São Paulo, domingo, 09 de maio de 2010

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Mercados abrirão antes de eventual acordo

DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

A liderança conservadora admitiu ontem que é improvável que haja um novo governo no Reino Unido antes da abertura dos mercados amanhã cedo, o que, em tese, deixa a libra esterlina e outros ativos financeiros britânicos a mercê do apetite dos especuladores.
Os conservadores disseram, durante toda a campanha eleitoral, que a falta de maioria absoluta no Parlamento impediria a rápida formação de um governo e, por extensão, o início imediato do combate ao colossal deficit público, na altura de 163 bilhões de libras (cerca de R$ 440 bilhões).
Foi o que aconteceu quinta-feira: os conservadores ficaram com a maioria relativa das 650 cadeiras do Parlamento mas 19 assentos longe da maioria absoluta (326). Por isso, iniciaram na noite de sexta negociações com o Partido Liberal-Democrata (terceiro colocado, com 57 cadeiras) para formar ou um governo de coalizão ou, mais provavelmente, acertar um apoio externo.
A cronologia que autoriza a considerar correta a previsão dos conservadores é esta: ontem, o líder liberal Nick Clegg reuniu-se com os seus, primeiro com os principais parlamentares do partido, depois com a Comissão Executiva.
Hoje pela manhã, conservadores e liberais voltam a se reunir uns com os outros, mas, a princípio, sem a presença de Clegg e do líder conservador David Cameron.
Só amanhã é que a bancada conservadora faz a sua própria reunião, o que significa que, se houver acordo, ele só será ratificado na segunda-feira, com os mercados abertos e fazendo suas apostas.
Mas a linguagem cifrada empregada ontem pelos liberais dá a entender que uma boa aposta seria no acordo e não no rompimento das negociações, embora militantes do partido tenham desafiado a manhã gelada com uma manifestação à porta do QG partidário para pedir "Voto justo agora".
É uma alusão à reforma política para adotar um modelo proporcional que dê aos liberais uma fatia de assentos realmente correspondente aos votos obtidos (na quinta-feira, ficaram com 23% dos votos mas apenas 8% das cadeiras).
Megafone à mão, Clegg conversou com os manifestantes para dizer que entrou na política justamente para lutar pela reforma.
Como os conservadores resistem bravamente a uma mudança nos moldes desejados pelos liberais, o impasse poderia dinamitar o diálogo.
Mas David Laws, um dos principais negociadores liberais, disse, após a reunião de Clegg com os parlamentares do partido, que eles concordaram com o diálogo e, mais, "acham que a necessidade de um governo bom e estável vem antes de qualquer outro assunto".
Faz sentido, se se considerar a pressão dos mercados sobre toda a Europa, inclusive sobre o Reino Unido, que não usa o euro. Um parlamentar conservador, Liam Fox, foi claro ao dizer que "seria muito estranho se a formação de um governo se tornasse refém de um assunto que os eleitores não veem como prioritário".
Reforça a hipótese de acordo o fato de que qualquer outra alternativa seria mais complicada (e demorada), ainda mais depois de pesquisa que o "Sunday Times" divulga hoje mostrando que 62% dos britânicos querem que Gordon Brown renuncie de uma vez. (CR)

Para analista, ninguém venceu eleição no país
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