São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2008

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Sem-terra paraguaios pressionam Lugo a promover reforma

Movimentos sobem o tom, aumentam invasões e ameaçam mobilizar 150 mil antes da posse do esquerdista, em agosto

Organização de Luta pela Terra já levou à instalação de 26 acampamentos em quatro meses; ativistas exigem expropriação já


JOSÉ MASCHIO
ENVIADO ESPECIAL AO PARAGUAI

Movimentos sem-terra do Paraguai subiram o tom de suas declarações contra o latifúndio para tentar se firmar como interlocutores preferenciais do governo Fernando Lugo, esquerdista que assume a Presidência do país em agosto.
Exemplo dessa atitude está em nota divulgada no final da semana passada pela OLT (Organização de Luta pela Terra), ligada à MCNOC (Mesa Coordenadora Nacional das Organizações Camponesas). O texto exige ""terra paraguaia para os paraguaios", como forma de "recuperar nosso território".
Assinada por Aida Mabel Sosa, 26, e Miguel Angel Colman, 50, líderes da OLT, a nota reivindica ainda que o Indert (Instituto Nacional de Desenvolvimento Rural e Terras) exproprie, imediatamente, 5.800 hectares da cooperativa Agrícola, em Colonia Yguazu, um projeto de colonizadores japoneses. ""Essa é uma área excedente, de terras da União que não pode ficar com estrangeiros", afirmou Colman.
Segundo ele, os movimentos sem-terra são autônomos, mas preservam a "unidade na luta" com a MCNOC. Organizada em oito departamentos (Estados), a OLT alia discurso forte contra "latifundiários paraguaios e estrangeiros" a uma política de mobilização que já levou à formação de 26 acampamentos sem-terra desde fevereiro.

Mobilização
Roman Medina, 28, coordenador nacional da OLT e representante do departamento de Ñeembucu (sul do Paraguai), disse ser possível mobilizar 150 mil camponeses paraguaios em ""curto prazo" para pressionar Lugo a fazer a reforma agrária.
A pressão sobre o futuro presidente já incomoda o empresariado rural. Juan Carlos Altieri, presidente da Fepama (Federação Paraguaia do Madeireiros), reagiu ao comunicado da OLT nos principais jornais do Paraguai. Apontou nas mobilizações ""grave situação de desafio à ordem" e "quebra do Estado de Direito".
Ex-deputado federal e candidato derrotado ao governo de Alto Paraná, Waldemar Zárate, 43, disse haver ""aproveitadores" que usam sem-terra para extorquir fazendeiros. ""São pessoas que não estão interessadas na reforma agrária, mas em cobrar de fazendeiros para mantê-los em paz."
Nas últimas eleições, em abril, Zárate foi candidato a governador pelo minúsculo Eres (Esperança de Renovação Social). Durante a campanha foi apontado por jornais de Ciudad del Este (capital de Alto Paraná) como ""aliciador" de sem-terra e de sem-teto.
Na última semana, Zárate deu entrevista à Folha, já como aliado do empresário Aparecido Donizete da Silva, dono de 6.600 hectares de terra em Santa Rosa del Monday. Silva disse ter convencido Zárate de que a invasão não é a melhor solução para a reforma agrária.
"Vamos ter que enfrentar esse tipo de gente como Zárate, que fala uma coisa aos camponeses e se acerta com o latifúndio. Mas vamos fazer a reforma agrária com terra para os paraguaios à revelia daqueles que traírem as lutas dos trabalhadores", afirmou Colman.


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