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ANÁLISE
OEA não tem um "plano A", e EUA não usam dentes
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Em entrevista à Folha, na semana passada, José Miguel Insulza, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, disse que a missão dos
chanceleres só iria a Honduras
se houvesse condições de acordo para um diálogo. "Não vamos voltar lá só para ficar conversando de novo...", afirmou.
Pois a OEA voltou lá e ficou só
conversando de novo.
A aparente falta de preparo
da comissão, que envolveu pesos-pesados como Thomas
Shannon, secretário-assistente
para o hemisfério Ocidental do
Departamento de Estado americano, mostra que a situação é
mais grave do que deu a entender recentemente o presidente
da Costa Rica, Óscar Arias.
Indagado sobre a alternativa
ao plano que ajudou a criar, batizado de Acordo de San José,
Arias respondeu: "Não há plano B". Pelo que se viu em Tegucigalpa, o problema é que não
há nem nunca houve um "plano A" digno do nome.
Os golpistas não concordam
com o ponto principal do acordo, que é a volta de Zelaya ao
poder; o líder deposto não aceita negociar se o princípio não
for esse. Era assim antes da
missão dos chanceleres, continuou assim depois. Ontem, os
diplomatas apontaram como
avanço o fato de que as duas
partes voltaram a conversar.
Em Washington, o Departamento de Estado disse que isso
era "positivo" e "importante".
Pode ser, mas o que se viu foi
destempero de parte a parte
-e não há por que acreditar
que as hostilidades cessarão.
Os zelayistas dão como novo
prazo o dia 15 para a situação se
resolver. E, se não se resolver, o
que acontece? Provavelmente,
nada. Ao menos, nada na OEA.
Talvez outra "reunião de
emergência" seja convocada
-a última não chegou a um
consenso nem quanto à declaração que resultaria da tal reunião. Na ocasião, o embaixador
brasileiro, Ruy Casaes, disse
que a entidade se arriscava a
caminhar para a irrelevância.
Na mesma entrevista à Folha, Insulza concordou que faltam dentes à entidade, no sentido de que pouco pode ser feito
além do que já se fez, que foi
suspender o país e seguir negociando. É verdade, mas é meia
verdade: um dos países-membros tem mais dentes do que todos os outros juntos.
São os EUA, que até agora só
mostraram meio canino: anunciaram uma suspensão parcial
de ajuda econômica e o cancelamento de alguns vistos e deram algumas chibatadas verbais. O verdadeiro "plano A" teria de ser montado sobre sanções econômicas de verdade
dos EUA, que compram 70% de
tudo o que Honduras produz.
O problema é que não há consenso sobre a volta de Zelaya ao
poder nem mesmo dentro do
governo Obama. Parte dos que
lidam com a América Latina
defende que o que houve foi um
golpe, que só se resolve com a
restituição do deposto. Parte
defende que há golpes e golpes,
e esse não é de todo ruim, já que
afasta do comando um líder sob
a influência de Hugo Chávez.
Nesse cisma nadam de braçada os republicanos, que têm ligações históricas com a elite
hondurenha. Eles minam os tímidos esforços da Casa Branca
ao promover missões a Tegucigalpa, que buscam legitimar
Micheletti e prolongar a crise.
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