São Paulo, quarta-feira, 09 de setembro de 2009

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Salvadorenho vai pleitear R$ 800 milhões do BNDES

Financiamento de banco brasileiro serviria para a compra de 5.000 novos ônibus

Presidente Mauricio Funes proporá ainda a Lula que empresas do Brasil produzam em El Salvador para exportar sem impostos para os EUA


ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O presidente de El Salvador, Mauricio Funes, vai reivindicar ao colega Luiz Inácio Lula da Silva, numa audiência hoje, que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) financie o equivalente a US$ 800 milhões para a reformulação do sistema de transporte urbano do seu país.
Em entrevista à Folha, por telefone, Funes disse que o principal objetivo é a renovação da frota de ônibus, com 5.000 novas unidades para substituir os que hoje trafegam ilegalmente. A lei do país limita a vida útil dos veículos urbanos a 15 anos, mas a grande maioria dos que estão em circulação tem entre 15 e 20.
Segundo Funes, técnicos do BNDES já estiveram em El Salvador ontem e anteontem para avaliar o projeto, que prevê a contratação de uma ou mais empresas brasileiras para a fabricação dos ônibus e "condições preferenciais" para a quitação da dívida.
Funes também vai sugerir a Lula uma espécie de convênio bilateral para que setores brasileiros possam produzir em El Salvador e exportar para o mercado dos EUA sem intermediários e sem impostos.
Como El Salvador tem há cinco anos um Tratado de Livre Comércio com os EUA, basta que as empresas do Brasil interessadas se instalem no país e exportem dali diretamente para os americanos. A única condição do tratado é que o produto seja fabricado em solo salvadorenho.
São três produtos principais que Funes pretende colocar na mesa com Lula e com empresários com quem terá almoço amanhã em São Paulo: etanol, têxteis e calçados.
Segundo o presidente, El Salvador dispõe de 200 mil hectares agricultáveis, e parte disso pode ser colocada à disposição de produção de cana-de-açúcar por brasileiros, com a contrapartida de que eles levem capital e tecnologia próprios.
Bom candidato a entrar na fila de pequenos países com presidentes classificados "de esquerda" e que contam com a benemerência do governo do Brasil, El Salvador tem, ainda, um pacote de pedidos de cooperação bilateral.
Funes citou as áreas de saúde, agricultura e segurança, com interesse especial pela pesquisa e produção de medicamentos genéricos, transferência de tecnologia da Embrapa para plantio e desenvolvimento de sementes e treinamento de militares e policiais.
O Brasil assessorou o processo de criação da força nacional civil e da profissionalização das Forças Armadas após 1992, quando o país saiu de uma longa e sangrenta guerra civil. Segundo Funes, o país pode ainda contribuir muito nessas áreas.
Eleito pela Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional, antiga guerrilha que depôs as armas em 1992, Funes, 49, é casado com a brasileira Vanda Pignato e não pretende ser um "esquerdista" a mais na órbita do venezuelano Hugo Chávez.
Com um terço dos salvadorenhos vivendo nos EUA, não dá para sustentar o velho discurso do "abaixo o imperialismo". "Os EUA são nossos parceiros estratégicos", atualiza.
Apesar de comprar petróleo da Venezuela e, com isso, conseguir um preço interno 30% mais barato para a gasolina, Funes diz: "A Venezuela é um sócio a mais, ninguém pensa em implantar o modelo venezuelano em El Salvador".
E, se é para optar por um modelo, sua preferência não é o venezuelano: "Damos especial atenção ao Brasil, onde há uma combinação de desenvolvimento, diálogo e redistribuição de renda. É isso que pode funcionar para El Salvador".


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