UOL


São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CONSUMO

Com mercado em alta, opções incluem até DVD que ensina a contar em russo

Mídia para bebês vira febre nos EUA

TAMAR LEWIN
DO ""NEW YORK TIMES"

Meia hora antes de ir para a cama, John Hill-Edgar está em sua cadeirinha de bebê assistindo ao DVD ""Baby Bach", fascinado pelo som de ""Jesus, Alegria dos Homens" e as imagens de um trenzinho, um bebê e um ursinho de pelúcia que solta bolhas de sabão.
John tem apenas sete meses de idade e, como muitos bebês americanos no século 21, assiste a vídeos da série ""Baby Einstein" praticamente desde que nasceu.
Nos últimos cinco anos ocorreu uma explosão na mídia eletrônica criada para bebês e crianças pequenas: ""Teletubbies", o primeiro programa de TV criado para crianças em idade pré-verbal, ""lapware", ou programas de computador para bebês, e centenas de vídeos e DVDs para essa faixa.
Mais de um quarto das crianças americanas de menos de dois anos tem TV no quarto, revelou um estudo da Fundação Familiar Henry J. Kaiser A pesquisa constatou que 59% das crianças americanas de seis meses a dois anos costumam ver TV cerca de duas horas por dia.
""A última vez que fizemos um grande estudo sobre crianças e mídia, cinco anos atrás, não pensamos em pesquisar as crianças de menos de dois anos porque achávamos que não se aplicava a elas", conta a autora principal do estudo, Vicky Rideout. ""Mas essa situação mudou muito. Se fizermos outra pesquisa, teremos de começar desde o nascimento."
De acordo com o estudo, 10% dos bebês americanos de seis meses a dois anos têm controle remoto desenhado para crianças. E 32% deles possuem vídeos da série ""Baby Einstein", criada há oito anos para expor as crianças a poesia, linguagem, música e arte.
Não há consenso quanto ao efeito que a mídia eletrônica pode ter sobre crianças pequenas. ""Sabemos que os dois primeiros anos de vida são um período crucial para o desenvolvimento da criança, mas ainda não fazemos idéia do impacto dessa mídia toda", disse Rideout.
O estudo Kaiser foi baseado numa pesquisa telefônica em âmbito nacional conduzida com 1.065 pais de crianças de seis meses a seis anos, com margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos.

Aprender a contar em russo
Mais de um terço das crianças vive em lares nos quais o aparelho de TV fica ligado quase o tempo todo, mesmo que não haja ninguém assistindo. Mas é entre os bebês que se percebe a situação mais espantosa.
""Uma mãe que trabalha em nosso escritório tem uma filha de dois anos que tem uma mesinha de computador própria. Ela tem seus games, suas atividades e seus sites favoritos", contou Rideout. ""É um fenômeno novo. Não sabemos bem quais são os efeitos, mas há indícios de problemas."
O boom da ""baby media" começou no final dos anos 90, na esteira de uma onda de divulgação da idéia de que os primeiros anos de vida são os mais importantes para o desenvolvimento cerebral.
Capitalizando em cima das preocupações dos pais, muitos DVDs e fitas novas são promovidos como ferramentas educativas. A série ""Baby Einstein" traz poemas e músicas infantis e ensina as crianças a contar em inglês, espanhol, francês, alemão, italiano, hebraico, japonês e russo, explicando no folheto que ""pesquisas mostram que os bebês possuem a habilidade natural de distinguir e assimilar os sons de todas as línguas, mas essa habilidade se perde à medida que a criança cresce".
Alma Schneider, que ganhou o vídeo quando sua filha, Ilah Saltzman, tinha alguns dias de idade, explicou: ""A gente quer se assegurar de que está fazendo o possível pelo filho, e, como todo o mundo usa "Baby Einstein", se sentirá culpado se não fizer igual".
Ilah está com três anos, e seu irmão, Levi, acaba de completar um ano. Schneider hoje tem três fitas e alguns cartões ""Baby Einstein", uma fita de ""Teletubbies" e um sentimento de culpa de outro tipo. ""Sei que eu deveria assistir às fitas junto com as crianças, mas fui deixando de fazê-lo aos poucos e passei a usá-las como babá eletrônica", disse ela. ""Aliás, não conheço ninguém que fique realmente sentado, assistindo junto."


Tradução de Clara Allain


Texto Anterior: "Bright" vê ameaça à divisão entre igreja e Estado
Próximo Texto: América Latina: Guatemala escolhe presidente com ex-ditador no páreo
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.