São Paulo, domingo, 09 de agosto de 2009

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Sem Uribe, Unasul enfrentará teste com reunião de amanhã

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

A reunião de Cúpula da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), amanhã, em Quito, Equador, será um teste para o organismo, que nasceu há pouco mais de um ano como foro de integração e pacificação da região, mas já enfrenta sua primeira crise interna, com a ausência da Colômbia e o temor de eventuais agressões da Venezuela e do próprio Equador ao país vizinho.
O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, vem sendo criticado pelo anúncio, sem prévio aviso, da ampliação da presença americana em bases militares colombianas. O pretexto é o combate ao narcotráfico, mas a desconfiança dos vizinhos, inclusive do Brasil, é que a intenção seja rivalizar com a aliança da Venezuela com Rússia e Irã.
Para Chávez, o acordo Colômbia-EUA foi "uma patada na Unasul", mas o Brasil rechaça esse tipo de reação. Defende que a questão seja discutida amanhã diplomaticamente, deixando os detalhes técnicos sobre as bases para o Conselho de Defesa, mais adiante.
Uribe enfrenta outro confronto: a Colômbia e o Equador suspenderam relações em março de 2008, depois de forças colombianas invadirem o país vizinho para aniquilar um acampamento e um líder das Farc.
A questão foi parar na OEA (Organização dos Estados Americanos), e Uribe só não ficou totalmente isolado porque os EUA não condenaram o ato.
Uribe alega que não pode pisar num país com o qual a Colômbia não tem relações, nem gostaria de ficar mais uma vez ilhado, desta vez pelos onze outros países da Unasul: Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Equador, Peru, Chile, Guiana, Suriname e Venezuela.
Outro detalhe: além de assumir um segundo mandato no Equador, Rafael Correa estará recebendo a presidência rotativa da Unasul, cargo que Uribe rejeitou alegando desconforto por causa da disputa com os equatorianos.
Assim, Uribe trocou a ida à cúpula por visitas a sete países sul-americanos, inclusive o Brasil, para tentar convencer de que a ampliação do acordo com Washington é apenas para combate ao narcotráfico, sem nenhum objetivo belicista ou intimidatório na região. Assegurou que as bases continuarão sob controle da Colômbia.
Além da defesa, Uribe também partiu para o ataque, reclamando que os vizinhos são muito mais condescendentes com a Venezuela e com Chávez, que comprou armas e aviões russos e é acusado pela Suécia de repassar às Farc lança-foguetes suecos vendidos no final da década de 1980 a Caracas.
Chávez nega, mas ele e Correa têm sido suspeitos de alimentar as Farc e de manter Uribe sob tensão -o que serve como argumento para a aproximação entre Colômbia e EUA.

Visita rápida
Lula e o chanceler Celso Amorim marcaram a ida para Quito para hoje à noite, com a disposição de passar lá o menor tempo possível. Amorim não vai participar da reunião de hoje de chanceleres, e Lula pretende voltar ao Brasil amanhã, logo depois do almoço.
São esperados apenas dois discursos, o de Correa como novo presidente da Unasul e o de Michelle Bachelet (Chile), que está transferindo o cargo. Mas a diplomacia brasileira não crê que Chávez vá ficar calado. Nesse caso, Lula se sentirá compelido a também discursar, em tom de pacificação.
Como formalidade, está prevista a criação de um conselho ministerial de combate ao narcotráfico e os de infraestrutura, desenvolvimento social e de educação e tecnologia. Deve também ser elaborada uma declaração conjunta sobre a crise econômica mundial, e o Conselho de Saúde, já criado, vai analisar ações coordenadas de combate à gripe A (H1N1).
A Unasul foi criada por um tratado em maio de 2008. A ambição é que seja seguida de um Parlamento, um banco central e até uma moeda única.


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