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análise
Exército intacto impede volta de guerra civil
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Guerra Civil libanesa
(1975-1990), com 100 mil
mortos num país de 4 milhões, começou quando o
Exército nacional entrou em
colapso, já que soldados muçulmanos desertavam ao recusar obediência a oficiais
cristãos maronitas.
Para um país tão incrivelmente dividido, as pequenas
Forças Armadas são a condição necessária à unidade.
Elas tentam desde quarta se
manter equidistantes. Assim, não intervieram para
eliminar as barreiras que fecham o aeroporto de Beirute.
Seu comandante, o general
Michel Suleiman, recusou o
plano do governo de decretar
estado de emergência e impor um toque de recolher,
porque sabia que seus homens precisariam intervir
para o cumprimento dessas
medidas e poderiam se deixar "contaminar" pelo conflito entre as facções.
Mesmo assim, comunicado militar alertou para o perigo desse contágio. A intensificação do mercado negro
de armas supõe que outros
grupos estejam se equipando
para a defesa dos clãs ou para
se contrapor, mesmo que por
dissuasão, às poderosas milícias islâmicas do Hizbollah,
armadas pela Síria e pelo Irã.
O quadro sectário -muçulmanos xiitas contra muçulmanos sunitas- não esgota o perfil do conflito libanês. O país não é um Iraque
em miniatura. Os cristãos
maronitas do general Michel
Aoun estão do lado dos xiitas.
Os drusos se alinham ao governo sunita, que é também
apoiado por outros cristãos.
A ditadura síria, mesmo
sem estar presente por forças regulares, como até
2005, ainda se vê como guardiã de um país que formava
com ela um único território
até o colapso do Império
Otomano, há cerca de 90
anos, e com o qual mantinha
afinidades durante o período
posterior, com o protetorado
francês que lhes foi comum.
Mas a motivação de Damasco não é histórica. O Líbano se tornou uma plataforma para que os sírios incomodem os Estados Unidos
-responsáveis pelo caos iraquiano- e sobretudo Israel,
de quem esperam a devolução do Golã, capturado na
Guerra dos Seis Dias (1967).
O Irã entra no jogo do Hizbollah por razões parecidas.
O regime islâmico acredita
ter contas a acertar com os
americanos e favorece o enfraquecimento ainda maior
do governo pró-Ocidente do
premiê sunita Fuad Siniora.
Em resumo, é uma partida
em que cada jogador possui
uma retaguarda plural e nem
sempre homogênea. Nada
mais perigoso para a eclosão
de uma nova guerra, contra a
qual pouco ou nada poderia
fazer o debilitado presidente
George W. Bush, agora em final de mandato.
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