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Para iraquianos, Congresso democrata não faz diferença
PATRICE CLAUDE
DO "MONDE", EM BAGDÁ
O Iraque pode ser a preocupação número um dos americanos, mas, num país que tem
quase uma centena de vítimas
por dia e passa por uma sangrenta guerra civil entre milícias -na terça-feira, foram encontrados "apenas" 14 cadáveres em Bagdá-, a eleição nos
EUA estava muito longe de figurar no primeiro plano das
preocupações dos iraquianos
comuns.
"Bush ou outro qualquer
-isso não faz diferença alguma
para nós", comentou, quase irritado, Abou Maryam, que cuida de uma mercearia na saída
da Zona Verde, a área fortificada no centro de Bagdá. Raad,
um jovem cliente de passagem,
discorda da posição do comerciante: "Se Bush for derrotado,
talvez os americanos voltem
para casa?"
Uma pesquisa feita no Iraque
no final de setembro com o
apoio da Universidade de
Maryland mostrou que 71% dos iraquianos, todas as confissões
religiosas incluídas, torciam
pela saída das forças estrangeiras no prazo de seis meses. Nada mudou desde então. Por volta das 18h da terça, como durante a tarde, como na noite anterior e como quase todos os
dias, fortes explosões de morteiros e intermináveis trocas de
tiros eram ouvidas em diferentes pontos da capital, enquanto
helicópteros e aviões americanos sobrevoavam a cidade.
No interior da zona ultrafortificada onde dezenas de milhares de privilegiados vivem e trabalham abrigados das bombas,
Ali al Dabbagh, universitário
iraquiano-canadense que, em
agosto, tornou-se o porta-voz
oficial do governo, estima que a
vitória ou derrota da administração Bush "não irá modificar
fundamentalmente" a posição
dos EUA em relação ao Iraque.
Falando a título pessoal, já
que um alto funcionário estrangeiro "não deve imiscuir-se
nos assuntos internos de um
governo amigo", Dabbagh pensa que, apesar do discurso eleitoral que fez furor nos EUA, sobre "como escapar do atoleiro
iraquiano", a maioria democrata que sairia das urnas não teria
condições de avançar mais rapidamente nesse ponto.
"Nossa relação com a América é de natureza estratégica. Pode haver diferenças táticas entre os dois campos políticos
americanos", mas nada mais,
diz. "A única coisa que nos importa é que os interesses do Iraque sigam prioritários em Washington. No fundo, seja qual for
a maioria parlamentar, não
queremos pagar a conta dos vasos quebrados na eleição."
Tradução de CLARA ALLAIN
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