|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governo diz que invasões vão acabar
DA REDAÇÃO
O governo do Zimbábue disse
anteontem que vai agir rapidamente para remover negros que
ocupam ilegalmente fazendas de
propriedade de brancos, mas analistas políticos se dizem bastante
céticos em relação às intenções do
presidente Robert Mugabe.
Em acordo anunciado em Abuja (Nigéria), o Zimbábue se comprometeu a pôr fim à invasão de
terras. O Reino Unido, ex-metrópole colonial, aceitou co-financiar
um fundo de compensações, administrado pelas Nações Unidas,
para fazendeiros brancos cujas
terras sejam entregues à maioria
negra de forma ordenada.
"É um comprometimento do
Zimbábue [encerrar as ocupações" e um comprometimento do
Reino Unido e da comunidade internacional ajudar o país em sua
distribuição de terras", afirmou o
chanceler Stan Mudenge.
A crescente pressão internacional e a grave crise econômica que
o Zimbábue enfrenta explicam
por que Mugabe, 77, aceitou
anunciar o fim das invasões fundiárias, segundo analistas políticos, que lembram que ele já ignorou acordos prévios.
"Ele agiu por causa da pressão
internacional e da economia. Não
tinha outra opção. Resta saber se
ele realmente tomou uma decisão", diz Emmanuel Magade,
analista político e professor de direito na Universidade do Zimbábue. "Para Mugabe, trata-se de reforçar o poder político, e ainda
não há nada de concreto."
Nesta semana, com o presidente
Thabo Mbeki (África do Sul) à
frente, líderes regionais vão participar em Harare de uma cúpula
com Mugabe sobre a questão.
Campanha de violência
Ao menos nove fazendeiros
brancos morreram, trabalhadores negros foram atacados e milhares de pessoas tiveram de deixar suas casas devido à violência
no país, desencadeada pela campanha de Mugabe para permanecer no poder, segundo analistas.
Em fevereiro de 2000, Mugabe
não conseguiu aprovar referendo
para reformar a Constituição e
ampliar seus poderes. Desde a
derrota, passou a incitar a violência contra fazendeiros brancos de
origem britânica e a repressão
contra oposicionistas.
De acordo com a versão oficial,
são veteranos da guerra de independência que dirigem o movimento, mas correspondentes internacionais que se encontram no
Zimbábue dizem que os invasores
de fazendas são jovens demais para ter participado da guerra de libertação na década de 1970.
Muitas vezes, os invasores chegam às propriedades em veículos
da Zanu-PF -partido que está no
poder desde a independência do
Zimbábue, em 1980.
"Esperamos que o tratado seja
implementado totalmente, pois
nós o consideramos um marco
em direção à paz e à justiça", diz
Malcolm Vowles, porta-voz da
Sindicato dos Fazendeiros Comerciais, que agrupa 4.500 pessoas que detêm 30% das terras
produtivas do país.
"Damos boas-vindas à iniciativa como um grande passo, mas o
teste verdadeiro será Mugabe e
seu governo levarem isso adiante", argumenta Morgan Tsvangirai, líder do MDC (Movimento
para a Mudança Democrática),
principal partido oposicionista.
"É importante que a comunidade internacional mantenha a
pressão e garanta que o acordo
realmente sirva de base para ajudar a resolver a crise."
Segundo o acordo anunciado
na Nigéria, "como resultado de
injustiças históricas, a atual distribuição de terras [no Zimbábue"
precisa ser retificada de forma
transparente e equitativa".
Para isso, os líderes africanos
reunidos em Abuja pedem "respeito aos direitos humanos e à democracia" e dizem que "o programa de reforma agrária é fundamental para a solução do problema". O tratado determina ainda
garantias à liberdade de expressão
e "uma ação firme contra a violência e a intimidação".
(PDF)
Texto Anterior: África: Brancos do Zimbábue se dizem perseguidos Próximo Texto: Trabalho: Jornada de 35 horas amplia lazer na França Índice
|