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Mineração reacende expansão econômica em Potosí
Opulência e insegurança convivem lado a lado nas minas de prata locais, onde 22 mil morreram neste ano na região de Cerro Rico
DO ENVIADO A POTOSÍ
Símbolo da exploração mineira européia durante a América colonial, Potosí e a sua aparentemente inesgotável montanha de prata vivem de novo
uma forte expansão econômica
provocada pela mineração. A
boa notícia é que, agora, o dinheiro fica em mãos bolivianas.
Mas a exploração caótica perpetua as péssimas condições de
trabalho, multiplicando acidentes com morte.
Explorado há 462 anos, o
Cerro Rico financiou a Europa
durante dois séculos com a sua
prata -estima-se que cerca de
62,5 mil toneladas do metal foram retirados dali. Hoje, os
mesmos túneis coloniais são
usados para extrair principalmente estanho e zinco, cujos
preços no mercado internacional reativaram a mineração da
cidade, praticamente paralisada entre 1985 e 2005.
Obviamente, Potosí nunca
voltará à importância do século
16, quando a exploração mineira a transformou em uma das
maiores cidades do mundo, à
frente até de Paris e Madri.
Ainda assim, o rápido crescimento impressiona: de uma
população de 139 mil habitantes, em 2001, a cidade hoje abriga cerca de 200 mil pessoas. No
Cerro Rico, visível de praticamente qualquer lugar da cidade, o número de mineiros que
se arriscam nos milhares de túneis saltou de 4.000, em 2004,
para os atuais 16 mil.
Há sinais de opulência em todos os lados. Nas apertadas
ruas do centro histórico, é comum um Hummer obrigar as
pessoas a entrarem nos vãos
das portas para não serem atropeladas. Nos bairros operários,
há vários veículos de luxo estacionados diante de casas ou das
lojas de artigos para mineração,
onde se vende dinamite sem
qualquer controle.
Outro orgulho recente é o time local, o Real Potosí, cujo dono é um empresário ligado à
mineração: pela primeira vez,
ganhou o campeonato boliviano (ajudado em parte por jogar
a 4.070 metros de altitude).
Praticamente todos os mineiros que trabalham nas minas são índios quéchuas, quase
todos recém-chegados do interior em busca dos altos salários
para os padrões bolivianos.
Muitos iniciantes têm 13, 14
anos. Um mineiro iniciante recebe hoje cerca de R$ 26 por
dia, contra apenas R$ 7,5 de
três anos atrás.
Há 20 anos, o principal modo
de exploração do Cerro Rico é
por meio de cooperativas, fundadas pelos poucos mineiros
que não deixaram a cidade em
1985, quando houve uma forte
queda dos preços. Hoje, ser sócio de uma cooperativa significa empregar até dezenas de mineiros novatos e ser parte de
uma crescente força política.
Mortes
Com mais trabalhadores novatos, os acidentes letais não
param de crescer. De janeiro
até a semana passada, 22 mineiros morreram em acidentes
no Cerro Rico, segundo dados
da polícia. Já é o dobro de mortes registradas no ano passado.
Nas cooperativas, os equipamentos de segurança se resumem a botas e capacetes e muita superstição: as entradas das
minas estão todas respingadas
de sangue de lhamas sacrificadas em troca de proteção. Uma
piada lúgubre diz que as mães
aconselham as filhas a casarem
com os mineiros porque "têm
dinheiro e morrem primeiro".
"São várias cooperativas,
umas com bom capital, outras
iniciando, e as que estão iniciando entram com risco. O
Cerro é como um formigueiro,
buracos, por todos lados, buracos. Nem o próprio governo pode promover uma política de
segurança no lugar", disse à Folha o prefeito de Potosí, René
Joaquino.
(FM)
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