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Bolívia promulga polêmica lei antirracismo
Artigo permite fechar jornais e TVs por veiculação de conteúdo racista
Entidades ligadas à imprensa querem levar caso a referendo; elas temem sofrer censura por governo Morales
FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS
O presidente da Bolívia,
Evo Morales, promulgou ontem a lei antirracismo sem alterar o controverso artigo que
permite multar e até fechar
jornais ou TVs que, na avaliação do governo, veiculem informação de conteúdo racista ou discriminatório.
"A luta contra a descolonização é um caminho sem retorno. Ninguém vai parar o
processo de mudança", disse
Morales ao assinar a lei, horas depois de ela ser aprovada no Senado, onde o governo tem maioria absoluta.
Senadores oposicionistas,
em protesto, assistiram à sessão vestidos de presidiários.
A ANP (Associação Nacional de Imprensa, na sigla em
espanhol), que reúne proprietários de jornais, e a confederação de jornalistas
anunciaram que vão recolher
assinaturas para submeter os
artigos controversos a um referendo popular.
Além do artigo 16, que prevê a perda de licença de funcionamento para meios de
comunicação que veiculem
informação considerada racista, o artigo 23 proíbe que
haja apelação ou foro privilegiado para acusados de cometer o crime.
A Confederação Sindical
de Trabalhadores da Imprensa da Bolívia (CSTPB) também informou que levará o
caso à OEA (Organização dos
Estados Americanos) e pedirá avaliação da Relatoria para a Liberdade de Expressão
do organismo.
Ontem, Morales, de origem aimará, criticou os jornalistas pela atitude contrária à nova legislação, segundo ele uma desculpa para seguir práticas de "ofensa e de
humilhação".
O temor dos meios de comunicação e dos jornalistas é
que o primeiro presidente indígena da história da Bolívia
passe a utilizar a nova lei como instrumento para punir
reportagens que forem críticas à sua gestão.
REGULAMENTAÇÃO
A lei provocou diversos
protestos. Há jornalistas em
greve de fome e, nesta semana, a maioria dos jornais do
país publicou nas capas a
mesma mensagem: "Sem liberdade de expressão não há
democracia".
O controverso artigo com
força para fechar jornais e
TVs remete a uma regulamentação posterior.
Ontem, o presidente afirmou que "o diálogo está
aberto" para elaborá-la e para que se alcance "consenso"
com as entidades representativas da mídia.
"A liberdade de expressão
não pode ser regulamentada", rebateu, em entrevista à
agência EFE, o presidente da
confederação sindical, Pablo
Zeteno.
A associação avisou que
não pretende participar das
discussões.
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