São Paulo, segunda-feira, 09 de outubro de 2006

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Teste nuclear coreano une China e Japão

Na 1ª visita de um premiê japonês à China em 5 anos, plano da Coréia do Norte de testar bomba é considerado "intolerável"

Ex-deputado sul-coreano diz que Pyongyang cancela explosão se EUA aceitarem diálogo bilateral, mas Casa Branca descarta hipótese

Itsuo Inouye/Associated Press
Homem protesta em Seul contra o plano nuclear norte-coreano


DA REDAÇÃO

A China e o Japão afirmaram ontem que "não pode ser tolerado" o plano da Coréia do Norte de testar sua primeira bomba atômica e que o governo norte-coreano deve retomar "incondicionalmente" as negociações sobre seu programa nuclear, interrompidas há um ano.
A posição conjunta de japoneses e chineses foi relatada ontem em Pequim pelo novo primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, depois de se avistar com o presidente Hu Jintao.
A reação dos dois países está na confluência de no mínimo dois eixos diplomáticos importantes. Em primeiro lugar, a China se alia pela primeira vez a um outro país asiático para se opor aos norte-coreanos, seus históricos aliados de um regime também comunista.
Em seguida, a ameaça da bomba norte-coreana tornou mais sólida a reaproximação entre Tóquio e Pequim.
"Precisamos evitar que a Coréia do Norte se nuclearize", disse o primeiro-ministro japonês. Afirmou que ele e o presidente chinês concordaram que a explosão de uma bomba norte-coreana "significaria uma ameaça para a Ásia e para a comunidade internacional".
Abe também exortou Pyongyang a retomar as negociações sobre seu programa nuclear, dentro do chamado Grupo dos Seis (duas Coréias, Estados Unidos, Japão, China e Rússia). Os norte-coreanos a abandonaram há um ano, em protesto contra sanções econômicas do governo americano, que por sua vez as adotou em razão da militarização da política atômica daquele país.
Shinzo Abe deixou ontem Pequim e voou para Seul, na Coréia do Sul, onde a intenção norte-coreana de testar sua primeira bomba também deverá ser o tema das conversações.
Enquanto o premiê japonês se encontrava ainda na capital chinesa, relata a Associated Press, o governo norte-coreano informou à China que poderá congelar seu plano de explodir a bomba, caso os Estados Unidos aceitem encadear negociações bilaterais.
A informação foi dada em Seul por um ex-deputado sul-coreano, Jang Sung Min, depois de um telefonema a um diplomata chinês que ele não quis identificar. Segundo Min, a Coréia do Norte também teria negado que o teste nuclear fosse iminente, citando como prova o fato de Pyongyang não ter colocado seus militares em estado de alerta ou de prontidão.

Sem data
Na última terça-feira, os norte-coreanos, ao anunciarem a intenção de testar seu primeiro artefato nuclear -os serviços de inteligência americanos acreditam que o país tenha construído de seis a oito bombas-, disseram que isso ocorreria proximamente, sem, no entanto, especificar datas.
De acordo com o ex-deputado sul-coreano, Pyongyang aceleraria o teste da bomba caso Washington imponha novas sanções ou parta para alguma forma de agressão.
A Casa Branca reagiu de modo prudente. A porta-voz Emily Lawrimore disse que o governo já deixou claras suas restrições a contatos bilaterais e continua a encorajar a Coréia do Norte a voltar à mesa multilateral.
A administração Bush tem reiterado o propósito de manter com os norte-coreanos apenas negociações multilaterais. Mas no mês passado o embaixador americano em Seul, Alexander Vershbow, disse que negociações bilaterais seriam possíveis caso Pyongyang volte a discutir com o Grupo dos Seis.
Em Washington, James Baker, que chefiou a diplomacia no governo de George Bush, o pai, aconselhou seu país a abrir negociações bilaterais com os norte-coreanos. A seu ver, contatos diplomáticos não devem se restringir só aos aliados. Pode-se também conversar com potenciais inimigos, sem que isso implique concessões.


Com agências internacionais


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