São Paulo, domingo, 09 de setembro de 2001

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Governo diz que invasões vão acabar

DA REDAÇÃO

O governo do Zimbábue disse anteontem que vai agir rapidamente para remover negros que ocupam ilegalmente fazendas de propriedade de brancos, mas analistas políticos se dizem bastante céticos em relação às intenções do presidente Robert Mugabe.
Em acordo anunciado em Abuja (Nigéria), o Zimbábue se comprometeu a pôr fim à invasão de terras. O Reino Unido, ex-metrópole colonial, aceitou co-financiar um fundo de compensações, administrado pelas Nações Unidas, para fazendeiros brancos cujas terras sejam entregues à maioria negra de forma ordenada.
"É um comprometimento do Zimbábue [encerrar as ocupações" e um comprometimento do Reino Unido e da comunidade internacional ajudar o país em sua distribuição de terras", afirmou o chanceler Stan Mudenge.
A crescente pressão internacional e a grave crise econômica que o Zimbábue enfrenta explicam por que Mugabe, 77, aceitou anunciar o fim das invasões fundiárias, segundo analistas políticos, que lembram que ele já ignorou acordos prévios.
"Ele agiu por causa da pressão internacional e da economia. Não tinha outra opção. Resta saber se ele realmente tomou uma decisão", diz Emmanuel Magade, analista político e professor de direito na Universidade do Zimbábue. "Para Mugabe, trata-se de reforçar o poder político, e ainda não há nada de concreto."
Nesta semana, com o presidente Thabo Mbeki (África do Sul) à frente, líderes regionais vão participar em Harare de uma cúpula com Mugabe sobre a questão.

Campanha de violência
Ao menos nove fazendeiros brancos morreram, trabalhadores negros foram atacados e milhares de pessoas tiveram de deixar suas casas devido à violência no país, desencadeada pela campanha de Mugabe para permanecer no poder, segundo analistas.
Em fevereiro de 2000, Mugabe não conseguiu aprovar referendo para reformar a Constituição e ampliar seus poderes. Desde a derrota, passou a incitar a violência contra fazendeiros brancos de origem britânica e a repressão contra oposicionistas.
De acordo com a versão oficial, são veteranos da guerra de independência que dirigem o movimento, mas correspondentes internacionais que se encontram no Zimbábue dizem que os invasores de fazendas são jovens demais para ter participado da guerra de libertação na década de 1970.
Muitas vezes, os invasores chegam às propriedades em veículos da Zanu-PF -partido que está no poder desde a independência do Zimbábue, em 1980.
"Esperamos que o tratado seja implementado totalmente, pois nós o consideramos um marco em direção à paz e à justiça", diz Malcolm Vowles, porta-voz da Sindicato dos Fazendeiros Comerciais, que agrupa 4.500 pessoas que detêm 30% das terras produtivas do país.
"Damos boas-vindas à iniciativa como um grande passo, mas o teste verdadeiro será Mugabe e seu governo levarem isso adiante", argumenta Morgan Tsvangirai, líder do MDC (Movimento para a Mudança Democrática), principal partido oposicionista.
"É importante que a comunidade internacional mantenha a pressão e garanta que o acordo realmente sirva de base para ajudar a resolver a crise."
Segundo o acordo anunciado na Nigéria, "como resultado de injustiças históricas, a atual distribuição de terras [no Zimbábue" precisa ser retificada de forma transparente e equitativa".
Para isso, os líderes africanos reunidos em Abuja pedem "respeito aos direitos humanos e à democracia" e dizem que "o programa de reforma agrária é fundamental para a solução do problema". O tratado determina ainda garantias à liberdade de expressão e "uma ação firme contra a violência e a intimidação". (PDF)



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