líbano
Hizbollah qualifica desmantelamento de rede de telefonia que operava como "declaração de guerra" pelo governo
Milicianos islâmicos lutam nas ruas de Beirute e vale do
Bekaa contra os sunitas que apóiam governo; ONU vota
resolução pela paz e diálogo
DA REDAÇÃO
As tensões se agravaram sensivelmente ontem no Líbano,
com confrontos armados em
Beirute entre sunitas favoráveis ao governo e xiitas ligados
ao grupo islâmico Hizbollah,
apoiado por Síria e Irã.
Dez civis morreram -entre
eles mãe e filho atingidos por
uma granada em apartamento
no bairro de Ras el-Habeh, na
capital- e ao menos 30 ficaram
feridos, quatro deles na cidade
de Saadnayel, no vale do Bekaa.
O xeque Hassan Nasrallah,
dirigente do Hizbollah, qualificou como "um ato de guerra" a
decisão do governo do primeiro-ministro pró-ocidental
Fuad Siniora de fechar uma rede de telefonia paralela, montada pelo grupo xiita, e de demitir
um diretor do aeroporto de
Beirute, a ele ligado, por ter autorizado a instalação de câmeras para monitorar a chegada
de passageiros.
"Essa decisão é o sinal verde
para o início de uma guerra de
resistência", afirmou o xeque
Nasrallah, na sua mais dura
reação nos últimos meses.
Cenário do impasse
O colunista Rafik Khouri, do
jornal "Al Anwar", afirma que o
país chegou a um impasse, já
que o governo não pode recuar
da decisão de desmontar a rede
islâmica de telefonia, o que o
desmoralizaria, mas tampouco
tem poder de fogo para neutralizar o Hizbollah, pois é prejudicado na correlação de forças.
Funcionário do governo disse à Reuters que não haverá recuo quanto à rede telefônica.
O Hizbollah retirou seus ministros do governo em 2006,
querendo assim antecipar as
eleições legislativas. Há sete
meses o país está sem presidente, porque o grupo islâmico só
votaria no general Michel Suleiman, o nome de consenso,
caso pudesse exercer poder de
veto sobre os atos do governo.
O Hizbollah é o único grupo
autorizado a ter seus próprios
arsenais e milícias, em razão do
controle que mantém sobre a
região da fronteira com Israel,
no sul do país.
Em resposta à declaração de
Nasrallah, Saad Hariri -uma
das principais lideranças sunitas e filho do ex-premiê Rafik
Hariri, cujo assassinato em
2005 forçou a Síria a retirar
suas tropas do Líbano- lançou
um apelo conciliador para que
o Hizbollah negocie, retire seus
homens armados das ruas de
Beirute "e salve o Líbano do inferno". Mas, à noite, o grupo rejeitou a oferta.
Pela manhã, o Hizbollah havia destruído o prédio em que
funciona o Movimento do Futuro, partido chefiado por Hariri. Os milicianos xiitas ainda
mantinham fechado o acesso
ao aeroporto de Beirute, o único do país, de onde apenas um
vôo conseguiu decolar.
Greve foi estopim
A crise começou anteontem,
quando sindicatos lançaram
uma greve em favor do aumento do salário mínimo. O grupo
islâmico imediatamente se juntou ao movimento, por ser uma
nova oportunidade de enfraquecer o governo. Diante da
eclosão da violência, os sindicatos recuaram e disseram que
"reprogramariam" a greve para
outra data. Mas o estrago já estava inteiramente armado.
O Hizbollah argumenta que
sua rede de telefonia, que funciona em Beirute e no sul do
país, é uma ferramenta fundamental para seus homens armados que atuam na fronteira
com Israel. O grupo enfrentou
por 33 dias forças regulares israelenses em meados de 2006.
Em Washington, o porta-voz
da Casa Branca, Gordon Johndroe, disse que o Hizbollah precisa optar entre as condições
"de grupo terrorista ou de partido político". Em verdade, ele é
hoje ao mesmo tempo milícia
armada, partido, rede de mídia
e entidade assistencial.
O embaixador americano nas
Nações Unidas, Zalmay Khalilzad, defendeu a votação de sanções contra o Hizbollah e a Síria. Pouco antes, o Conselho de
Segurança votava resolução em
que exortava as partes em conflito a cessarem a violência, reabrirem avenidas e estradas e resolverem suas desavenças por
meio do diálogo.
Com agências internacionais
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