São Paulo, sábado, 09 de setembro de 2006

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Oposição pára região mais rica da Bolívia

Adversários de Morales celebram "sucesso retumbante" da greve em quatro departamentos; presidente cita "resistência contundente'

Na principal manifestação em sete meses de governo Morales, oposição exige votação por dois terços na Assembléia Constituinte

DA REDAÇÃO

O presidente Evo Morales e a oposição boliviana cantaram vitória e trocaram acusações ontem durante a tensa paralisação de 24 horas em quatro dos nove departamentos do país em protesto às ações dos governistas na recém-instalada e paralisada Assembléia Constituinte. Ao menos dez pessoas ficaram feridas em confrontos, e as fronteiras com o Brasil e a Argentina foram fechadas.
Opositores do governo socialista não foram ao trabalho ontem e bloquearam as principais rodovias em cidades dos chamados departamentos da "meia-lua" boliviana: Santa Cruz, Pando, Beni e Tarija. Ao todo, concentram um terço da população boliviana, estimada em cerca de 9 milhões.
Houve confrontos isolados entre líderes da paralisação e sindicalistas alinhados com o partido de Morales, Movimento ao Socialismo (MAS), em Santa Cruz, principal pólo econômico do país, e em Tarija, maior produtora de gás, no sul.
O governo acusou a União Juvenil Cruzenhista -organização paramilitar que usa uniformes de inspiração fascista- de jogar duas bombas caseiras contra o escritório de uma rede de TV, em Santa Cruz. Os artefatos atingiram um muro e o portão principal, provocando apenas danos menores.
Os confrontos mais violentos ocorreram a leste de Santa Cruz, entre manifestantes e simpatizantes do governo. No centro da cidade, escolas, comércio e transporte público deixaram de funcionar.

Divisões
Apesar de a oposição considerar Santa Cruz seu principal bastião, as eleições constituintes, realizadas em julho, mostram que o departamento está dividido. O partido governista foi o mais votado. Por outro lado, no referendo sobre autonomia, realizado no mesmo dia, prevaleceu o "sim" advogado pela oposição.
Na cidade de Tarija, sede do departamento com o mesmo nome, ao menos quatro pessoas ficaram feridas ontem de manhã, durante embate entre governistas e manifestantes. Como em Santa Cruz, Morales elegeu mais constituintes, porém perdeu no referendo.
Em nota ontem à tarde, o governo disse que os manifestantes "contaram com aportes econômicos de poderosos grupos empresariais e com a infra-estrutura de governos e prefeituras. Quem decidiu não aderir foi agredido por piquetes da União Juvenil Cruzenhista (...), com claras conotações racistas contra os povos indígenas".
Ainda de acordo com o governo, "apesar da intimidação, nas zonas rurais e nos bairros pobres das cidades, a resistência à paralisação foi contundente. Pela primeira vez, houve uma rebelião dos marginalizados contra a medida de força das oligarquias regionalistas".
Do lado da oposição, Germán Antelo, presidente do Comitê Cívico Pró-Santa Cruz, disse que paralisação era um "sucesso retumbante" e foi realizada numa "atmosfera de respeito pela Constituição". Além dos chamados comitês cívicos, que reúnem a elite econômica dos departamentos, a paralisação também teve o apoio dos partidos da oposição.
Sobre os incidentes, Antelo disse que estava "preocupado com as atividades que alguns membros do partido do governo tentaram fazer, infiltrando-se na população com o único objetivo de provocar desordem em lugares pontuais".
A controvérsia que paralisa a Assembléia desde a sua instalação, há pouco mais de um mês, se refere ao sistema de votação. O governo, que tem a maioria simples da Assembléia Constituinte, quer que os artigos sejam aprovados por 50% mais um. A oposição defende que seja por dois terços, como previsto na Lei de Convocatória, aprovada pelo Congresso.


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