|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Referendo na Irlanda sela destino de Tratado da UE
País vota na quinta consulta sobre Tratado de Lisboa; "não" está na frente, diz pesquisa
Para vigorar, texto que modifica sistema de tomada de decisões do bloco precisa ser ratificado por todos
os 27 países da comunidade
DA REDAÇÃO
A três dias do referendo sobre o Tratado de Lisboa, o governo irlandês e os partidários
da adoção desse texto, que estabelece novas regras para o funcionamento da União Européia
(UE), intensificam seus esforços para evitar uma derrota.
Uma pesquisa do "Irish Times" mostra ganhos meteóricos para opositores do tratado.
Nas últimas semanas, o "não"
passou de 17% das intenções de
voto para 35%. Já o apoio ao
"sim" recuou de 35% para 30%.
Se os defensores das reformas na UE não conseguirem
reverter essa tendência, o novo
tratado, que valeria para os 27
países do bloco, terá de ser
abandonado ou pelo menos reformulado, pois o texto só entra
em vigor se for ratificado por
todos. A Irlanda é o único país
que vai submeter o texto a referendo. As 26 nações restantes
ou já o ratificaram ou pretendem fazê-lo via Parlamento.
A história de referendos sobre a UE não é das mais gloriosas para Bruxelas. Em 2001, os
próprios irlandeses rejeitaram
em votação popular o Tratado
de Nice. O documento acabou
sendo aprovado um ano depois
em novo referendo. Em 2005,
foi a vez de franceses e holandeses dizerem "não" à chamada
Constituição Européia. O projeto de criar uma Carta única
para os países da UE teve de ser
inteiramente reformulado.
O Tratado de Lisboa, de
2007, é o resultado dessa reformulação. Embora mais fraco do
que o anterior, o texto conserva
a idéia de substituir a unanimidade por maioria em certas decisões do bloco e obriga os países a adotar a Carta de Direitos
em seu sistema legal. Cria a figura do presidente do Conselho Europeu e reforça a diplomacia do bloco, com a instituição de um alto representante
de Relações Exteriores.
Dificuldades
Como sempre, a dificuldade
dos defensores do tratado é explicar à população o que significa aquele texto confuso, repleto
de emendas e protocolos. A impenetrabilidade é o maior aliado dos eurocéticos. Basta que
os responsáveis pela propaganda contrária sugiram que o texto conspira contra valores tradicionais do país para arregimentar legiões de adeptos.
No caso da Irlanda, uma coalizão entre a extrema-esquerda
e a extrema-direita vem logrando êxitos ao insinuar que a adoção do tratado comprometeria
a neutralidade do país e que
obrigaria esta nação ultracatólica a admitir o aborto.
Não obstante, os irlandeses
estão divididos. Muitos deles se
sentem em obrigação para com
o bloco, que ajudou a nação antes miserável a converter-se
num país de Primeiro Mundo.
Há 35 anos na UE, a Irlanda é,
com a possível exceção da Espanha, o país que mais se beneficiou com a associação, que já
lhe rendeu 40 bilhões em
transferências de Bruxelas.
Menos mensurável, mas não
menos importante, a associação serviu para modificar a auto-imagem do país, que deixou
de ser um exportador de mão-de-obra para converter-se num
pólo de atração. Na próxima
quinta, tudo estará na balança.
E a Europa aguarda ansiosa.
Texto Anterior: China: Novo tremor dificulta drenar lago Próximo Texto: Foco: Alvo de ataques e políticas antiimigração, ciganos protestam em Roma Índice
|