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ARTIGO
Passado não autoriza Bush a desqualificar Kerry
NICHOLAS KRISTOF
DO "NEW YORK TIMES"
O presidente Bush afirma que,
no outono de 1972, cumpriu seu
serviço militar na Guarda Aérea
Nacional numa base no Alabama.
Mas Bob Mintz estava lá -e tem
certeza de que Bush não estava.
Muitos outros oficiais da base
também já disseram não se lembrar de nenhuma instância em
que Bush tenha estado presente
em treinamentos conduzidos na
base. O que é diferente, no caso de
Mintz, é que ele se recorda de ter
procurado Bush.
Mintz diz que ouviu falar que
Bush tinha sido transferido para a
base. Bush era descrito como um
jovem piloto texano com influência política. Ele ouviu que Bush
era solteiro, como ele, então estava interessado em tê-lo como
companheiro de farras. Ele diz estar certo de que se recordaria se
Bush tivesse comparecido.
"Tenho certeza de que eu o teria
visto", afirmou Mintz ontem. "É
uma unidade pequena, e não dá
para entrar ou sair sem ser visto."
Havia apenas entre 25 e 30 pilotos
na base, e Bush -filho de um embaixador dos EUA na ONU e ex-namorado de Tricia Nixon- teria chamado a atenção.
Até agora eu vinha evitando comentar como Bush escapou do
serviço militar no Vietnã, porque
achava que outras questões eram
mais importantes. Mas, se os partidários de Bush atacam John
Kerry por sua conduta depois de
ele ter se oferecido como voluntário para cumprir missões perigosas no Vietnã, é apenas justo examinar de perto o comportamento
do atual presidente.
Não é uma visão agradável.
Bush foi salvo de cumprir serviço
militar ativo e de ser enviado ao
Vietnã apenas depois de o presidente do Legislativo do Texas ter
interferido a seu favor, graças à
influência de sua família.
Em maio de 1968, Bush assumiu
um compromisso de seis anos
com as Forças Armadas para que
fosse treinado como piloto. Depois de menos de dois anos, porém, ele parou repentinamente de
voar, deixou de comparecer a
seus exames físicos e pediu transferência para o Alabama. Nunca
mais pilotou um avião militar.
Bush afirma que, depois de mudar-se para o Alabama, em 1972,
cumpriu seu serviço militar obrigatório na Base Dannelly da
Guarda Aérea Nacional, em
Montgomery (embora diga que
não se recorda do que fez por lá).
O único oficial da base que se lembra de Bush por lá foi apresentado
pela Casa Branca. Ele lembra da
presença de Bush até mesmo em
momentos em que o próprio
Bush admite que não estava lá.
Já Bob Mintz é uma testemunha
convincente. Ele serviu nas Forças
Armadas de 1959 a 1984. Piloto
comercial, ele hoje é democrata,
mas foi republicano durante a
maior parte de sua vida e não é
contra Bush. Quando lhe perguntei se a polêmica suscita dúvidas
quanto à credibilidade de Bush,
Mintz respondeu: "Isso cabe ao
povo americano decidir".
Outra testemunha digna de crédito é Leonard Wallis, um coronel
aposentado da Força Aérea que,
na época, era instrutor de pilotos
na base, em regime de tempo integral. "Eu ficava lá praticamente
todo dia", disse Wallis, acrescentando: "Nunca o vi [Bush], e olhe
que estive lá continuamente entre
julho de 1972 e julho de 1974".
Wallis, que se descreve como desinteressado em política, acrescentou: ""Se ele tivesse estado lá
mais de uma vez, eu o teria visto".
"Os registros provam de maneira clara que ele não cumpriu as
obrigações que assumiu quando
se alistou na Guarda Aérea Nacional", escreve o coronel da reserva
Gerald Lechliter, que fez a análise
mais meticulosa que já vi do registro de Bush. Lechliter acrescenta
que, segundo documentos divulgados pela Casa Branca, Bush recebeu pagamentos não autorizados ou fraudulentos que violaram
normas da Guarda Nacional.
Será que tudo isso torna George
W. Bush desqualificado para ser
comandante chefe? Não. Mas deve desqualificar sua campanha da
tentativa de difamar o histórico
militar de um rival que ainda carrega na coxa estilhaços de bomba
da Guerra do Vietnã.
Tradução de Clara Allain
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