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Salvadorenho vai pleitear R$ 800 milhões do BNDES
Financiamento de banco brasileiro serviria para a compra de 5.000 novos ônibus
Presidente Mauricio Funes proporá ainda a Lula que empresas do Brasil produzam
em El Salvador para exportar sem impostos para os EUA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente de El Salvador,
Mauricio Funes, vai reivindicar
ao colega Luiz Inácio Lula da
Silva, numa audiência hoje, que
o BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) financie o equivalente a
US$ 800 milhões para a reformulação do sistema de transporte urbano do seu país.
Em entrevista à Folha, por
telefone, Funes disse que o
principal objetivo é a renovação da frota de ônibus, com
5.000 novas unidades para
substituir os que hoje trafegam
ilegalmente. A lei do país limita
a vida útil dos veículos urbanos
a 15 anos, mas a grande maioria
dos que estão em circulação
tem entre 15 e 20.
Segundo Funes, técnicos do
BNDES já estiveram em El Salvador ontem e anteontem para
avaliar o projeto, que prevê a
contratação de uma ou mais
empresas brasileiras para a fabricação dos ônibus e "condições preferenciais" para a quitação da dívida.
Funes também vai sugerir a
Lula uma espécie de convênio
bilateral para que setores brasileiros possam produzir em El
Salvador e exportar para o
mercado dos EUA sem intermediários e sem impostos.
Como El Salvador tem há
cinco anos um Tratado de Livre Comércio com os EUA,
basta que as empresas do Brasil
interessadas se instalem no
país e exportem dali diretamente para os americanos. A
única condição do tratado é
que o produto seja fabricado
em solo salvadorenho.
São três produtos principais
que Funes pretende colocar na
mesa com Lula e com empresários com quem terá almoço
amanhã em São Paulo: etanol,
têxteis e calçados.
Segundo o presidente, El Salvador dispõe de 200 mil hectares agricultáveis, e parte disso
pode ser colocada à disposição
de produção de cana-de-açúcar
por brasileiros, com a contrapartida de que eles levem capital e tecnologia próprios.
Bom candidato a entrar na fila de pequenos países com presidentes classificados "de esquerda" e que contam com a
benemerência do governo do
Brasil, El Salvador tem, ainda,
um pacote de pedidos de cooperação bilateral.
Funes citou as áreas de saúde, agricultura e segurança,
com interesse especial pela
pesquisa e produção de medicamentos genéricos, transferência de tecnologia da Embrapa para plantio e desenvolvimento de sementes e treinamento de militares e policiais.
O Brasil assessorou o processo de criação da força nacional
civil e da profissionalização das
Forças Armadas após 1992,
quando o país saiu de uma longa e sangrenta guerra civil. Segundo Funes, o país pode ainda
contribuir muito nessas áreas.
Eleito pela Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, antiga guerrilha que depôs
as armas em 1992, Funes, 49, é
casado com a brasileira Vanda
Pignato e não pretende ser um
"esquerdista" a mais na órbita
do venezuelano Hugo Chávez.
Com um terço dos salvadorenhos vivendo nos EUA, não dá
para sustentar o velho discurso
do "abaixo o imperialismo".
"Os EUA são nossos parceiros
estratégicos", atualiza.
Apesar de comprar petróleo
da Venezuela e, com isso, conseguir um preço interno 30%
mais barato para a gasolina,
Funes diz: "A Venezuela é um
sócio a mais, ninguém pensa
em implantar o modelo venezuelano em El Salvador".
E, se é para optar por um modelo, sua preferência não é o
venezuelano: "Damos especial
atenção ao Brasil, onde há uma
combinação de desenvolvimento, diálogo e redistribuição
de renda. É isso que pode funcionar para El Salvador".
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