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TORTURA LEGALIZADA
Governo Bush quer CIA fora das Convenções de Genebra
ADAM LIPTAK
DO "NEW YORK TIMES"
Muitas das técnicas de interrogatório duras que o Departamento de Defesa (Pentágono) americano repudiou
na última quarta-feira seriam legalizadas por uma legislação proposta no mesmo
dia pelo governo Bush. E os
tribunais seriam proibidos
de intervir.
A proposta está contida
nas últimas dez páginas de
um projeto de lei de 86 páginas dedicado em sua maior
parte a comissões militares.
Ela é um misto de referências cruzadas e omissões repletas de sentidos ocultos.
Mas especialistas jurídicos
dizem que o projeto equivale
a uma interpretação aparentemente singular das Convenções de Genebra, pela
qual agentes da CIA e outros
seriam autorizados a utilizar
muitas das mesmas técnicas
rejeitadas pelo Pentágono
-incluindo as posições estressantes, a privação de sono, as temperaturas extremas e, possivelmente, afogamentos simulados.
Médico e monstro
"É uma coisa de "o médico
e o monstro'", disse Martin S.
Lederman, que leciona direito constitucional na Universidade Georgetown, referindo-se à abordagem dupla do
governo. De fato, esta se propõe a oficializar em lei um
sistema de procedimentos
duplos que, na prática, já
existe há algum tempo.
Os chamados detentos de
alto valor mantidos em custódia pela CIA vêm sendo sujeitos a interrogatórios duríssimos em prisões secretas
espalhadas pelo mundo -cuja existência foi reconhecida
há três dias pelo presidente
George W. Bush. Prisioneiros mais ordinários mantidos pelo Departamento de
Defesa têm, em sua maioria,
sido submetidos a interrogatórios mais brandos, embora
grupos de defesa dos direitos
humanos denunciem a ocorrência de abusos.
A nova lei proposta continuaria a proporcionar à CIA
a liberdade de ação substancial da qual ela goza, ao mesmo tempo em que as revisões
ao Manual de Campo do
Exército anunciadas na
quarta-feira imporiam limites maiores aos interrogatórios militares. A legislação
deixaria aberta a possibilidade de as Forças Armadas reverem seus próprios padrões, de modo a autorizar as
técnicas mais duras.
Em junho, ao julgar a ação
Hamdan versus Rumsfeld, a
Suprema Corte decidiu que
um dispositivo das Convenções de Genebra relativo ao
tratamento humanitário a
prisioneiros se aplica a todos
os aspectos do conflito com a
Al Qaeda. O novo projeto de
lei impedirá os tribunais de
fazer esse tipo de ingerência,
disse John C. Yoo, professor
de direito da Universidade
da Califórnia em Berkeley e
ex-funcionário do Departamento de Justiça que ajudou
a desenvolver a resposta jurídica da administração à
ameaça terrorista.
A legislação proposta se dá
a muito trabalho para tentar
assegurar que Suprema Corte não tenha uma segunda
oportunidade. Em suas conclusões introdutórias, ela
diz: "O projeto de lei deixa
claro que as Convenções de
Genebra não constituem
fonte de direitos individuais
judicialmente aplicáveis".
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