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"Guerra" de relatórios sobre Iraque confunde público
Comandante militar dos EUA no país apresenta amanhã quarta avaliação sobre conflito
Conforme debate eleitoral se acirra, levantamentos dissonantes dificultam discussão entre partidos sobre contingente e erros
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Os ataques de insurgentes a
tropas norte-americanas no
Iraque diminuíram 75%. Apenas três das dezoito metas prescritas pelo Congresso dos Estados Unidos foram atingidas pelo governo iraquiano. A estratégia do presidente George W.
Bush de aumentar as tropas
serviu para reduzir a violência
"de maneira irregular".
Apesar de contraditório, é tudo verdade. Ou, pelo menos, é o
que dizem relatórios conflitantes que vieram a público nos últimos dias (veja quadro na página ao lado). Todos foram recebidos com fanfarra tanto por
republicanos quanto por democratas, que interpretaram os levantamentos como bem entendem e fazem deles a prova de
que o que defendem para a
Guerra do Iraque, iniciada em
março de 2003, é o certo.
A idéia era criar um clima de
"guerra de torcidas" na opinião
pública americana para o que
está sendo considerado o embate final: o relatório que o general David Petraeus apresenta
ao Congresso a partir de amanhã. É quando ele prestará contas a comitês comandados por
democratas do progresso do
país na guerra.
Segundo trechos que vazaram na imprensa nas últimas
horas, o mais graduado comandante militar em solo iraquiano
dirá que os ataques da insurgência às tropas norte-americanas são hoje três quartos menor
do que eram antes de o total de
soldados no país ser aumentado
em 30 mil homens, base da estratégia de Bush levada a cabo
em janeiro desse ano -há hoje
168 mil homens no fronte.
Isso teria se dado principalmente pela aliança feita entre
os militares dos EUA e líderes
sunitas, principalmente no oeste do país. O cartão-postal de tal
manobra é a província de Anbar, a maior do país, mas também a de menor densidade populacional. Não foi por outro
motivo que o presidente republicano, a caminho da Austrália
para a cúpula da Apec (fórum
de cooperação econômica Ásia-Pacífico), parou ali, e não na capital, Bagdá, durante sua visita-surpresa na segunda-feira.
Culpem Bagdá
A se basear em carta que escreveu a seus subordinados e
que veio a público na sexta, Petraeus jogará grande parte da
culpa pelos insucessos nas costas dos políticos e do governo
iraquiano. Esses não teriam
cumprido sua parte no acordo
ao não aprovar leis fundamentais para a integração do país e
para a formação de uma força
de segurança nacional.
"Minha impressão é que nós
atingimos um "momentum" tático", escreve o militar. "O resultado é progresso na área de
segurança, apesar de esse ser irregular, como vocês sabem."
Mas todos estão insatisfeitos,
segundo Petraeus, "com a interrupção das principais iniciativas legislativas."
Outro ponto importante do
depoimento será em relação ao
contingente no país. Bush e seu
Estado-Maior sentiram o golpe
de pesquisas de opinião pública
que apontam o aumento de tropas como um dos maiores erros
de sua estratégia, bandeira encampada também pelos democratas. Assim, nos últimos dias,
tanto o presidente quanto seus
generais vêm dizendo em público que pode haver redução.
Na sexta, Petraeus falava em
trazer de volta até uma brigada
(entre 3.500 e 4.000 soldados).
No seu programa de rádio de
ontem, Bush admitiria que poderia rever sua tática, com base
no que ouviu de seu general:
"Na semana que vem, falarei diretamente à nação sobre as recomendações feitas".
Não será um passeio. Cada
ponto do depoimento de Petraeus está sendo debatido por
democratas, que também batalham com avaliações negativas
recordes que o público vem
tendo do Congresso que controlam. A redução no número
de civis vítimas de ataques, que
Petraeus deve dizer que foi de
15%, por exemplo, é polêmica.
O relatório do NIE, a estimativa feita por membros das 16
agências de inteligência norte-americana, refuta os cálculos
do Exército norte-americano,
para o qual um civil morto com
um tiro na nuca foi alvo de insurgentes, mas o morto com
um tiro no rosto seria apenas
vítima de "violência criminal".
De fato, o que está em jogo é
não só a maneira como a Guerra do Iraque será conduzida doravante mas o impacto dela nas
eleições presidenciais de 2008,
já em pleno curso.
Em pesquisa recente feita pelo instituto Gallup, apenas 9%
dos entrevistados responderam
que a posição dos partidos em
relação à guerra "não será importante" na hora de votar.
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