São Paulo, domingo, 09 de setembro de 2007

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"Para quem nasceu aqui, Taiwan é independente'

DA ENVIADA A TAIWAN

Se Lu Siu-lien desmanchar o sorriso simpático e erguer o tom da voz, é quase certo que ela esteja falando sobre a China. O país está no centro de suas funções como vice-presidente de Taiwan, as quais acabaram por englobar boa parte da árdua diplomacia da ilha que Pequim chama de Província rebelde, mas que a nova geração de taiwaneses quer cada vez mais chamar de país.
Política independente, ela se tornou em 2000 a mulher a chegar ao mais alto cargo no Executivo da ilha, sendo reeleita quatro anos depois. Aos 63 anos e com um currículo que inclui o governo do condado de Taoyuan, Lu -que adotou o nome Annette- ficou conhecida pela aversão a alianças políticas e pelo falar franco-bem longe da sutileza diplomática quando o tema é Pequim. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista que ela concedeu à Folha no palácio presidencial. (LC)

 

FOLHA - A sra. viajou à América Central quando Taiwan acabara de perder o apoio da Costa Rica. Qual o principal resultado dessa viagem?
ANNETTE LU -
Depois do que fez a Costa Rica, decidimos fortalecer nossos laços com os parceiros na América Central. Acabamos de ter a segunda assembléia da União Democrática do Pacífico [UDP], à qual compareceram 33 países. O consenso foi o de condenar a posição do presidente da Costa Rica, Oscar Arias, de quebrar sua relação de 33 anos com Taiwan contra a vontade de seu povo.

FOLHA - A ruptura foi resultado de pressão econômica da China?
LU -
É claro que existem interesses econômicos. Parte de nossos aliados na América Central mantém algum tipo de ligação econômica com a China. Mas não chegam a lucrar com essa relação, pois a China exporta bens de baixa qualidade.

FOLHA - Como expandir os laços oficiais ante a pressão chinesa?
LU -
Aqueles que não estão familiarizados com o comunismo podem até ter a expectativa de ter a China como parceiro. Mas uma vez conscientes disso, muitos se arrependem. Alguns países do Pacífico romperam laços com Taiwan sob a promessa de que a China contribuiria com dinheiro. Mas, uma vez firmadas as relações, a China simplesmente esquece tudo.

FOLHA - Como Taiwan pode confrontar o poder econômico chinês?
LU -
Taiwan também tem poder econômico e é muito importante no setor de alta tecnologia. E nós temos "soft power": direitos humanos, paz, democracia e tecnologia. Esses são os baluartes de nosso povo.

FOLHA - Qual o apoio popular hoje ao referendo pela entrada na ONU?
LU -
Ninguém diz não ao referendo. Todo país tem direito de ser representado na ONU sob seu próprio nome. Exceto Taiwan [que aparece como república da China, parte portanto da China]. Não porque nós não nos qualificamos, mas porque a China goza de poder de veto.

FOLHA - O que o governo espera?
LU -
Sabemos que pode demorar muito. Para as Coréias, levou 15 anos. Para a China, foram 23 anos. Somos pacientes.

FOLHA - E as divisões internas? LU - Antes, estavam no poder políticos que não haviam nascido em Taiwan e estavam ligados à história chinesa. Mas, para a geração que nasceu aqui, cresce o consenso de que Taiwan é independente.

FOLHA - A China diz que reprimirá militarmente tentativas de independência. E Taiwan, como reagiria?
LU -
Resistimos com o progresso. Não há porque temer.

FOLHA - Há eleições em 2008. Qual a expectativa e os planos da sra.?
LU -
Por ora devo ajudar o presidente a cumprir nossas tarefas até o fim do mandato, sobretudo no lado diplomático. Fui eleita para dirigir a UDP por dois anos, e posso ser reeleita, então estarei ocupada com isso. Depois, fui convidada para visitar vários países. Um dos quais para onde quero ir é o Brasil.


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