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Sem-terra paraguaios pressionam Lugo a promover reforma
Movimentos sobem o tom, aumentam invasões e ameaçam mobilizar 150 mil antes da posse do esquerdista, em agosto
Organização de Luta pela Terra já levou à instalação de 26 acampamentos em quatro meses; ativistas exigem expropriação já
JOSÉ MASCHIO
ENVIADO ESPECIAL AO PARAGUAI
Movimentos sem-terra do
Paraguai subiram o tom de suas
declarações contra o latifúndio
para tentar se firmar como interlocutores preferenciais do
governo Fernando Lugo, esquerdista que assume a Presidência do país em agosto.
Exemplo dessa atitude está
em nota divulgada no final da
semana passada pela OLT (Organização de Luta pela Terra),
ligada à MCNOC (Mesa Coordenadora Nacional das Organizações Camponesas). O texto
exige ""terra paraguaia para os
paraguaios", como forma de
"recuperar nosso território".
Assinada por Aida Mabel Sosa, 26, e Miguel Angel Colman,
50, líderes da OLT, a nota reivindica ainda que o Indert (Instituto Nacional de Desenvolvimento Rural e Terras) exproprie, imediatamente, 5.800
hectares da cooperativa Agrícola, em Colonia Yguazu, um
projeto de colonizadores japoneses. ""Essa é uma área excedente, de terras da União que
não pode ficar com estrangeiros", afirmou Colman.
Segundo ele, os movimentos
sem-terra são autônomos, mas
preservam a "unidade na luta"
com a MCNOC. Organizada em
oito departamentos (Estados),
a OLT alia discurso forte contra
"latifundiários paraguaios e estrangeiros" a uma política de
mobilização que já levou à formação de 26 acampamentos
sem-terra desde fevereiro.
Mobilização
Roman Medina, 28, coordenador nacional da OLT e representante do departamento de
Ñeembucu (sul do Paraguai),
disse ser possível mobilizar 150
mil camponeses paraguaios em
""curto prazo" para pressionar
Lugo a fazer a reforma agrária.
A pressão sobre o futuro presidente já incomoda o empresariado rural. Juan Carlos Altieri, presidente da Fepama (Federação Paraguaia do Madeireiros), reagiu ao comunicado da OLT nos principais jornais do Paraguai. Apontou nas
mobilizações ""grave situação
de desafio à ordem" e "quebra
do Estado de Direito".
Ex-deputado federal e candidato derrotado ao governo de
Alto Paraná, Waldemar Zárate,
43, disse haver ""aproveitadores" que usam sem-terra para
extorquir fazendeiros. ""São
pessoas que não estão interessadas na reforma agrária, mas
em cobrar de fazendeiros para
mantê-los em paz."
Nas últimas eleições, em
abril, Zárate foi candidato a governador pelo minúsculo Eres
(Esperança de Renovação Social). Durante a campanha foi
apontado por jornais de Ciudad
del Este (capital de Alto Paraná) como ""aliciador" de sem-terra e de sem-teto.
Na última semana, Zárate
deu entrevista à Folha, já como
aliado do empresário Aparecido Donizete da Silva, dono de
6.600 hectares de terra em
Santa Rosa del Monday. Silva
disse ter convencido Zárate de
que a invasão não é a melhor
solução para a reforma agrária.
"Vamos ter que enfrentar esse tipo de gente como Zárate,
que fala uma coisa aos camponeses e se acerta com o latifúndio. Mas vamos fazer a reforma
agrária com terra para os paraguaios à revelia daqueles que
traírem as lutas dos trabalhadores", afirmou Colman.
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