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ELEIÇÕES NOS EUA / MUDANÇA DE RUMO
Democratas buscam plano de governo
Após chegar ao poder com a bandeira única de ser diferente dos republicanos, oposição ainda precisa dizer como vai legislar
Comando democrata da Câmara é contraponto a Bush, mas poder de ação será limitado sem o Senado e com o veto presidencial
DE WASHINGTON
Na madrugada de ontem,
quando as projeções indicaram
pela primeira vez que o Partido
Democrata já tinha o controle
da Câmara dos Representantes
(deputados), as câmeras das
emissoras de TV apontaram
para o líder democrata que estava na sede do partido, em
Washington. Era Rahm Emmanuel, diretor do Comitê de
Campanha do Congresso. Ele
não sabia o que dizer.
Resignados nos últimos seis
anos no papel de oposição -e
com desempenho sofrível até
aí, pelo menos no período imediatamente após ao 11 de Setembro, em que foram engolfados pela onda patriótica- e
confortáveis na cadeira de minoria nos últimos doze anos,
eles agora lutam para montar
um programa que ofereça aos
eleitores algo mais além do fato
de não serem republicanos, sua
bandeira de campanha.
Para tanto, foi ressuscitado
às pressas o programa que era
para ter sido sua pauta neste
ano, batizado de "A New Direction for America -Six for "06"
(Uma Nova Direção para a
América -Seis para 2006), referência a seis propostas que
pretendiam defender: segurança nacional, emprego e salário
mínimo, autonomia energética, sistema de saúde acessível,
reforma na Previdência e acesso universal à universidade.
De todos, conseguiram avançar no primeiro, mesmo assim
de carona com os republicanos
e nas condições que os últimos
impuseram. Em relação ao segundo item, seis Estados nas
eleições de ontem votaram
"sim" às propostas democratas
de aumento de salário mínimo.
E só. Os outro quatro itens
nunca saíram do papel.
Ontem, a Nova Direção foi
ressuscitada como "o" programa democrata, que o partido
tentará implantar nas primeiras cem horas em que estiver
no poder na Câmara, a partir de
3 de janeiro. Não será fácil.
"Agora as atenções estão sobre
eles, não mais sobre os republicanos", disse Julian Zelizer,
historiador do Congresso dos
EUA. "E terão de legislar com
um Executivo que não irá querer trabalhar com eles."
De qualquer maneira, embora seja importante o papel do
novo Congresso como contraponto a um presidente que conseguiu nos últimos anos poderes quase imperiais, não há
muito o que o Legislativo possa
fazer sozinho -ainda mais se a
oposição dominar apenas uma
das Casas. Toda a legislação
aprovada pela Câmara terá de
passar pelo crivo do Senado.
Uma vez aprovada pelas duas
Casas, ela vai para as mãos do
presidente, que pode vetá-la.
Bush não é pródigo em vetos:
até hoje, lançou mão do instrumento apenas uma vez, contra
lei que aprovava pesquisa com
células-tronco. Mas é que ele
contava com a maioria num
Congresso dócil. Nos dois primeiros anos de Bill Clinton, antes da "revolução republicana",
de 1994, o democrata também
não emitiu vetos. Nos seis anos
seguintes, o fez 37 vezes.
Por esse e outros motivos,
não é provável que um Congresso democrata aprove, por
exemplo, a retirada imediata
das tropas do Iraque -pesos-pesados como Hillary Clinton e
Joe Lieberman já disseram que
são contra a medida. Mas pode
fazer passar um cronograma de
retirada, que é o que prometeram durante as campanhas.
(SÉRGIO DÁVILA)
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