|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELEIÇÃO
Comparecimento às urnas também foi alto, batendo recorde de eleição presidencial passada, segundo pesquisa
Pesquisa aponta vitória folgada de Khatami
ÁNGELES ESPINOSA
DO "EL PAÍS", EM TEERÃ
Centenas de garotas histéricas
gritavam e cantavam slogans às
portas do estádio Shohaday-e
Haft-e. Se fosse numa cidade ocidental, não haveria dúvidas de
que as adolescentes esperavam alguém como o cantor Rick Martin.
Mas isso foi Teerã no último dia
da campanha eleitoral no Irã. O
ídolo das meninas é um religioso
de 57 anos que se tornou presidente em 1997. Ontem, quatro
anos depois, Mohamad Khatami
esperava repetir a arrasadora vitória que o levou à Presidência.
Quando ele votou, foi a mesma
comoção. "Khatami, nós amamos
você", cantaram seus partidários.
O resultado eleitoral só deve sair
hoje à noite ou na manhã do domingo, mas, segundo as pesquisas divulgadas ontem, o presidente deve bater seu recorde. O instituto americano de pesquisas
Zogby projetou 75% dos votos
para Khatami, sete pontos percentuais a mais do que na votação
de 1997. A agência oficial de notícias do Irã, a "Irna", apontou uma
vitória por 74% e um comparecimento de 83% (76% foram às urnas na eleição passada). Devido às
filas, a votação só terminou à
meia-noite.
Para ser reeleito, Khatami precisava de uma votação maciça dos
5,6 milhões de novos eleitores
com idade entre 15 e 19 anos. O
principal bloco eleitoral do Irã é
formado por pessoas com menos
de 30 anos, que compõem cerca
de 70% dos 69 milhões de habitantes do país. Para eles, a Revolução Islâmica (1979) não passa dos
relatos dos mais velhos e dos slogans repetidos na escola ou nos
meios de comunicação oficiais.
E que não se despreze o fator jovem: todos os maiores de 15 anos
têm direito ao voto. Desde 1997,
em razão do eleitorado juvenil, a
cifra eleitoral aumentou em 5,6
milhões. Esse acréscimo, de 15%,
elevou para 42,1 milhões o número de iranianos aptos a votar.
"O Irã pertence aos jovens", disse Khatami no último comício de
campanha, diante de 20 mil adolescentes. "Os jovens precisam de
habitação, precisam de trabalho,
precisam de liberdade."
Cada uma de suas palavras foi
recebida com entusiasmados
aplausos. Quando citou a liberdade, contudo, os adolescentes que
enchiam o estádio -um terço
ocupado por meninas, separadas
dos meninos- explodiram numa gritaria impossível de calar.
Na falta de outras diversões, os
eventos políticos se converteram
em válvula de escape para as energias dos mais jovens. Durante três
horas, eles aguentaram o intenso
calor para ouvir e ver, por apenas
dez minutos, o homem que soube
encarnar seus desejos de mudança no país.
Os educados -há cerca de 1,5
milhão de universitários- e os
cientes do que se passa pelo resto
do mundo -quem não tem acesso à internet vê TV via satélite na
casa de vizinhos ou recebe informações de algum familiar entre os
5 milhões de iranianos espalhados pelo planeta- já haviam eleito um caminho que o sistema islâmico não mais abrangia. Khatami
e os reformistas compreenderam
isso e, durante os últimos quatro
anos, têm capitalizado sua capacidade de criar esperanças.
Embora ninguém duvide da vitória esmagadora de Khatami nas
urnas, ela pode mais uma vez não
ser suficiente para implantar seu
projeto reformista.
Os conservadores ainda mantêm um controle rígido do poder,
apoiados no líder supremo do
país, o aiatolá Ali Khamenei. Ao
longo do primeiro mandato de
Khatami, prenderam dezenas de
reformistas próximos ao presidente e fecharam vários jornais
dessa linha. São eles, e não os outro nove candidatos no pleito de
ontem, os reais adversários do
presidente iraniano.
Eles controlam o Judiciário, o
Conselho dos Guardiães (órgão
mais influente do país, formado
por clérigos) e o aparato de segurança e não querem relaxar a rígida estrutura de poder instaurada
pela Revolução Islâmica de 1979.
Texto Anterior: Grafite Próximo Texto: Análise: Reformas dependem do apoio de conservadores Índice
|