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Paglia ataca "pressão gay" sobre jovens
Polemista, que está no Brasil, diz que ativismo leva garotos e garotas a definir sexualidade cedo demais
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA A PORTO ALEGRE
Um dito gay corrente é que a
atual geração foi a última a ter
conflitos para sair do armário,
ao menos nos EUA e em alguns
círculos no Brasil, dada a maior
abertura ao tema.
Mas para a escritora e polemista americana Camille Paglia, 60, o pensamento se transforma em problema, sobretudo
no ambiente juvenil americano. Paglia -que em entrevista à
Folha no mês passado atacou
as feministas por não valorizarem as mulheres que preferem
cuidar dos filhos em casa- agora diz estar "extremamente
preocupada" com a disseminação da cultura e do ativismo
gays nos colégios americanos.
Segundo ela, os dois fenômenos são causadores de uma
pressão para que garotos e garotas cada vez mais jovens se
declarem homossexuais.
"Hoje existe nos EUA uma
pressão sobre os jovens para
que eles se declarem gays em
uma certa idade. Sou contra a
introdução do ativismo gay nas
escolas americanas", afirmou
ontem em Porto Alegre, horas
antes de se apresentar no seminário Fronteiras do Pensamento, da Copesul Cultural.
"Muitos jovens que apenas
são atraídos por pessoas do
mesmo sexo decidem dizer "eu
sou gay" e adotar esse mundo,
excluindo outras possibilidades de expressão, quando poderiam ser bissexuais ou viver
uma experiência transitória. É
limitador e pode ser destrutivo,
principalmente quando garotos e garotas começam a ter experiência com hormônios."
Paglia enxerga uma epidemia nos EUA do uso de hormônios para modificar o corpo entre os jovens. Contou que no
Smith College, escola de artes
de prestígio só para garotas, estudantes usam injeções de testosterona. "Quando se é jovem,
a tentação de mudar o corpo é
sedutora demais, um risco.
Quando eu era jovem, eu poderia estar convencida de que era
isso que eu deveria fazer para
expressar minhas ambigüidades. Ao invés disso, me tornei
escritora."
A companheira de Paglia, autora do clássico "Personas Sexuais" (1990), é, há anos, a artista Allison Maddox. A escritora adotou a filha de Maddison.
Mas ela não se define como lésbica e diz que prefere deixar
sua sexualidade em aberto.
A escritora tem uma culpada
para a tendência que aponta: a
influência de teorias de gênero
pós-estruturalistas, às quais se
opõe e com as quais duela há
anos. Uma das expoentes da
corrente é desafeta de Paglia,
Judith Butler. "Essa ideologia,
que diz que o gênero é imposto
pela sociedade opressora, encoraja essa visão de que gênero
não existe na natureza."
Crítica de arte e literária, Paglia diz ver um efeito danoso da
abertura à homossexualidade
na cultura contemporânea: o
que considera um fechamento
do mundo gay, principalmente
masculino, em si mesmo. O
movimento, diz, impedirá a
produção de um novo Tennessee Williams (1911-1983) no cenário americano.
"Antes de 1969 o mundo gay
era muito fechado, reprimido,
o que obrigava os gays a lidarem com mulheres heterossexuais, entendê-las. Tennessee
Williams era gay, mas vivia no
mundo real, heterossexual. Por
isso ele foi capaz de peças com
enorme alcance artístico."
A repórter FLÁVIA MARREIRO viajou a convite
do seminário Fronteiras do Pensamento
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