São Paulo, domingo, 9 de maio de 1999

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Ocidente ignora casos análogos a Kosovo



da Redação

As mesmas potências ocidentais que bombardeiam a Iugoslávia nunca demonstraram presteza para intervir em outros conflitos separatistas reprimidos pelo mundo.
Em casos análogos ao de Kosovo, não houve ameaça da Otan, mesmo em situações de emergência humanitária, que é a justificativa oficial para a intervenção na Iugoslávia. Por vezes, até a pressão diplomática ocidental foi tímida.
O caso mais emblemático é o separatismo curdo. Apesar de serem maioria numa área precisa, os curdos são violentamente reprimidos por Iraque e Turquia, que proíbe até o uso da língua curda.
O conflito na Turquia já matou cerca de 29 mil pessoas (15 vezes mais do que em Kosovo, antes da guerra) e gerou fluxo de dezenas de milhares de refugiados.
Mas, como a Turquia é membro da Otan e aliada estratégica dos EUA no Oriente Médio, o país foi poupado de retaliações.
O mesmo aconteceu com a remota (para o Ocidente) Indonésia, que invadiu a ex-colônia portuguesa de Timor Leste em 1975.
Apesar de a ONU ter condenado a invasão e reconhecido o direito dos timorenses à independência (o que não ocorreu com Kosovo), a Indonésia praticamente não sofreu sanção ocidental. Isso apesar de o conflito em Timor Leste ter causado a morte de mais de 200 mil pessoas desde a anexação.
A Otan certamente pode argumentar que a Indonésia está fora de sua área de atuação (o que não acontece com a Turquia).
Quem entrou na área de atuação da Otan (definida pelo seu secretário-geral como indo do Canadá ao Cazaquistão) foi a Tchetchênia. Essa pequena República desafiou a Rússia em 1991, declarando independência. De 94 a 96 esteve em guerra contra tropas russas. Cerca de 30 mil pessoas morreram.
O separatismo ainda é uma questão aberta, mas não se espera uma intervenção da Otan na região.



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