São Paulo, quarta-feira, 09 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Afeganistão terá recontagem parcial de votos

No mesmo dia em que presidente supera pela 1ª vez barreira dos 50%, comissão de apelações vê "claros indícios de fraude"

Nova apuração deve atrasar em até três meses o resultado final da eleição de 20 de agosto, o que pode acentuar instabilidade vivida por país


DA REDAÇÃO

No dia em que a apuração da eleição afegã deu pela primeira vez ao presidente Hamid Karzai mais da metade dos votos -o que o reelegeria em primeiro turno-, a Comissão Eleitoral de Apelações (CEA) ordenou recontagem parcial devido a "claros indícios de fraude".
Segundo a Comissão Eleitoral Independente (CEI), órgão afegão responsável pela apuração do pleito de 20 de agosto, Karzai obtém 54,1% dos votos com 91,6% das urnas contabilizadas. O principal concorrente do presidente, o ex-chanceler Abdullah Abdullah, tem 28,3%.
Se confirmada, a votação dará a Karzai, eleito em 2004, um novo mandato de cinco anos à frente do Afeganistão sem a necessidade do aguardado segundo turno. A oposição, no entanto, contesta a adesão ao presidente e alega fraudes no pleito.
Dando vazão às críticas e às mais de 720 reclamações formais, a CEA -formada por três representantes internacionais e dois afegãos e apoiada pela ONU- pela primeira vez pôs em dúvida a lisura da eleição.
Em comunicado, a comissão ordenou que a CEI reconte todas as seções com mais de 95% dos votos a um mesmo candidato ou 100% ou mais de comparecimento. Embora não tenha especificado os locais das recontagens, acredita-se que a maior parte das seções sob suspeita estejam na região sul, majoritariamente pró-Karzai.
Cabe à CEA ratificar o resultado da apuração feita pela comissão eleitoral afegã para que ele seja oficializado, e a eleição para presidente, legitimada.
A CEI, contudo, alegou já ter colocado sob "quarentena" cerca de 600 das mais de 25 mil seções eleitorais por alegação de fraudes. Segundo o chefe da comissão oficial afegã, Daoud Ali Najafi, a recontagem ordenada pelo órgão de apelações demorará de 2 a 3 meses.

Calendário comprometido
A revisão deverá, portanto, inviabilizar o calendário previamente estabelecido pelas autoridades eleitorais, que previa a oficialização do resultado do pleito até a próxima semana e a realização de um eventual segundo turno até outubro.
A indefinição e o vácuo de autoridade dela decorrente, além disso, podem comprometer os esforços da missão internacional liderada pelos EUA para estancar o recrudescimento recente da violência no país.
O ano de 2009 já é o mais letal para as tropas estrangeiras -mais de 100 mil homens, dos quais 68 mil americanos- desde o início da guerra, em 2001, quando o Taleban foi desalojado do poder pela ação militar.
O resultado -e sobretudo a legitimidade ante a população- da eleição é ainda crucial para os planos do governo Barack Obama, que fez do país o foco do combate ao terrorismo e deve apresentar em breve uma nova estratégia para o conflito no país asiático -além de já ter ordenado o aumento de tropas desde o início do ano.
Apesar dos temores, um dos porta-vozes da ONU em Cabul, Aleem Siddique, disse que "não haverá vencedores nesta eleição até que todas as denúncias sejam investigadas, e a revisão parcial dos votos, realizada".
Entre as irregularidades encontradas durante apuração da eleição estão também urnas provenientes de mais de 800 seções eleitorais falsas, outras com mais de 600 votos -máximo por unidade- e seções com mais votos do que presença, além da obstrução de votações por grupos pró-Karzai.

Com agências internacionais



Texto Anterior: Salvadorenho vai pleitear R$ 800 milhões do BNDES
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.