|
Próximo Texto | Índice
Oposição pára região mais rica da Bolívia
Adversários de Morales celebram "sucesso retumbante" da greve em quatro departamentos; presidente cita "resistência contundente'
Na principal manifestação em sete meses de governo Morales, oposição exige votação por dois terços na Assembléia Constituinte
DA REDAÇÃO
O presidente Evo Morales e a
oposição boliviana cantaram
vitória e trocaram acusações
ontem durante a tensa paralisação de 24 horas em quatro
dos nove departamentos do
país em protesto às ações dos
governistas na recém-instalada
e paralisada Assembléia Constituinte. Ao menos dez pessoas
ficaram feridas em confrontos,
e as fronteiras com o Brasil e a
Argentina foram fechadas.
Opositores do governo socialista não foram ao trabalho ontem e bloquearam as principais
rodovias em cidades dos chamados departamentos da
"meia-lua" boliviana: Santa
Cruz, Pando, Beni e Tarija. Ao
todo, concentram um terço da
população boliviana, estimada
em cerca de 9 milhões.
Houve confrontos isolados
entre líderes da paralisação e
sindicalistas alinhados com o
partido de Morales, Movimento ao Socialismo (MAS), em
Santa Cruz, principal pólo econômico do país, e em Tarija,
maior produtora de gás, no sul.
O governo acusou a União
Juvenil Cruzenhista -organização paramilitar que usa uniformes de inspiração fascista-
de jogar duas bombas caseiras
contra o escritório de uma rede
de TV, em Santa Cruz. Os artefatos atingiram um muro e o
portão principal, provocando
apenas danos menores.
Os confrontos mais violentos
ocorreram a leste de Santa
Cruz, entre manifestantes e
simpatizantes do governo. No
centro da cidade, escolas, comércio e transporte público
deixaram de funcionar.
Divisões
Apesar de a oposição considerar Santa Cruz seu principal
bastião, as eleições constituintes, realizadas em julho, mostram que o departamento está
dividido. O partido governista
foi o mais votado. Por outro lado, no referendo sobre autonomia, realizado no mesmo dia,
prevaleceu o "sim" advogado
pela oposição.
Na cidade de Tarija, sede do
departamento com o mesmo
nome, ao menos quatro pessoas ficaram feridas ontem de
manhã, durante embate entre
governistas e manifestantes.
Como em Santa Cruz, Morales
elegeu mais constituintes, porém perdeu no referendo.
Em nota ontem à tarde, o governo disse que os manifestantes "contaram com aportes
econômicos de poderosos grupos empresariais e com a infra-estrutura de governos e prefeituras. Quem decidiu não aderir
foi agredido por piquetes da
União Juvenil Cruzenhista (...),
com claras conotações racistas
contra os povos indígenas".
Ainda de acordo com o governo, "apesar da intimidação, nas
zonas rurais e nos bairros pobres das cidades, a resistência à
paralisação foi contundente.
Pela primeira vez, houve uma
rebelião dos marginalizados
contra a medida de força das
oligarquias regionalistas".
Do lado da oposição, Germán
Antelo, presidente do Comitê
Cívico Pró-Santa Cruz, disse
que paralisação era um "sucesso retumbante" e foi realizada
numa "atmosfera de respeito
pela Constituição". Além dos
chamados comitês cívicos, que
reúnem a elite econômica dos
departamentos, a paralisação
também teve o apoio dos partidos da oposição.
Sobre os incidentes, Antelo
disse que estava "preocupado
com as atividades que alguns
membros do partido do governo tentaram fazer, infiltrando-se na população com o único
objetivo de provocar desordem
em lugares pontuais".
A controvérsia que paralisa a
Assembléia desde a sua instalação, há pouco mais de um mês,
se refere ao sistema de votação.
O governo, que tem a maioria
simples da Assembléia Constituinte, quer que os artigos sejam aprovados por 50% mais
um. A oposição defende que seja por dois terços, como previsto na Lei de Convocatória,
aprovada pelo Congresso.
Próximo Texto: Análise: Separatismo abastece crise boliviana Índice
|