São Paulo, sábado, 09 de junho de 2001

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ELEIÇÃO

Comparecimento às urnas também foi alto, batendo recorde de eleição presidencial passada, segundo pesquisa

Pesquisa aponta vitória folgada de Khatami

ÁNGELES ESPINOSA
DO "EL PAÍS", EM TEERÃ

Centenas de garotas histéricas gritavam e cantavam slogans às portas do estádio Shohaday-e Haft-e. Se fosse numa cidade ocidental, não haveria dúvidas de que as adolescentes esperavam alguém como o cantor Rick Martin.
Mas isso foi Teerã no último dia da campanha eleitoral no Irã. O ídolo das meninas é um religioso de 57 anos que se tornou presidente em 1997. Ontem, quatro anos depois, Mohamad Khatami esperava repetir a arrasadora vitória que o levou à Presidência.
Quando ele votou, foi a mesma comoção. "Khatami, nós amamos você", cantaram seus partidários.
O resultado eleitoral só deve sair hoje à noite ou na manhã do domingo, mas, segundo as pesquisas divulgadas ontem, o presidente deve bater seu recorde. O instituto americano de pesquisas Zogby projetou 75% dos votos para Khatami, sete pontos percentuais a mais do que na votação de 1997. A agência oficial de notícias do Irã, a "Irna", apontou uma vitória por 74% e um comparecimento de 83% (76% foram às urnas na eleição passada). Devido às filas, a votação só terminou à meia-noite.
Para ser reeleito, Khatami precisava de uma votação maciça dos 5,6 milhões de novos eleitores com idade entre 15 e 19 anos. O principal bloco eleitoral do Irã é formado por pessoas com menos de 30 anos, que compõem cerca de 70% dos 69 milhões de habitantes do país. Para eles, a Revolução Islâmica (1979) não passa dos relatos dos mais velhos e dos slogans repetidos na escola ou nos meios de comunicação oficiais.
E que não se despreze o fator jovem: todos os maiores de 15 anos têm direito ao voto. Desde 1997, em razão do eleitorado juvenil, a cifra eleitoral aumentou em 5,6 milhões. Esse acréscimo, de 15%, elevou para 42,1 milhões o número de iranianos aptos a votar.
"O Irã pertence aos jovens", disse Khatami no último comício de campanha, diante de 20 mil adolescentes. "Os jovens precisam de habitação, precisam de trabalho, precisam de liberdade."
Cada uma de suas palavras foi recebida com entusiasmados aplausos. Quando citou a liberdade, contudo, os adolescentes que enchiam o estádio -um terço ocupado por meninas, separadas dos meninos- explodiram numa gritaria impossível de calar. Na falta de outras diversões, os eventos políticos se converteram em válvula de escape para as energias dos mais jovens. Durante três horas, eles aguentaram o intenso calor para ouvir e ver, por apenas dez minutos, o homem que soube encarnar seus desejos de mudança no país.
Os educados -há cerca de 1,5 milhão de universitários- e os cientes do que se passa pelo resto do mundo -quem não tem acesso à internet vê TV via satélite na casa de vizinhos ou recebe informações de algum familiar entre os 5 milhões de iranianos espalhados pelo planeta- já haviam eleito um caminho que o sistema islâmico não mais abrangia. Khatami e os reformistas compreenderam isso e, durante os últimos quatro anos, têm capitalizado sua capacidade de criar esperanças.
Embora ninguém duvide da vitória esmagadora de Khatami nas urnas, ela pode mais uma vez não ser suficiente para implantar seu projeto reformista.
Os conservadores ainda mantêm um controle rígido do poder, apoiados no líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei. Ao longo do primeiro mandato de Khatami, prenderam dezenas de reformistas próximos ao presidente e fecharam vários jornais dessa linha. São eles, e não os outro nove candidatos no pleito de ontem, os reais adversários do presidente iraniano.
Eles controlam o Judiciário, o Conselho dos Guardiães (órgão mais influente do país, formado por clérigos) e o aparato de segurança e não querem relaxar a rígida estrutura de poder instaurada pela Revolução Islâmica de 1979.


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