São Paulo, segunda-feira, 09 de novembro de 2009

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Reunificação era temida por governos

DA ENVIADA A BERLIM

Documentos colocados no fim de semana no site do National Security Archive dos EUA mostram que a queda do Muro de Berlim -e a rapidez das transformações que a envolveu- causou ansiedade e temor entre líderes mundiais de diferentes lados da Guerra Fria. Os papéis, antes sigilosos, vêm dos EUA, da antiga URSS e de países europeus.
Horas antes da queda, na recém-democratizada Polônia, o líder sindical (e futuro presidente) Lech Walesa disse ao chanceler alemão ocidental (e depois da Alemanha reunificada) Helmut Kohl, em visita ao país, que os "desdobramentos na República Democrática da Alemanha estavam acontecendo rápido demais" e em um "momento errado", mostram os papéis, a serem compilados em livro.
Segundo o Archive, Walesa achava que o muro poderia cair "em uma semana", e em seu raciocínio, que se provou correto, isso levaria Kohl e o Ocidente a tirarem sua atenção da Polônia e a colocarem na antiga Alemanha Oriental.
Dois meses antes, segundo atas da Chancelaria britânica, a premiê Margaret Thatcher dissera ao líder soviético Mikhail Gorbatchev que "o Reino Unido e a Europa Ocidental não estão interessados na unificação alemã".
Para Anatoly Chernyaev, assessor de Gorbatchev, era um pedido aos soviéticos para que eles evitassem a reunificação (Gorbatchev nada fez).
Em reportagem publicada ontem, o "El Pais" diz que o motivo real do temor de Thatcher, compartilhado pelo então presidente da França François Miterrand, era a força de uma Alemanha reunificada (o país é hoje a maior economia europeia).
A incerteza era transatlântica, mostram os documentos. Zbigniew Brzezinski, ex-assessor de Segurança Nacional dos EUA (então governados por George Bush pai) disse a Aleksandr Yakovlev, do politburo soviético, que queria que a Polônia e a Hungria permanecessem no Tratado de Varsóvia (aliança militar soviética). "Mas os blocos não devem ser desmontados agora. Não sei o que vai acontecer se a RDA deixar de existir. Haverá uma Alemanha, unida e forte. Isso não corresponde aos seus interesses nem aos nossos." (LC)


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