São Paulo, sexta-feira, 09 de maio de 2008

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análise

Exército intacto impede volta de guerra civil

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Guerra Civil libanesa (1975-1990), com 100 mil mortos num país de 4 milhões, começou quando o Exército nacional entrou em colapso, já que soldados muçulmanos desertavam ao recusar obediência a oficiais cristãos maronitas.
Para um país tão incrivelmente dividido, as pequenas Forças Armadas são a condição necessária à unidade. Elas tentam desde quarta se manter equidistantes. Assim, não intervieram para eliminar as barreiras que fecham o aeroporto de Beirute.
Seu comandante, o general Michel Suleiman, recusou o plano do governo de decretar estado de emergência e impor um toque de recolher, porque sabia que seus homens precisariam intervir para o cumprimento dessas medidas e poderiam se deixar "contaminar" pelo conflito entre as facções.
Mesmo assim, comunicado militar alertou para o perigo desse contágio. A intensificação do mercado negro de armas supõe que outros grupos estejam se equipando para a defesa dos clãs ou para se contrapor, mesmo que por dissuasão, às poderosas milícias islâmicas do Hizbollah, armadas pela Síria e pelo Irã.
O quadro sectário -muçulmanos xiitas contra muçulmanos sunitas- não esgota o perfil do conflito libanês. O país não é um Iraque em miniatura. Os cristãos maronitas do general Michel Aoun estão do lado dos xiitas. Os drusos se alinham ao governo sunita, que é também apoiado por outros cristãos.
A ditadura síria, mesmo sem estar presente por forças regulares, como até 2005, ainda se vê como guardiã de um país que formava com ela um único território até o colapso do Império Otomano, há cerca de 90 anos, e com o qual mantinha afinidades durante o período posterior, com o protetorado francês que lhes foi comum.
Mas a motivação de Damasco não é histórica. O Líbano se tornou uma plataforma para que os sírios incomodem os Estados Unidos -responsáveis pelo caos iraquiano- e sobretudo Israel, de quem esperam a devolução do Golã, capturado na Guerra dos Seis Dias (1967).
O Irã entra no jogo do Hizbollah por razões parecidas. O regime islâmico acredita ter contas a acertar com os americanos e favorece o enfraquecimento ainda maior do governo pró-Ocidente do premiê sunita Fuad Siniora.
Em resumo, é uma partida em que cada jogador possui uma retaguarda plural e nem sempre homogênea. Nada mais perigoso para a eclosão de uma nova guerra, contra a qual pouco ou nada poderia fazer o debilitado presidente George W. Bush, agora em final de mandato.


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