São Paulo, sábado, 09 de maio de 2009

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Papa se oferece para mediar o conflito árabe-israelense

Ao chegar à Jordânia, Bento 16 expressa "profundo respeito" por muçulmanos

Para o pontífice, que visitará Israel e palestinos, Igreja Católica pode ajudar a superar os impasses entre os dois lados desse conflito

Pier Paolo Cito/Associated Press
O papa Bento 16 é recebido pela rainha Rania e pelo rei Abdullah, da Jordânia, na chegada a Amã

DA REDAÇÃO

Ainda no avião que o levava para sua viagem pela Terra Santa, que teve início ontem na Jordânia, Bento 16 defendeu uma participação maior da Igreja Católica na mediação do processo de paz entre palestinos e israelenses.
Ele afirmou que gostaria de se engajar em um "diálogo trilateral" com judeus e muçulmanos. O papa fica até depois de amanhã na Jordânia, quando parte para a segunda etapa de sua "peregrinação", em Israel e territórios palestinos.
"É certo que eu vou tentar fazer uma contribuição para o processo de paz, não como um indivíduo, mas em nome da igreja, da Santa Sé", disse o papa a repórteres que o acompanhavam na viagem de Roma a Amã, capital da Jordânia.
Um integrante da igreja no Brasil diz estar entre os interesses imediatos da instituição nesta viagem o "reforço" de sua relevância "moral" e política no cenário internacional. Daí a iniciativa de Bento 16.
O papa disse na entrevista que as negociações de paz são frequentemente travadas pelo surgimento de posições sectárias, que podem ser superadas com a participação de um mediador como a Igreja Católica.
Ao chegar à Jordânia, Bento 16 continuou a ser cobrado por declarações suas de 2006 -quando, durante uma aula em universidade na Alemanha sobre fé e razão, citou um imperador bizantino do século 14 que criticava a violência do islã.
Questionado sobre o tema, o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, disse que a igreja já tinha feito todos os esclarecimentos possíveis sobre o episódio -à época, o papa se disse "profundamente sentido" por ter ofendido a sensibilidade de muitos muçulmanos.
Segundo o jornal britânico "The Guardian", em resposta à pergunta de um repórter ontem em Amã, Lombardi disse: "Não podemos continuar repetindo os mesmos esclarecimentos até o fim dos tempos".
Bento 16, por sua vez, já no território do primeiro país árabe que visita desde que se tornou papa, em 2005, afirmou que a viagem lhe "dava oportunidade" para expressar o seu "profundo respeito pela comunidade muçulmana".
No mesmo discurso, o pontífice louvou o rei Abdullah, da Jordânia, aliado dos EUA e que mantém relações estáveis com Israel, por seu trabalho na "promoção de uma melhor compreensão das virtudes proclamadas pelo islã".

Estado palestino
Durante as declarações de boas-vindas, o rei defendeu a existência do Estado palestino, uma questão difícil para este papa, já que seu anfitrião em Israel, o governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, é resistente à solução, tradicionalmente defendida por igreja, países europeus, ONU e países árabes, de dois Estados nacionais na região -um deles para os palestinos.
Com o acirramento das hostilidades entre israelenses e palestinos -entre outras coisas por causa da recente incursão do Estado judeu na faixa de Gaza, além da eleição do novo governo de direita naquele país-, qualquer declaração do papa Bento 16 que pareça um apoio da igreja a um dos lados no conflito pode ter consequências explosivas.
Hoje, na Jordânia, o papa visita uma mesquita e mais tarde participa de encontro com líderes religiosos muçulmanos.
A viagem também prevê a visita, em Israel, do Memorial do Holocausto, encontro com lideranças políticas israelenses e palestinas e a presença do pontífice num campo de refugiados, próximo a Belém.
O roteiro do périplo em grande medida reproduz viagem semelhante feita por João Paulo 2º, em 2000. Como seu antecessor, o líder da Igreja Católica visitará a cidade natal de Jesus Cristo (Belém) e os locais onde ele cresceu (Nazaré) e onde foi crucificado (Jerusalém), segundo a tradição.


Com agências internacionais


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