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"Bob Dylan" do Irã protesta com o alaúde
Ao unir poesia persa a gêneros ocidentais, Mohsen Namjoo se tornou a figura mais polêmica da cena musical em Teerã
Fusão promovida por artista que teve álbuns proibidos no país retrata frustrações dos jovens, mas é vista pelos puristas como desrespeitosa
NAZILA FATHI
DO "NEW YORK TIMES", EM TEERÃ
Ele toca o "setar", ou alaúde
tradicional persa, e é um mestre da literatura e poesia clássica persa. Mas os sons que tira
do instrumento, acompanhando sua voz profunda e letras sutilmente cortantes que contam
como é crescer num Estado islâmico, fizeram de Mohsen
Namjoo a figura mais polêmica
da música persa atual.
Alguns o consideram um gênio, uma espécie de Bob Dylan
do Irã, e dizem que sua música
satírica reflete com precisão as
frustrações dos jovens iranianos. Já seus críticos dizem que
sua arte zomba da música persa
clássica e tradicional, já que ele
constantemente a mescla com
gêneros como jazz, blues e rock.
"Eu quis salvar a música persa", disse Namjoo, 31, em entrevista concedida em um de seus
estúdios em Teerã. "Ela não
pertence ao tempo presente e
não pode satisfazer a geração
mais jovem."
A fusão que Namjoo faz de
música persa e ocidental gera
momentos inesperados que
chocam os tradicionalistas.
Mas são as letras de Namjoo,
segundo seus fãs, que tornam
sua música tão importante.
Namjoo canta a poesia persa
antiga, como as obras do poeta
místico Rumi, do século 13, ou
do poeta Hafiz, do século 14,
com suas conotações de amor e
luxúria. Mas ele também escreve suas próprias letras nas formas tradicionais, acrescentando novos significados a elas.
"Sua música e letras expressam a situação amarga de minha geração e mostram a sociedade em que vivemos", diz a
cantora Mahsa Vahdat, 33.
Desafiando a polícia cultural
do país, Namjoo não foge das
questões contemporâneas. "O
que nos cabe é um governo apologético", ele canta em "Neo-Kanti". "O que nos cabe é uma
equipe nacional perdedora."
São referências à desilusão com
o governo do ex-presidente reformista Mohammad Khatami
e com as constantes derrotas da
seleção de futebol. "O que nos
cabe, talvez, é o futuro", acrescenta, em tom de resignação.
Namjoo passou sua infância
na cidade religiosa de Mashhad, no nordeste do Irã, onde
começou a aprender música
clássica persa aos 12 anos.
À medida que foi crescendo,
conta, começou a ouvir música
ocidental e a interessar-se por
Jim Morrison e Eric Clapton.
Leu filosofia e literatura persa e
aprendeu a apreciar um gênero
de poesia persa moderna que
prioriza a fonética.
É difícil avaliar a popularidade de Namjoo, já que a música
sofre pressões intensas no Irã.
A maior parte da música foi
proibida após a Revolução Islâmica de 1979. Apenas canções
religiosas e revolucionárias
passaram a ser consideradas
apropriadas. Até hoje as mulheres são proibidas de cantar.
Com o tempo as restrições diminuíram, mas a repressão voltou com a eleição do atual presidente, o conservador Mahmoud Ahmadinejad, em 2005, .
Em julho, autoridades cancelaram um concerto de rock e
jazz em Teerã. Em agosto, mais
de 200 pessoas foram detidas
em um show de rock em Karaj.
O promotor da cidade considerou a música "satânica".
O próprio Namjoo ainda não
pôde fazer uma apresentação
pública ao vivo, nem foi autorizado a vender seus CDs. Mas
ele pode apresentar-se em sessões reservadas, seus CDs são
vendidos no mercado negro e,
inexplicavelmente, suas canções são tocadas nas rádios iranianas. Segundo seu empresário, até três semanas atrás 1,6
milhão de pessoas tinham ouvido sua música no YouTube.
Tradução de CLARA ALLAIN
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