São Paulo, quarta-feira, 09 de setembro de 2009

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Morales enfrenta oposição dividida nas urnas

Atual presidente da Bolívia, que tenta reeleição após mudar Constituição, terá sete concorrentes no pleito de dezembro

Direita radical lança Reyes Villa, ex-governador de Cochabamba, que perdeu o mandato em referendo revogatório no ano passado


David Mercado/Reuters
Militante indígena participa de passeata em frente à sede da Justiça eleitoral boliviana após o anúncio dos candidatos que disputarão Presidência em dezembro

DA REDAÇÃO

Candidato à reeleição no primeiro pleito a ser realizado depois de aprovada a nova Constituição boliviana, o presidente Evo Morales enfrentará uma oposição fragmentada na eleição de 6 de dezembro e conta com a falta de coesão da concorrência, que terá sete candidatos, para confirmar o favoritismo apontado em pesquisas de intenção de voto.
O cenário eleitoral foi definido à 0h de ontem na Bolívia, com o fim do prazo para inscrições de candidatos na Justiça eleitoral. Dos 8 inscritos, 5 têm origem indígena, incluindo Morales, que voltará a ter como companheiro de chapa o intelectual Álvaro García Linera.
A principal força de oposição reúne o ex-governador do departamento de Cochabamba Manfred Reyes Villa, destituído por referendo popular em agosto do ano passado, e o ex-governador do departamento de Pando Leopoldo Fernández, que segue preso sob a acusação de promover o massacre de partidários de Morales durante conflitos no país em 2008.
A chapa, que representa setores da oposição mais radical, acabou fechando o espaço de líderes antigoverno cotados para o pleito, como o ex-presidente conservador Jorge Quiroga (2001-2002) e o ex-vice-presidente indígena Víctor Hugo Cárdenas (1993-1997).
A cientista política Jimena Costas, considerada um elemento aglutinador da direita, também ficou de fora, colaborando para a fragmentação. Além de Reyes Villa, o bloco conservador concorre com o ex-ministro do Planejamento Samuel Doria Medina e a ex-senadora Ana María Flores.
Outros quatro candidatos, com baixa mobilização popular, concorrem pela esquerda dissidente.
Segundo recente pesquisa do instituto Gallup Internacional, o atual presidente tem 57,7% das intenções de voto, índice que garantiria sua vitória ainda no primeiro turno.
Só outros dois candidatos são citados na pesquisa: Medina, com 9,7%, e Reyes Villa, com 8,6%. No entanto, a perspectiva é a de que Reyes Villa cresça no decorrer da campanha, após consolidar apoios na direita.
Segundo analistas ouvidos pela France Presse, há poucas chances de Morales não ser reeleito, principalmente pelo processo de grande fragmentação da oposição, que se acentuou nos últimos três anos.
Eleito em 2005, com 53% dos votos, ele convocou Assembleia Constituinte no início de seu mandato e completou a reforma constitucional em janeiro deste ano. A mudança da legislação permitiu que Molares tentasse agora um novo mandato de cinco anos.
Além de autorizar a reeleição, a reforma deu maior autonomia e reconhecimento às comunidades indígenas e aumentou o controle do Estado sobre os recursos naturais do país.
Aprovadas em um tenso processo, as mudanças polarizaram o país e resultaram em duros e violentos embates entre governistas e a oposição, concentrada nos departamentos ricos do leste do país, principalmente Santa Cruz e Beni, mais desenvolvidos do que departamentos da região do altiplano, que apoiam Morales.

Pedido de cautela
Ontem, Morales fez um chamamento contra a violência durante a campanha, que começa em 5 de outubro, e pediu que a população permita que todos os candidatos realizem atos eleitorais pacificamente.
O pedido veio depois de organizações sociais e sindicais da cidade de El Alto, reduto eleitoral do presidente, dizerem que não permitiriam manifestos e eventos de campanha da oposição na região.
Morales também alertou os correligionários para que "tomem cuidado com agressões, provocações e armações", que são "especialidades" da direita, segundo o presidente.
Nas eleições gerais de dezembro, além do presidente, os bolivianos escolherão 130 deputados e 36 senadores. Também votarão em referendos sobre maior autonomia para os departamentos -reivindicação antiga da oposição e que fez parte do acordo fechado para pôr fim à crise política no país.

Com agências internacionais



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