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Governo Zuma, 1, patina na África do Sul
Mandatário, que celebra um ano no poder, acumula críticas por não contrariar aliados, mas goza de crédito junto à massa
Táticas populistas bastaram para acalmar protestos logo no início do mandato, mas analista vê "bomba relógio social prestes a explodir"
FÁBIO ZANINI
DE JOHANNESBURGO
Ao completar o primeiro aniversário como presidente sul-africano, Jacob Zuma acumula
críticas pela fraca liderança e
dificuldade de contrariar aliados. A massa empobrecida, no
entanto, ainda lhe dá crédito.
O que é consensual entre admiradores e detratores é o fato
de Zuma ter tido um movimentadíssimo ano no poder.
O presidente teve um filho
fora dos muitos casamentos,
fez um teste público de Aids,
enfrentou megaprotestos e viu
um rapaz de 29 anos em seu
partido agir desgovernado, revivendo o espectro de um confronto racial. Nos intervalos,
gerenciou o final da preparação
do país para a Copa e encontrou
tempo para mediar a eterna crise no Zimbábue.
A maior dor de cabeça é Julius Malema, líder da ala jovem
da sigla governista, que no país
tem poder desproporcional
-basta dizer que foi nela, nos
anos 40, que Nelson Mandela
iniciou sua carreira.
"O presidente demorou muito a agir e só o fez quando era
tarde", diz Alana Bailey, vice-presidente do Afriforum, uma
ONG que defende direitos da
minoria africâner (descendentes de holandeses).
Em março, Malema desafiou
Zuma entoando uma antiga
canção de protesto cujo refrão
pede "mate o bôer", termo que
designa fazendeiros brancos.
Pouco depois, foi assassinado
em sua fazenda Eugene Terreblanche, líder de um grupo radical africâner, por um negro.
O crime aparentemente não
teve caráter político, mas cenas
associadas ao apartheid, com
cercas de arame farpado separando negros e brancos, retornaram. Zuma só então proibiu
Malema de cantar.
A relutância em puxar a orelha do jovem radical tem relação com o fato de Malema ter
apoiado Zuma em um momento constrangedor de sua Presidência. No início do ano, o
anúncio de que o presidente
havia tido um filho fora de seus
muitos casamentos escandalizou um país que enfrenta a pior
epidemia de Aids do mundo.
O presidente se desculpou,
aceitou que dava um mau
exemplo e conseguiu a façanha
de terminar seu primeiro ano
elogiado por ONGs de combate
à Aids. "Ele fez gestos importantes e rompeu de maneira
clara com a era do negacionismo", diz Katherine Tomlinson,
pesquisadora sênior da Treatment Action Campaign, principal ONG do setor.
A referência ao "negacionismo" remete ao governo do ex-presidente Thabo Mbeki
(1999-2008), que questionava a
ligação entre a doença e o vírus
HIV e receitava beterrabas para doentes, em vez de drogas de
efeito comprovado. O "gesto" é
o fato de Zuma ter aceitado se
testar em público, estímulo a
que homens façam o mesmo.
A economia foi uma sombra
permanente no período. Zuma
assumiu em meio à recessão
mundial e não teve tempo de
esquentar a cadeira antes de
protestos em favelas pararem o
país por duas semanas.
O presidente procurou ganhar os manifestantes na base
do carisma, visitando comunidades carentes e aparecendo de
surpresa na casa de prefeitos
indolentes para checar se já haviam saído para o trabalho.
Mais importante, manteve a
política econômica ortodoxa
que herdou. "O país manteve
seu bom desempenho na política monetária. A moeda se valorizou, e os juros puderam baixar, o que deve levar a um ciclo
de crescimento", afirma Eustace Davie, diretor da Free Market Foundation, um centro de
estudos sul-africano.
Para o segundo ano, a pauta é
geração de empregos, segundo
Davie. "Há uma bomba relógio
social prestes a explodir", diz.
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