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Radicalização marca rota de paquistanês
Educado e de classe média, autor do atentado frustrado de Nova York abraçou ideias extremistas nos últimos dois anos
Segundo relato de pessoas próximas, Faisal Shahzad teve de lidar com problemas financeiros e se enfureceu com ataques americanos
DO "NEW YORK TIMES"
O casamento deles foi arranjado: dois filhos de famílias paquistanesas proeminentes, jovens de bom nível educacional
cujo enlace foi intermediado
por um amigo comum.
Na cerimônia, seis anos atrás
em Peshawar, os homens e as
mulheres dançaram separadamente mas também juntos -
"naquela época, era algo raro",
recorda um convidado.
Quando voltaram aos EUA,
os colegas dele na fabricante de
cosméticos Elizabeth Arden
celebraram com uma pequena
festa no escritório.
O marido, Faisal Shahzad, tinha fotos da mulher, Huma
Mian, em sua mesa no escritório da Arden em Connecticut.
Os dois compraram uma casa
nova por US$ 273 mil, em Long
Hill Avenue, Shelton, a 55 km
da empresa. Quando se mudaram, Mian estava grávida, segundo vizinhos.
Enquanto transcorria mais
um dia do interrogatório de
Shahzad sobre o carro-bomba
que ele admitiu ter estacionado
na Times Square no dia 1º, surgiam novas notícias sobre o casal, acompanhadas por especulações quanto à radicalização
de Shahzad. Conhecidos dizem
que ele mudou nos últimos 12
meses, tornando-se cada vez
mais reservado e religioso.
No ano passado, relatam
amigos paquistaneses, ele chegou a pedir ao pai, Bahar ul-Haq, oficial reformado da Força Aérea paquistanesa, permissão para combater no Afeganistão. Haq recusou, segundo o relato, lembrando que o islã não
permite que um homem abandone mulher e filhos.
Um dos convidados das núpcias disse em e-mail enviado do
Paquistão que "não havia sinais
de que Shahzad fosse extremista". Mas foi nos dois últimos
anos, depois de mudar de emprego e ter dois filhos, que "começou a falar mais sobre o islã".
"A recessão os prejudicou",
disse o convidado, que não quis
ter seu nome publicado. O banco JPMorgan Chase recorreu à
Justiça para executar a hipoteca sobre a casa em Shelton, que
o casal abandonou às pressas,
deixando para trás brinquedos
e roupas.
Em fevereiro, ele alugou um
apartamento em Bridgeport,
Connecticut. O senhorio diz
que nunca viu sua mulher.
Shahzad, 30, parece ter seguido uma trajetória conhecida
de frustração, crescente religiosidade e, por fim, violência.
Nascido e criado no Paquistão, como parte de uma família
de classe média, teve formação
privilegiada.
Amigos da família dizem
acreditar que Haq esteja escondido no oeste do Paquistão, onde a família é dona de plantações de trigo. A mulher de
Shahzad, que, ao que se crê,
também está no Paquistão, tem
paradeiro desconhecido.
Nascida no Colorado em família de origem paquistanesa,
ela se casou com Shahzad pouco depois de se formar em contabilidade, em 2004, e se mudou para o Connecticut, onde
ele estava fazendo mestrado.
Os Shahzad não se relacionaram com os demais moradores
do quarteirão em Shelton.
Não se sabe onde, como ou
por que Shahzad veio a se radicalizar. Ahmad, o amigo oriundo de Mohib Banda, especulou
que a transformação pode ter
suas raízes em Karachi.
Um amigo de Shahzad foi detido em uma mesquita supostamente ligada a um grupo militante de Karachi, na terça.
"A questão é determinar
quem colocou Faisal nesse caminho", disse Ahmad. "O Faisal
barbudo que agora vemos é diferente do velho Faisal. Ele era
como você ou eu, bem apessoado, liberal e uma pessoa ativa".
Segundo o governo paquistanês, Shahzad viajou ao Paquistão 13 vezes nos últimos sete
anos. A queixa-crime apresentada contra ele na terça-feira
diz que retornou aos EUA em
fevereiro depois de uma estadia
de cinco meses no Paquistão.
Hostilidade anti-EUA
Outro amigo da família, Kifayat Ali, diz que Shahzad talvez
tenha se enraivecido com as
ações militares americanas e se
contaminado pela hostilidade
anti-EUA que reina no Paquistão. "A pessoa vê a brutalidade
no Afeganistão e Iraque. Essas
cenas a afetam", diz Ali.
Uma antiga executiva da Elizabeth Arden diz que Shahzad
nunca pediu pausas especiais
para suas orações. "Creio que
ele era um sujeito normal", ela
diz. "Mas não é sempre assim?
São sempre os normais, aqueles que você não acredita que
farão algo assim."
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