São Paulo, domingo, 09 de setembro de 2001

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EUA
Estudo em escolas públicas de Minnesota indica que quase 9% das garotas e 6% dos rapazes já sofreram abusos de colegas

Violência e estupro entre jovens alarma americanos

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Quase 9% das garotas e exatos 6% dos rapazes da oitava série do ensino fundamental e da terceira série do ensino médio de escolas públicas do Estado americano de Minnesota já foram vítimas de violência ou de estupro em encontros com pessoas que conheciam, segundo um estudo exposto há duas semanas na Associação Americana de Psicologia.
As responsáveis pela pesquisa, realizada em 1998, também descobriram que as vítimas de ambos os sexos tinham mais chances de apresentar problemas emocionais, incluindo inclinação ao suicídio e distúrbios alimentares, do que os outros jovens.
Com quase 6% dos estudantes de ambos os sexos relatando alguma forma de violência relacionada a encontros já na oitava série do ensino fundamental, existe a necessidade de iniciar os esforços preventivos antes do ensino médio, segundo a principal autora do estudo, a doutora em psicologia Diann Ackard.
"Medidas preventivas têm de ser tomadas antes de os adolescentes chegarem ao ensino médio. Isso porque os pais podem desempenhar um papel crucial na prevenção desse tipo de violência", declarou Ackard à Folha.
"Afinal, eles podem conversar sobre relações afetivas com seus filhos e funcionam como modelo de conduta para os adolescentes no que se refere a relações verbais, físicas e sexuais entre duas pessoas. As autoridades também deveriam participar desse esforço, pois podem deter os jovens infratores, fazendo com que os níveis de reincidência sejam mais baixos", acrescentou.
Enquanto estudos similares precedentes chegaram a conclusões parecidas no que concerne às adolescentes, o trabalho de Ackard e da doutora em nutrição e saúde pública Dianne Neumark-Sztainer, da Universidade de Minnesota, mostrou originalidade ao examinar as experiências de jovens do sexo masculino. Contudo ele não esclarece se os adolescentes sofreram abusos de pessoas do mesmo sexo ou não.
"Os rapazes tendem a falar mais em violência física em encontros, não em estupro. Na verdade, a possibilidade de que as jovens agridam seus parceiros não nos surpreende. Entretanto também é possível que os jovens tenham sofrido abusos quando estavam com outros rapazes. Nossa pesquisa não tem dados apropriados para responder a essa questão", explicou a psicóloga, que tem um consultório particular em Golden Valley, a leste de Minneapolis.

Amostra significativa
A pesquisa é ainda mais importante em razão do tamanho da amostra utilizada por Ackard e Neumark-Sztainer: 81.247 estudantes. O grupo não é perfeitamente ilustrativo da diversidade da população americana, porém, graças ao tamanho da amostra, pode ser transposto para Estados americanos com populações similares. Estudos precedentes utilizaram amostras que não passavam de 5.000 adolescentes.
"A amostra é enorme, no entanto quase 95% dos entrevistados eram brancos. Assim, os resultados só podem ser estendidos a Estados americanos que têm uma composição demográfica similar, como outros do Meio-Oeste. Indiana e Iowa são dois bons exemplos", afirmou Ackard.
No início de agosto, Jay Silverman, da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, publicou um estudo no "Journal of the American Medical Association" em que afirmava que cerca de 20% das estudantes do ensino médio do Estado de Massachusetts tinham sofrido abusos físicos ou sexuais em encontros. Ele utilizou como amostra 4.163 estudantes de escolas públicas.
"O estudo de Silverman chegou a conclusões similares às de nosso estudo no que diz respeito a garotas que sofreram abuso sexual em encontros, pois as jovens entrevistadas por ele também demonstraram ter tendência a distúrbios alimentares e a pensamentos suicidas", explicou Ackard.
"Entretanto a pesquisa dele não incluiu rapazes. Além disso, os níveis de violência em encontros são substancialmente mais altos em seu estudo do que no nosso, 20% contra 10%. Isso se deve a dois fatores. Primeiro, à forma como as questões foram formuladas. Segundo, às diferenças demográficas existentes entre Minnesota e Massachusetts."
Na pesquisa realizada em Minnesota, não havia uma definição dos termos "violência em encontros" e "estupro em encontros". "Isso significa que os estudantes tinham o direito de interpretar os termos. Pesquisas futuras deverão incluir as definições objetivas de cada termo. Com isso, poderemos ter uma noção mais clara do problema", disse Ackard.

Consequências graves
A relação existente entre abusos em encontros e distúrbios alimentares ou tendências suicidas é muito preocupante, de acordo com a psicóloga. Afinal, mais de 50% dos jovens que disseram ter sido vítimas tanto de violência quanto de estupro em encontros (3% das garotas entrevistadas e 2,2% dos rapazes) também afirmaram já ter tentado suicidar-se.
"A natureza de nosso estudo não era longitudinal. Assim, não podemos relacionar com certeza as causas e os efeitos. Contudo, entre as pessoas que relataram violência e estupro em encontros, os índices de distúrbios alimentares, como sintomas de bulimia ou de anorexia, foram bastante altos", apontou Ackard.
"Ademais, as tentativas de suicídio foram muito mais frequentes entre os jovens desse grupo. Eles também apresentaram problemas relacionados à auto-estima e ao bem-estar emocional. Tudo isso é bastante preocupante."
Ackard e Neumark-Sztainer concluíram que experiências traumáticas durante encontros com pessoas conhecidas podem provocar o rompimento de processos de desenvolvimento normais dos adolescentes. De acordo com elas, esse rompimento se manifesta em pensamentos, sentimentos e comportamentos. Elas exortam outros pesquisadores a conduzir estudos que explorem os efeitos das experiências traumáticas nos adolescentes.
A pesquisa foi muito bem acolhida pela Associação Americana de Psicologia após a apresentação feita por Ackard, em 26 de agosto. "A maioria dos psicólogos que me procuraram expressou preocupação quanto à saúde e ao bem-estar dos jovens. Buscamos reduzir o problema", concluiu a psicóloga.


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