São Paulo, quinta-feira, 09 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IRAQUE SOB TUTELA

Kerry ataca despesas de Bush no Iraque; presidente diz que há avanços na guerra ao terrorismo global

EUA admitem gravidade da crise iraquiana

Ali Jasim/Reuters
Soldado dos EUA passa por veículo militar em chamas após ataque a comboio americano (Bagdá)


FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Ao mesmo tempo em que perdem para os rebeldes o controle de cidades importantes no Iraque e que contabilizam mais de mil americanos mortos, os EUA estão cada vez mais longe dos objetivos da reconstrução iraquiana.
Nos últimos dias, os insurgentes no Iraque tomaram regiões inteiras no centro do país, segundo o Pentágono. Pela primeira vez, o Pentágono admitiu que talvez não tenha condições de recuperar essas áreas antes final do ano.
O candidato democrata à Presidência, John Kerry, usou o Iraque como tema principal de sua campanha. "O presidente [George W. Bush] está gastando US$ 200 bilhões no Iraque, enquanto 8 milhões de americanos estão sem emprego", afirmou. Bush disse que os EUA "velariam cada soldado morto" no Iraque e que o país "avança" na guerra ao terror.
Com cidades como Ramadi, Fallujah, Baquba e Samarra sob controle dos insurgentes, os EUA também já vislumbram a possibilidade de adiar as eleições iraquianas, previstas para janeiro.
Trabalho de campo realizado no Iraque em 15 cidades por um conceituado instituto independente de Washington mostrou uma situação de caos no país. A revelação ocorre no momento em que o Iraque voltou ao centro da campanha eleitoral.
A questão da segurança, segundo o CSIS (Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, na sigla em inglês), está minando todos os esforços de reconstrução.
O trabalho do CSIS compreende o período posterior à entrega da soberania ao governo provisório no Iraque, em 31 de junho.
"Nenhuma das cinco áreas pesquisadas no Iraque está se movendo em uma trajetória consistente de melhora. Ou está estagnada ou piorando", afirma Sheba Crocker, uma das autoras do trabalho. "O recente aumento da violência vem minando todos os outros esforços de reconstrução", complementa Rick Barton, outro autor do estudo.
Segurança, governança, oportunidades econômicas, melhorias sociais e serviços (eletricidade, água etc.) foram as áreas consideradas em mais de 400 entrevistas feitas pelo CSIS no Iraque.
O instituto usou como base para avaliar a evolução um levantamento conduzido no ano passado e encomendado ao próprio CSIS pelo Departamento de Estado.
A pesquisa revelou um "forte aumento" da criminalidade no país, o que vem levando pais a proibirem filhas de irem à escola e a uma crescente fuga do país da classe média.
"Estatísticas de necrotérios mostram um crescimento significativo de mortes ligadas a crimes", diz o estudo. "Relatórios policiais revelam que dezenas de médicos, advogados, juízes e burocratas são seqüestrados diariamente por gangues organizadas. Esses profissionais estão simplesmente deixando o país, comprometendo ainda mais os esforços de reconstrução."
Em meio a uma "situação de violência generalizada", o mês de agosto também revelou um recorde no número de ataques às forças americanas no país, com mais de 2.500 casos, segundo estimativas dos próprios militares.
Do lado dos iraquianos, julho foi o quarto mês mais violento em número de civis mortos, com um total de 247 pessoas.
Desde o início do ano, 1.826 iraquianos foram mortos, mais do que o dobro em relação aos 748 casos registrados em 2003. Os dados são do Instituto Brookings, que faz o levantamento com base em dados do Pentágono e de contagem de corpos no Iraque.


Texto Anterior: Caribe: Polícia do Haiti mata a tiros 3 ex-militares
Próximo Texto: Irã banca insurgência no Iraque, diz Rumsfeld
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.