São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

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FRANÇA

Se o centro-direita obtiver maioria parlamentar, o presidente governará sem a necessidade de "coabitar" com a esquerda

Bloco de Chirac é favorito nas legislativas

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

O centro-direita deve obter maioria de votos no primeiro turno das eleições legislativas na França, hoje, segundo as últimas pesquisas de opinião. Se o segundo turno, no próximo domingo, comprovar os resultados, terão chegado ao fim 20 anos de presença da esquerda no poder, iniciados desde a eleição do socialista François Mitterrand (1981).
A nova vitória do centro-direita, já majoritário no Senado, dará maioria parlamentar e um poder extraordinário ao presidente Jacques Chirac, reeleito em 5 de maio com 82,2% dos votos, inclusive da esquerda -que ajudou a elegê-lo, no segundo turno, para fazer frente ao candidato de extrema direita, Jean-Marie Le Pen.
A consolidação do centro-direita no poder na França representará também mais um trunfo para essa tendência política na Europa. A direita já venceu as eleições em Portugal, Itália, Espanha, Holanda e Dinamarca. A Alemanha é o próximo país onde o centro-esquerda vai enfrentar, nas eleições legislativas de setembro, o "furacão direitista".
Em termos de totalização de votos, o resultado aparenta estar apertado. Na apuração do instituto Ipsos, para o jornal "Le Figaro", a direita tem 40% das intenções de voto no primeiro turno de hoje, enquanto a esquerda alcança 36%. A Frente Nacional (FN), de Le Pen, chega a 12%.
No segundo turno, a direita também venceria, com 52% (contra 48% da esquerda), podendo obter, no resultado final, entre 339 e 381 cadeiras na Assembléia Nacional. A esquerda teria entre 174 e 216 deputados, e a FN, entre nenhuma e quatro cadeiras.
Para o instituto CSA, a direita conquistaria entre 350 e 410 cadeiras, enquanto a esquerda obteria entre 140 e 196. A FN teria entre nenhuma e duas cadeiras.
O instituto Ipsos qualifica como incertos os resultados em 126 dos 577 distritos eleitorais. Além disso, 29% dos entrevistados dizem que podem ainda mudar de candidato. A situação de dúvida deixou em alerta os líderes de um lado e de outro até o último momento da campanha, anteontem.
O primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin (centro-direita) pediu o "voto útil" para o seu bloco, a UMP (União pela Maioria Parlamentar), o mesmo de Chirac, reagindo à dispersão dos votos da direita para outras formações. "Não se enganem, votem nos candidatos da União", disse. O UMP deve ser o mais votado no primeiro turno, obtendo de 29% a 33,5%.
O primeiro secretário do Partido Socialista, François Hollande, pediu aos eleitores de esquerda que não se dispersem. "O primeiro turno será determinante para fixar nosso futuro por cinco anos", afirmou. O PS pode alcançar entre 22% e 26,5% dos votos.
O próprio Chirac, numa atitude que irritou líderes socialistas, utilizou a TV pública na última quarta-feira para pedir que os franceses não se abstivessem e dessem a ele "uma verdadeira maioria" parlamentar para poder "governar e agir".
Segundo o Ipsos, 51% dos entrevistados rejeitam uma nova coabitação política, o que aumenta as chances da direita.
Em seu último mandato presidencial, Chirac dividiu o poder com o primeiro-ministro socialista Lionel Jospin, que representava a maioria da esquerda na Assembléia Nacional.
A fim de evitar a coabitação, Chirac organizou, logo após as eleições presidenciais, o megapartido UMP, que reuniu outras forças de direita para unificar candidaturas nas legislativas.
A esquerda não foi tão bem sucedida e só obteve coalizão em 42 distritos com seus antigos parceiros da "esquerda plural" -o Partido Comunista, os Verdes e o Partido Radical de Esquerda. Ela também não soube capitalizar a energia política despertada por centenas de organizações de esquerda nas mobilizações populares que reuniram milhões de pessoas nas ruas da França contra Le Pen às vésperas do segundo turno das presidenciais.
A abstenção é outro desafio dos políticos. Existem cerca de 41 milhões de eleitores inscritos na França. No primeiro turno das eleições presidenciais, 28,4% deixaram de votar. O número caiu para 20,3% no segundo turno, depois da ampla mobilização contra a extrema direita. Nas legislativas, espera-se que a abstenção seja igualmente elevada.
Os eleitores vão escolher entre 8.456 candidatos, um recorde histórico. A inflação de concorrentes se deve ao sistema de financiamento dos partidos pelo Estado, que favorece a proliferação de candidaturas.
A dispersão dos votos enfraquece o resultado dos grandes partidos e propicia o avanço eleitoral de Le Pen. "É verdade que pode ocorrer, por causa da dispersão, uma situação que favoreça a extrema direita", afirmou Hollande.


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