São Paulo, domingo, 09 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Guerra" de relatórios sobre Iraque confunde público

Comandante militar dos EUA no país apresenta amanhã quarta avaliação sobre conflito

Conforme debate eleitoral se acirra, levantamentos dissonantes dificultam discussão entre partidos sobre contingente e erros

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Os ataques de insurgentes a tropas norte-americanas no Iraque diminuíram 75%. Apenas três das dezoito metas prescritas pelo Congresso dos Estados Unidos foram atingidas pelo governo iraquiano. A estratégia do presidente George W. Bush de aumentar as tropas serviu para reduzir a violência "de maneira irregular".
Apesar de contraditório, é tudo verdade. Ou, pelo menos, é o que dizem relatórios conflitantes que vieram a público nos últimos dias (veja quadro na página ao lado). Todos foram recebidos com fanfarra tanto por republicanos quanto por democratas, que interpretaram os levantamentos como bem entendem e fazem deles a prova de que o que defendem para a Guerra do Iraque, iniciada em março de 2003, é o certo.
A idéia era criar um clima de "guerra de torcidas" na opinião pública americana para o que está sendo considerado o embate final: o relatório que o general David Petraeus apresenta ao Congresso a partir de amanhã. É quando ele prestará contas a comitês comandados por democratas do progresso do país na guerra.
Segundo trechos que vazaram na imprensa nas últimas horas, o mais graduado comandante militar em solo iraquiano dirá que os ataques da insurgência às tropas norte-americanas são hoje três quartos menor do que eram antes de o total de soldados no país ser aumentado em 30 mil homens, base da estratégia de Bush levada a cabo em janeiro desse ano -há hoje 168 mil homens no fronte.
Isso teria se dado principalmente pela aliança feita entre os militares dos EUA e líderes sunitas, principalmente no oeste do país. O cartão-postal de tal manobra é a província de Anbar, a maior do país, mas também a de menor densidade populacional. Não foi por outro motivo que o presidente republicano, a caminho da Austrália para a cúpula da Apec (fórum de cooperação econômica Ásia-Pacífico), parou ali, e não na capital, Bagdá, durante sua visita-surpresa na segunda-feira.

Culpem Bagdá
A se basear em carta que escreveu a seus subordinados e que veio a público na sexta, Petraeus jogará grande parte da culpa pelos insucessos nas costas dos políticos e do governo iraquiano. Esses não teriam cumprido sua parte no acordo ao não aprovar leis fundamentais para a integração do país e para a formação de uma força de segurança nacional.
"Minha impressão é que nós atingimos um "momentum" tático", escreve o militar. "O resultado é progresso na área de segurança, apesar de esse ser irregular, como vocês sabem." Mas todos estão insatisfeitos, segundo Petraeus, "com a interrupção das principais iniciativas legislativas."
Outro ponto importante do depoimento será em relação ao contingente no país. Bush e seu Estado-Maior sentiram o golpe de pesquisas de opinião pública que apontam o aumento de tropas como um dos maiores erros de sua estratégia, bandeira encampada também pelos democratas. Assim, nos últimos dias, tanto o presidente quanto seus generais vêm dizendo em público que pode haver redução.
Na sexta, Petraeus falava em trazer de volta até uma brigada (entre 3.500 e 4.000 soldados). No seu programa de rádio de ontem, Bush admitiria que poderia rever sua tática, com base no que ouviu de seu general: "Na semana que vem, falarei diretamente à nação sobre as recomendações feitas".
Não será um passeio. Cada ponto do depoimento de Petraeus está sendo debatido por democratas, que também batalham com avaliações negativas recordes que o público vem tendo do Congresso que controlam. A redução no número de civis vítimas de ataques, que Petraeus deve dizer que foi de 15%, por exemplo, é polêmica.
O relatório do NIE, a estimativa feita por membros das 16 agências de inteligência norte-americana, refuta os cálculos do Exército norte-americano, para o qual um civil morto com um tiro na nuca foi alvo de insurgentes, mas o morto com um tiro no rosto seria apenas vítima de "violência criminal".
De fato, o que está em jogo é não só a maneira como a Guerra do Iraque será conduzida doravante mas o impacto dela nas eleições presidenciais de 2008, já em pleno curso.
Em pesquisa recente feita pelo instituto Gallup, apenas 9% dos entrevistados responderam que a posição dos partidos em relação à guerra "não será importante" na hora de votar.


Texto Anterior: Islâmicos são derrotados em eleições no Marrocos
Próximo Texto: Tática mostra alguns bons resultados, crê analista
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.