São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

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Relatório sobre o Brasil critica a desigualdade

DA REDAÇÃO

O principal obstáculo para o desenvolvimento do Brasil continua sendo o elevado grau de concentração da renda, que se apresenta bem acima da média dos padrões internacionais. A afirmação consta do relatório (ao qual a Folha teve acesso) que a delegação brasileira, chefiada pelo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Marcus Vinicius Pratini de Moraes, levará à cúpula.
"Apesar da melhoria de muitos indicadores sociais, sabe-se que a concentração de renda no país ainda é muito acentuada e que os níveis médios de remuneração dos 10% mais pobres da população continuam muito baixos, em torno de US$ 17, o que compromete o nível de consumo alimentar", diz o documento, segundo o qual "morrem anualmente cerca de 80 mil crianças antes de completar um ano de idade e metade desses óbitos está relacionada com a fome e com a desnutrição". Denise Coitinho, 41, diretora da política de alimentação e nutrição do Ministério da Saúde, explica que a ONU considera que 50% da mortalidade infantil esteja ligada à desnutrição.
O padre João Roque Rohr, 61, vai divulgar em Roma o documento da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) "Exigências Evangélicas e Éticas de Superação da Miséria e da Fome", que alega que "as raízes da fome estão, especialmente, na distribuição iníqua da renda".
O representante da FAO no Brasil, José Tubino, 54, diz que a agência da ONU considera positivos alguns programas brasileiros, mas ressalta que "a FAO prefere as iniciativas de geração de emprego e renda em vez de políticas compensatórias".
Tubino critica o "efeito nocivo" das propagandas na mudança dos hábitos alimentares no Brasil. "Enquanto o produtor de leite enfrenta uma crise crônica por causa de preços baixos, o consumo de refrigerantes aumentou drasticamente nos últimos dez anos", diz.
"A educação alimentar nutricional talvez não esteja compensando suficientemente a força da publicidade, que tenta promover produtos comerciais que não são necessariamente produtos nutritivos", explica.
Para Flavio Luiz Schieck Valente, 53, que vai representar o Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional, "é fundamental que o Brasil apóie na cúpula a criação de um código de conduta sobre o direito humano à alimentação".
Os especialistas divergem quanto ao número de pessoas que não têm renda suficiente para garantir alimentação adequada no país.
De acordo com o Banco Mundial, o Brasil possui 15 milhões de miseráveis. São pessoas cuja renda não ultrapassa o equivalente a um dólar por dia.
O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) trabalha com o número de 22 milhões de indigentes. Chegou a essa cifra traçando uma linha abaixo da família mais pobre que satisfaz seu requerimento nutricional. O Instituto Cidadania (ONG ligada ao PT) estima em 44 milhões, e o Centro de Políticas Sociais da FGV tem o número mais alto: 50 milhões de pessoas extremamente pobres. (PDF)


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