São Paulo, domingo, 9 de maio de 1999

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Kosovares dizem não querer se estabelecer nos EUA

RENATO FRANZINI
enviado especial a Fort Dix

A chance de se estabelecer e passar a trabalhar legalmente nos Estados Unidos não está seduzindo os integrantes da primeira leva de refugiados de Kosovo que desembarcou nos EUA nesta semana.
Anteontem, a Folha visitou a base militar onde os refugiados estão provisoriamente em Nova Jérsei (Costa Leste dos EUA), e vários pais de família disseram que voltariam a Kosovo se a Província ganhasse autonomia.
Expulsos pelos sérvios depois que o conflito na Iugoslávia começou em 24 de março, eles estavam morando em acampamentos em países próximos a Kosovo.
Para aliviar a situação desses países, já que o número de refugiados superou em muito os 100 mil esperados (chegando a mais de 800 mil), os EUA decidiram receber 20 mil kosovares, dando-lhes a chance de trabalhar no país.
"Estou feliz de estar aqui. Mas, no dia em que Kosovo estiver livre, volto", disse Mahmed Pillaha, 63, um dos 249 adultos do vôo fretado com 453 albaneses de Kosovo que desembarcou na base aérea de McGuire na quarta-feira.
Anteontem de manhã, o exército permitiu que alguns jornalistas falassem, com a ajuda de intérpretes, com as pessoas desse vôo. À tarde, o segundo vôo, com 407 pessoas, chegou à McGuire.
Ontem, estava prevista a chegada de mais 100 refugiados a Nova York e outros 3.000 são esperados durante a semana.
A base aérea McGuire fica no complexo militar de Fort Dix, uma cidade com 96.127 habitantes (quase todos militares), com hospital, igrejas, cinema e campos de golfe.
Os kosovares estão numa área cercada, com alojamentos, refeitório, playground e auditório, específica para receber refugiados. Ficarão ali por algumas semanas até ir para casas de parentes ou americanos dispostos a recebê-los. Pillaha diz que vai ficar na casa de uma filha sua que mora em Chicago. Ele foi expulso de Pristina (capital de Kosovo) em 28 de março.
Assim como ele, outros também não têm como prioridade ficar nos EUA, pelo menos nas declarações à imprensa. "Vir para cá foi um acaso. Quando puder eu volto", disse Ilir Hoxhe, produtor musical de uma rádio. Para o professor Selim Berusha, 60, "apesar de os Estados Unidos serem um grande país, Kosovo é minha terra".
Mas vai ser difícil para os adultos convencer as crianças a voltar. Enquanto pais e mãe, sérios, aproveitavam a presença dos jornalistas para falar em atrocidades do Exército sérvio (leia ao lado), as crianças brincavam e jogavam vôlei e futebol, com caras alegres, e dizendo "olá" para todos.
"Não tenho idéia se vou ficar por aqui. Só sei que as crianças estão felizes", disse o motorista de táxi Fadil Krasniqi, 46, pai do garoto Faton, 12, e da menina Filloreta, 5.
Além da hospitalidade dos militares americanos, os refugiados -que ficaram mais de um mês sem ter refeições quentes- elogiaram também a comida servida.
No almoço de sexta-feira, o Exército serviu para eles arroz, feijão, carne moída, salada mista, sopa, purê de batatas e pão. De sobremesa, frutas e bolachas.




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