São Paulo, domingo, 9 de maio de 1999

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RELATO
Refugiado diz que teve 30 segundos para sair

Renato Franzini/Folha Imagem
Militar norte-americana com criança de Kosovo em Fort Dix


do enviado especial

Os relatos feitos pelos refugiados de Kosovo em Fort Dix mostram uma série de atrocidades que teriam sido cometidas contra eles pelas tropas sérvias.
Segundo os refugiados, a mais comum era a ameaça de morte que os soldados faziam quando expulsavam alguém de casa.
"O Exército sérvio deu 30 segundos para pegarmos nossas coisas e irmos embora. Colocaram uma arma na minha garganta e pegaram todo o meu dinheiro", disse Ilir Hoxhe, produtor musical de uma rádio de Pristina (capital da Província de Kosovo).
Hoxhe foi expulso em 1º de abril com a mulher, suas duas filhas (15 e 17 anos) e seu filho (19 anos). A família vivia numa casa de quatro quartos.
Na fila para pegar o trem para a Macedônia, disse que passou outro momento de tensão. Segundo ele, todos olham para a frente. Quem vira para o lado corre o risco de morrer.
O trem também foi o sofrimento para a família do motorista de táxi Fadil Krasniqi, 46, expulso também em 1º de abril. Ele disse que não havia mais vagas quando chegou à estação e eles tiveram de esperar, sem abrigo, o próximo trem na manhã seguinte.
"Estávamos tremendo de frio. Tive de colocar minha filha menor dentro do casaco para protegê-la", disse a mulher de Krasniqi, Elhame, 43, sobre a pequena Filloreta, 5
Krasniqi, 46, contou ainda que nos primeiros dias do conflito os sérvios tentaram simular um ataque da Otan a casas de albaneses.
Segundo ele, num dia em que a Otan atacava áreas próximas a Pristina (capital de Kosovo), viu soldados sérvios causarem a explosão de seis casas onde moravam pessoas de origem albanesa.
O taxista disse que os soldados encheram um carro com dinamite e o soltaram no alto da ladeira onde ele morava. Depois tentaram colocar a culpa na Otan.
Krasniqi conta também que ouviu de alguns passageiros que sérvios estariam estuprando mulheres de origem albanesa.
Um dia, disse, foi ameaçado de morte por passageiros sérvios.
O professor Selim Berusha, 60, disse que os sérvios chegaram atirando nos vidros de sua casa quando o expulsaram em 11 de abril. Ele disse que se escondeu no porão de casa por vários dias. Quando saiu, viu o corpo de um vizinho, morto a tiros, sendo lambido por um cachorro.




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