São Paulo, domingo, 9 de maio de 1999

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LONGE DE CASA
Ex-presidente paraguaio chegou a ficar 20 dias sem deixar seu apartamento em Camboriú e só sai com escolta
Cubas vive isolado em exílio brasileiro

Em imagem mostrada na TV, Lino Oviedo (à dir.) chega à Argentina LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, em Camboriú

O ex-presidente paraguaio Raúl Cubas Grau, asilado no Brasil desde o dia 30 de março, vive um exílio dentro do seu próprio apartamento de 300 metros quadrados na avenida Atlântica, o ponto mais valorizado do município de Camboriú (SC), à beira-mar.
Junto com seu mentor político, o general Lino Oviedo, Cubas teve de renunciar e abandonar o Paraguai após distúrbios desencadeados pelo assassinato de seu vice, Luis María Argaña. Oviedo, asilado na Argentina, e Cubas são acusados de envolvimento no crime.
Em mais de um mês, Cubas, que chegou a ficar 20 dias seguidos sem sair, foi só duas vezes à praia. Nas duas ocasiões, só deixou sua casa cercado de policiais federais.
As poucas outras ocasiões em que saiu de casa (a média é de duas ou três vezes por semana), ele próprio dirigiu em alta velocidade sua camionete Nissan vermelha, com placas do Paraguai, até pontos definidos previamente.
Mesmo estando dentro do seu carro, Raúl Cubas sempre está acompanhado de uma escolta à paisana.
A opção pela clausura partiu dele e de recomendações policiais. A liberdade fica por conta da sua mulher, Mirta, e das duas filhas, Cecilia, 23, e Silvia, 18. As três costumam passear sem seguranças.
Diferentemente de Mirta, que percorre o centro da cidade fazendo compras, o ex-presidente paraguaio é econômico.
Pela manhã, alguém lhe compra a Folha ou o "Diário Catarinense". Quando termina de ler um, ele troca pelo outro.
Além dos jornais, Cubas acompanha o mundo pela TV a cabo e pela revista "Veja".
Os passeios de Mirta não são vistos com bons olhos pela segurança da família. Na última terça-feira, a mulher de Cubas saiu quatro vezes apenas pela manhã e à tarde. Em uma delas, usando um vestido tigrado e acompanhada de Silvia e de uma amiga paraguaia, comprou roupas íntimas.
Ao sair de casa, nem olhou para outras vitrines existentes no percurso. Foi direto à loja Romântica.
Ao ser abordada pela Agência Folha, Silvia disse que ninguém na família (incluindo Cubas) iria falar. "Nós queremos levar uma vida normal", afirmou.
A busca da normalidade pode ser constatada pelo fato de Cecilia ter feito reserva no 3º ano do ensino médio do curso Positivo, localizado no centro da cidade.
O isolamento de Cubas já levou o prefeito da cidade, Leonel Pavan (PDT), a achar que o ex-presidente paraguaio havia viajado para outra cidade brasileira.
"Ele está completamente recolhido. Que eu saiba, não vê nem os amigos", disse Pavan.
Os únicos amigos que frequentam regularmente a casa do ex-presidente são uma família paraguaia, que entra pela garagem, onde deixa sua Cherokee branca.
Até dias atrás, a alimentação da família era sustentada por comida pedida pelo telefone. A predileção recaía nas pizzas de queijo e calabresa.
Ultimamente, as compras em supermercado e padaria indicam uma adesão à comida caseira. Na padaria, pães de queijo, frios, pizzas e tortas de maracujá são as preferências da família.
Os vizinhos raramente vêem Cubas, nem aqueles que em verões passados costumavam ir à praia com a família ou partilhar com o ex-presidente uma caipirinha.
Um deles se queixa da segurança, pois o corredor que dá acesso à garagem estaria vulnerável.
No final do corredor, há o elevador de serviço, que leva aos fundos dos apartamentos.
Em cada andar, o espaço entre o elevador e a porta do apartamento tem apenas dois metros, o que impede a presença de policiais.
De acordo com o vizinho, os policiais não têm como conhecer a fisionomia dos moradores, pois apenas quatro ou cinco famílias são proprietárias de apartamentos no prédio onde vive Cubas.



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