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análise
Separatismo abastece crise boliviana
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
A grave crise institucional
na Bolívia se junta a outro fator de tensões internas, a
"questão cruceña". Ou a
ameaça de profundo racha
no país andino envolvendo o
altiplano pobre, de tradição
indígena e nacionalista, radicalizado em oposição ao livre
mercado, e as partes baixas e
ricas interessadas em exportar sem travas seus recursos
naturais.
O separatismo com epicentro em Santa Cruz tem sido objeto de estudo de acadêmicos americanos preocupados com a vulnerabilidade
(a fixação é terrorismo) de
países vistos como "Estados
fracos". A Bolívia encabeça o
grupo em nosso continente.
No governo boliviano anterior, o Pentágono conseguiu que fossem entregues
aos EUA foguetes de fabricação chinesa. Inutilizou-os.
Evo Morales tomara o rumo
do Palácio Quemado, e os
americanos imaginavam armas capazes de alcançar
aviões comerciais caindo em
mãos de terroristas. O ex-presidente que autorizou a
entrega está sob risco de processo. Mais tensões. Há movimentos na direção de uma
mesma frente de "resistência" da "questão cruceña" e
da oposição disposta a enfrentar Morales numa luta
pelo controle da Assembléia
Constituinte. Ele é necessário ao projeto oficial de "refundar a Bolívia".
Em 2 de julho, as quatro As
quatro Províncias conhecidas como a região da meia-lua (Santa Cruz, Beni, Tarija
e Pando) optaram pela autonomia com mais ou menos
70% dos votos em referendos locais. São as mais ricas, e
os sentimentos mais profundos são, na realidade, separatistas.
Dois dias depois, "cruceños" com palavras de ordem
de ruptura com o poder central e partidários de Morales
disputaram a murros, pedradas e cacetadas o controle de
um centro de trabalhadores
indígenas. Saldo de 50 feridos. La Paz decidiu mobilizar
o Exército. O chefe de polícia
de Santa Cruz fez corpo mole
e foi acusado de separatista.
Há registros mostrando
que os sentimentos reais são
de ruptura e não de autonomia. "A solução é separar,
pura e simplesmente", já disse Zvoncko Matkovic, da Câmara de Comércio e Indústria de Santa Cruz. Rubem
Costa, do Comitê Cívico de
Santa Cruz, se queixa de que
"há mais de 40 anos carregamos nas costas a economia
da Bolívia". Santa Cruz é responsável por 90% da indústria nacional, e ficam em seu
território 60% dos poços de
petróleo.
Morales e os seus, convencidos de que a autonomia é a
ante-sala da ruptura, espécie
de revanche diante da "derrota conservadora" nas eleições presidenciais, alegam
que a maioria dos votos nacionais (57,6%) foi contrária.
No final do século 19, a Bolívia viveu situação mais ou
menos igual. Liberais da época exigiram a federalização
"em nome do progresso".
Fez-se a chamada "revolução
federal", na realidade uma
guerra civil, lembra o sociólogo boliviano Renzo Abruzzese.
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de
questões internacionais
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