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ANÁLISE
Com presença na Colômbia, EUA visam rotas do petróleo
Aumento da presença militar no país aliado segue roteiro gestado há pelo menos cinco anos, ainda sob Bush; estratégia altera cenário de segurança na Amazônia
LUIZ ALBERTO MONIZ BANDEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
O projeto de instalar e ampliar as instalações militares
dos EUA no território da Colômbia foi elaborado durante o
governo do presidente George
W. Bush, diante da perspectiva
de fechamento da Forward
Operating Location (FOL), isto
é, da base militar instalada em
Manta, no Equador, previsto
para 2009.
Desde que o presidente Rafael Correa anunciou que não
renovaria o acordo com os
EUA, o Comando Sul das Forças Armadas americanas passou a excogitar a transferência
da FOL, instalada em Manta,
para a base aérea de Palanquero, em Puerto Salgar, cerca de
190 km ao norte de Bogotá.
Essa base aérea pode albergar mais de 2.000 homens e
possui uma série de radares,
além de cassinos, restaurantes,
supermercados, hospital e teatro. E a pista do aeroporto, a
mais longa da Colômbia, tem
3.500 metros de longitude, 600
metros maior que a de Manta, e
permite a partida simultânea
de até três aviões.
Os EUA terão assim um ponto de apoio, no centro da Colômbia, ainda melhor que o de
Manta, com o Forward Operating Location, com a instalação
de três bases militares nas localidades de Malambo, na costa
do Caribe, Palanquero, próxima a Bogotá, e de Apiay, na
Amazônia, na região fronteiriça com o Brasil e conhecida como Cabeça de Cachorro.
Novo componente
Em 2004, com a Iniciativa
Andina Antidrogas, Bush já havia expandido o Plano Colômbia como um dos aspectos da
estratégia dos EUA para assegurar sua presença militar na
América do Sul e, em particular, na Amazônia.
E o Congresso americano
aprovou a duplicação do número de soldados estacionados na
Colômbia, que subiu de 400 para 800; o de mercenários (ex-militares) empregados pelas
companhias militares, mediante as quais o Pentágono terceiriza as funções militares, aumentou de 400 para 600.
Esses militares e mercenários americanos adestram e
apoiam os cerca de 17 mil soldados que executaram o Plano
Patriota, ampla ofensiva de
contrainsurgência nas selvas
no sul da Colômbia.
Com razão, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, em
sua obra "Desafios Brasileiros
na Era dos Gigantes", apontou
"a crescente presença de assessores militares americanos e a
venda de equipamentos sofisticados às Forças Armadas colombianas, pretensamente para apoiar os programas de erradicação das drogas, mas que podem ser, fácil e eventualmente,
utilizados no combate às Farc e
ao ELN", como um componente relativamente novo na questão de segurança da Amazônia.
Embora o governo dos EUA
apresente o combate ao narcotráfico e ao terrorismo para justificar a concessão anual de
US$ 700 milhões à Colômbia, a
maior parte como assistência
militar, um dos seus principais
objetivos é proteger os oleodutos, sobretudo o de Caño Limón, já explodido cerca de 79
vezes, a fim de assegurar os suprimentos futuros de petróleo
e inspirar confiança aos investidores estrangeiros.
É nessa região, a do oleoduto
de Caño Limón, operado pela
Occidental Petroleum e pela
Royal Dutch/Shell, em Arauca,
onde se concentra a maior parte dos assessores militares dos
EUA e ocorrem as maiores violações de direitos humanos.
Militarização
Em 2009, a ajuda militar
concedida à Colômbia, desde
2004, deve alcançar os US$ 3,3
bilhões. E assim, com os recursos dos EUA, o Exército da Colômbia se tornou o maior e o
mais bem equipado, relativamente, da América do Sul.
Com população de 44 milhões de habitantes, a Colômbia possui um contingente militar de cerca de 208,6 mil efetivos, enquanto o Brasil, com 8,5
milhões de quilômetros quadrados e mais de 190 milhões
de habitantes, tem um contingente de somente 287.870, e a
Argentina, com 40 milhões de
habitantes e um território de
2,7 milhões de quilômetros
quadrados, tem um efetivo de
apenas 71.655.
A Colômbia, com um PIB de
US$ 320,4 bilhões (2007 est.),
de acordo com a paridade do
poder de compra, destina 3,8%
aos gastos militares, enquanto
o Brasil, cujo PIB é de US$
1,838 trilhões (2007 est.), gasta
apenas 1,5%, e a Argentina, com
um PIB de US$ 523,7 bilhões
(2007 est.), gasta apenas 1,1%.
Em 2005, o Congresso estipulou para a região uma ajuda
econômica de US$ 9,2 milhões
e cerca de US$ 859,6 milhões
para assistência militar.
Entretanto, desde o lançamento do Plano Colômbia, no
ano 2000, o Exército colombiano recebeu US$ 4,35 bilhões
para combater as guerrilhas, e
os soldados e policiais cometeram crescente número de assassinatos e abusos de direitos
humanos -durante um período de cinco anos, que terminou
em junho de 2006, o número de
execuções extrajudiciais aumentou em mais de 50% em relação ao período anterior.
LUIZ ALBERTO MONIZ BANDEIRA é cientista
político, professor titular (aposentado) da Universidade de Brasília e autor de várias obras, entre as quais "Formação do Império Americano (Da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque)".
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