São Paulo, quinta-feira, 09 de novembro de 2006

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ELEIÇÕES NOS EUA / MUDANÇA DE RUMO

Democratas buscam plano de governo

Após chegar ao poder com a bandeira única de ser diferente dos republicanos, oposição ainda precisa dizer como vai legislar

Comando democrata da Câmara é contraponto a Bush, mas poder de ação será limitado sem o Senado e com o veto presidencial

DE WASHINGTON

Na madrugada de ontem, quando as projeções indicaram pela primeira vez que o Partido Democrata já tinha o controle da Câmara dos Representantes (deputados), as câmeras das emissoras de TV apontaram para o líder democrata que estava na sede do partido, em Washington. Era Rahm Emmanuel, diretor do Comitê de Campanha do Congresso. Ele não sabia o que dizer.
Resignados nos últimos seis anos no papel de oposição -e com desempenho sofrível até aí, pelo menos no período imediatamente após ao 11 de Setembro, em que foram engolfados pela onda patriótica- e confortáveis na cadeira de minoria nos últimos doze anos, eles agora lutam para montar um programa que ofereça aos eleitores algo mais além do fato de não serem republicanos, sua bandeira de campanha.
Para tanto, foi ressuscitado às pressas o programa que era para ter sido sua pauta neste ano, batizado de "A New Direction for America -Six for "06" (Uma Nova Direção para a América -Seis para 2006), referência a seis propostas que pretendiam defender: segurança nacional, emprego e salário mínimo, autonomia energética, sistema de saúde acessível, reforma na Previdência e acesso universal à universidade.
De todos, conseguiram avançar no primeiro, mesmo assim de carona com os republicanos e nas condições que os últimos impuseram. Em relação ao segundo item, seis Estados nas eleições de ontem votaram "sim" às propostas democratas de aumento de salário mínimo. E só. Os outro quatro itens nunca saíram do papel.
Ontem, a Nova Direção foi ressuscitada como "o" programa democrata, que o partido tentará implantar nas primeiras cem horas em que estiver no poder na Câmara, a partir de 3 de janeiro. Não será fácil. "Agora as atenções estão sobre eles, não mais sobre os republicanos", disse Julian Zelizer, historiador do Congresso dos EUA. "E terão de legislar com um Executivo que não irá querer trabalhar com eles."
De qualquer maneira, embora seja importante o papel do novo Congresso como contraponto a um presidente que conseguiu nos últimos anos poderes quase imperiais, não há muito o que o Legislativo possa fazer sozinho -ainda mais se a oposição dominar apenas uma das Casas. Toda a legislação aprovada pela Câmara terá de passar pelo crivo do Senado.
Uma vez aprovada pelas duas Casas, ela vai para as mãos do presidente, que pode vetá-la. Bush não é pródigo em vetos: até hoje, lançou mão do instrumento apenas uma vez, contra lei que aprovava pesquisa com células-tronco. Mas é que ele contava com a maioria num Congresso dócil. Nos dois primeiros anos de Bill Clinton, antes da "revolução republicana", de 1994, o democrata também não emitiu vetos. Nos seis anos seguintes, o fez 37 vezes.
Por esse e outros motivos, não é provável que um Congresso democrata aprove, por exemplo, a retirada imediata das tropas do Iraque -pesos-pesados como Hillary Clinton e Joe Lieberman já disseram que são contra a medida. Mas pode fazer passar um cronograma de retirada, que é o que prometeram durante as campanhas. (SÉRGIO DÁVILA)


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