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Mercados abrirão antes de eventual acordo
DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
A liderança conservadora admitiu ontem que é improvável
que haja um novo governo no
Reino Unido antes da abertura
dos mercados amanhã cedo, o
que, em tese, deixa a libra esterlina e outros ativos financeiros
britânicos a mercê do apetite
dos especuladores.
Os conservadores disseram,
durante toda a campanha eleitoral, que a falta de maioria absoluta no Parlamento impediria a rápida formação de um governo e, por extensão, o início
imediato do combate ao colossal deficit público, na altura de
163 bilhões de libras (cerca de
R$ 440 bilhões).
Foi o que aconteceu quinta-feira: os conservadores ficaram
com a maioria relativa das 650
cadeiras do Parlamento mas 19
assentos longe da maioria absoluta (326). Por isso, iniciaram na noite de sexta negociações com o Partido Liberal-Democrata (terceiro colocado,
com 57 cadeiras) para formar
ou um governo de coalizão ou,
mais provavelmente, acertar
um apoio externo.
A cronologia que autoriza a
considerar correta a previsão
dos conservadores é esta: ontem, o líder liberal Nick Clegg
reuniu-se com os seus, primeiro com os principais parlamentares do partido, depois com a
Comissão Executiva.
Hoje pela manhã, conservadores e liberais voltam a se reunir uns com os outros, mas, a
princípio, sem a presença de
Clegg e do líder conservador
David Cameron.
Só amanhã é que a bancada
conservadora faz a sua própria
reunião, o que significa que, se
houver acordo, ele só será ratificado na segunda-feira, com os
mercados abertos e fazendo
suas apostas.
Mas a linguagem cifrada empregada ontem pelos liberais dá
a entender que uma boa aposta
seria no acordo e não no rompimento das negociações, embora militantes do partido tenham desafiado a manhã gelada com uma manifestação à
porta do QG partidário para pedir "Voto justo agora".
É uma alusão à reforma política para adotar um modelo
proporcional que dê aos liberais uma fatia de assentos realmente correspondente aos votos obtidos (na quinta-feira, ficaram com 23% dos votos mas
apenas 8% das cadeiras).
Megafone à mão, Clegg conversou com os manifestantes
para dizer que entrou na política justamente para lutar pela
reforma.
Como os conservadores resistem bravamente a uma mudança nos moldes desejados
pelos liberais, o impasse poderia dinamitar o diálogo.
Mas David Laws, um dos
principais negociadores liberais, disse, após a reunião de
Clegg com os parlamentares do
partido, que eles concordaram
com o diálogo e, mais, "acham
que a necessidade de um governo bom e estável vem antes de
qualquer outro assunto".
Faz sentido, se se considerar
a pressão dos mercados sobre
toda a Europa, inclusive sobre o
Reino Unido, que não usa o euro. Um parlamentar conservador, Liam Fox, foi claro ao dizer
que "seria muito estranho se a
formação de um governo se
tornasse refém de um assunto
que os eleitores não veem como
prioritário".
Reforça a hipótese de acordo
o fato de que qualquer outra alternativa seria mais complicada (e demorada), ainda mais
depois de pesquisa que o "Sunday Times" divulga hoje mostrando que 62% dos britânicos
querem que Gordon Brown renuncie de uma vez.
(CR)
Para analista, ninguém
venceu eleição no país
www.folha.com.br/101284
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