São Paulo, quinta-feira, 09 de novembro de 2006

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Para iraquianos, Congresso democrata não faz diferença

PATRICE CLAUDE
DO "MONDE", EM BAGDÁ

O Iraque pode ser a preocupação número um dos americanos, mas, num país que tem quase uma centena de vítimas por dia e passa por uma sangrenta guerra civil entre milícias -na terça-feira, foram encontrados "apenas" 14 cadáveres em Bagdá-, a eleição nos EUA estava muito longe de figurar no primeiro plano das preocupações dos iraquianos comuns.
"Bush ou outro qualquer -isso não faz diferença alguma para nós", comentou, quase irritado, Abou Maryam, que cuida de uma mercearia na saída da Zona Verde, a área fortificada no centro de Bagdá. Raad, um jovem cliente de passagem, discorda da posição do comerciante: "Se Bush for derrotado, talvez os americanos voltem para casa?"
Uma pesquisa feita no Iraque no final de setembro com o apoio da Universidade de Maryland mostrou que 71% dos iraquianos, todas as confissões religiosas incluídas, torciam pela saída das forças estrangeiras no prazo de seis meses. Nada mudou desde então. Por volta das 18h da terça, como durante a tarde, como na noite anterior e como quase todos os dias, fortes explosões de morteiros e intermináveis trocas de tiros eram ouvidas em diferentes pontos da capital, enquanto helicópteros e aviões americanos sobrevoavam a cidade.
No interior da zona ultrafortificada onde dezenas de milhares de privilegiados vivem e trabalham abrigados das bombas, Ali al Dabbagh, universitário iraquiano-canadense que, em agosto, tornou-se o porta-voz oficial do governo, estima que a vitória ou derrota da administração Bush "não irá modificar fundamentalmente" a posição dos EUA em relação ao Iraque.
Falando a título pessoal, já que um alto funcionário estrangeiro "não deve imiscuir-se nos assuntos internos de um governo amigo", Dabbagh pensa que, apesar do discurso eleitoral que fez furor nos EUA, sobre "como escapar do atoleiro iraquiano", a maioria democrata que sairia das urnas não teria condições de avançar mais rapidamente nesse ponto. "Nossa relação com a América é de natureza estratégica. Pode haver diferenças táticas entre os dois campos políticos americanos", mas nada mais, diz. "A única coisa que nos importa é que os interesses do Iraque sigam prioritários em Washington. No fundo, seja qual for a maioria parlamentar, não queremos pagar a conta dos vasos quebrados na eleição."


Tradução de CLARA ALLAIN


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