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Kosovares dizem não querer se estabelecer nos EUA
RENATO FRANZINI
enviado especial a Fort Dix
A chance de se estabelecer e passar a trabalhar legalmente nos Estados Unidos não está seduzindo
os integrantes da primeira leva de
refugiados de Kosovo que desembarcou nos EUA nesta semana.
Anteontem, a Folha visitou a base militar onde os refugiados estão
provisoriamente em Nova Jérsei
(Costa Leste dos EUA), e vários
pais de família disseram que voltariam a Kosovo se a Província ganhasse autonomia.
Expulsos pelos sérvios depois
que o conflito na Iugoslávia começou em 24 de março, eles estavam
morando em acampamentos em
países próximos a Kosovo.
Para aliviar a situação desses países, já que o número de refugiados
superou em muito os 100 mil esperados (chegando a mais de 800
mil), os EUA decidiram receber 20
mil kosovares, dando-lhes a chance de trabalhar no país.
"Estou feliz de estar aqui. Mas,
no dia em que Kosovo estiver livre,
volto", disse Mahmed Pillaha, 63,
um dos 249 adultos do vôo fretado
com 453 albaneses de Kosovo que
desembarcou na base aérea de
McGuire na quarta-feira.
Anteontem de manhã, o exército
permitiu que alguns jornalistas falassem, com a ajuda de intérpretes,
com as pessoas desse vôo. À tarde,
o segundo vôo, com 407 pessoas,
chegou à McGuire.
Ontem, estava prevista a chegada
de mais 100 refugiados a Nova
York e outros 3.000 são esperados
durante a semana.
A base aérea McGuire fica no
complexo militar de Fort Dix, uma
cidade com 96.127 habitantes
(quase todos militares), com hospital, igrejas, cinema e campos de
golfe.
Os kosovares estão numa área
cercada, com alojamentos, refeitório, playground e auditório, específica para receber refugiados. Ficarão ali por algumas semanas até
ir para casas de parentes ou americanos dispostos a recebê-los. Pillaha diz que vai ficar na casa de uma
filha sua que mora em Chicago. Ele
foi expulso de Pristina (capital de
Kosovo) em 28 de março.
Assim como ele, outros também
não têm como prioridade ficar nos
EUA, pelo menos nas declarações
à imprensa. "Vir para cá foi um
acaso. Quando puder eu volto",
disse Ilir Hoxhe, produtor musical
de uma rádio. Para o professor Selim Berusha, 60, "apesar de os Estados Unidos serem um grande
país, Kosovo é minha terra".
Mas vai ser difícil para os adultos
convencer as crianças a voltar. Enquanto pais e mãe, sérios, aproveitavam a presença dos jornalistas
para falar em atrocidades do Exército sérvio (leia ao lado), as crianças brincavam e jogavam vôlei e
futebol, com caras alegres, e dizendo "olá" para todos.
"Não tenho idéia se vou ficar por
aqui. Só sei que as crianças estão
felizes", disse o motorista de táxi
Fadil Krasniqi, 46, pai do garoto
Faton, 12, e da menina Filloreta, 5.
Além da hospitalidade dos militares americanos, os refugiados
-que ficaram mais de um mês
sem ter refeições quentes- elogiaram também a comida servida.
No almoço de sexta-feira, o Exército serviu para eles arroz, feijão,
carne moída, salada mista, sopa,
purê de batatas e pão. De sobremesa, frutas e bolachas.
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