São Paulo, sexta-feira, 09 de outubro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

OEA não tem um "plano A", e EUA não usam dentes

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Em entrevista à Folha, na semana passada, José Miguel Insulza, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, disse que a missão dos chanceleres só iria a Honduras se houvesse condições de acordo para um diálogo. "Não vamos voltar lá só para ficar conversando de novo...", afirmou. Pois a OEA voltou lá e ficou só conversando de novo.
A aparente falta de preparo da comissão, que envolveu pesos-pesados como Thomas Shannon, secretário-assistente para o hemisfério Ocidental do Departamento de Estado americano, mostra que a situação é mais grave do que deu a entender recentemente o presidente da Costa Rica, Óscar Arias.
Indagado sobre a alternativa ao plano que ajudou a criar, batizado de Acordo de San José, Arias respondeu: "Não há plano B". Pelo que se viu em Tegucigalpa, o problema é que não há nem nunca houve um "plano A" digno do nome.
Os golpistas não concordam com o ponto principal do acordo, que é a volta de Zelaya ao poder; o líder deposto não aceita negociar se o princípio não for esse. Era assim antes da missão dos chanceleres, continuou assim depois. Ontem, os diplomatas apontaram como avanço o fato de que as duas partes voltaram a conversar. Em Washington, o Departamento de Estado disse que isso era "positivo" e "importante".
Pode ser, mas o que se viu foi destempero de parte a parte -e não há por que acreditar que as hostilidades cessarão. Os zelayistas dão como novo prazo o dia 15 para a situação se resolver. E, se não se resolver, o que acontece? Provavelmente, nada. Ao menos, nada na OEA.
Talvez outra "reunião de emergência" seja convocada -a última não chegou a um consenso nem quanto à declaração que resultaria da tal reunião. Na ocasião, o embaixador brasileiro, Ruy Casaes, disse que a entidade se arriscava a caminhar para a irrelevância.
Na mesma entrevista à Folha, Insulza concordou que faltam dentes à entidade, no sentido de que pouco pode ser feito além do que já se fez, que foi suspender o país e seguir negociando. É verdade, mas é meia verdade: um dos países-membros tem mais dentes do que todos os outros juntos.
São os EUA, que até agora só mostraram meio canino: anunciaram uma suspensão parcial de ajuda econômica e o cancelamento de alguns vistos e deram algumas chibatadas verbais. O verdadeiro "plano A" teria de ser montado sobre sanções econômicas de verdade dos EUA, que compram 70% de tudo o que Honduras produz.
O problema é que não há consenso sobre a volta de Zelaya ao poder nem mesmo dentro do governo Obama. Parte dos que lidam com a América Latina defende que o que houve foi um golpe, que só se resolve com a restituição do deposto. Parte defende que há golpes e golpes, e esse não é de todo ruim, já que afasta do comando um líder sob a influência de Hugo Chávez.
Nesse cisma nadam de braçada os republicanos, que têm ligações históricas com a elite hondurenha. Eles minam os tímidos esforços da Casa Branca ao promover missões a Tegucigalpa, que buscam legitimar Micheletti e prolongar a crise.


Texto Anterior: OEA deixa Tegucigalpa de mãos vazias
Próximo Texto: Militares reforçam cerco e restrições à embaixada
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.