São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 2010

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Obama busca diversificar debate nos EUA

Presidente investe em outros temas, mas especialistas apontam que segurança deve permanecer no topo da pauta em 2010

Após assumir publicamente a responsabilidade pelos equívocos da Inteligência, democrata aborda emprego e plano de reforma da saúde

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

A tentativa de ataque a um voo americano no Natal colocou a segurança doméstica no topo da lista de prioridades da Casa Branca para este ano.
Após assumir publicamente nesta semana a responsabilidade pelas falhas na segurança que permitiram o acesso do nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab a um voo para o país, o presidente dos EUA, Barack Obama, agora tenta impulsionar a agenda doméstica.
Anteontem, tratou de anunciar medidas para estimular a geração de emprego. Em seu discurso semanal, preferiu falar sobre a reforma da saúde.
Especialistas consultados pela Folha avaliam, porém, que a segurança continuará entre os principais itens da agenda, com discussões sobre o fechamento da prisão de Guantánamo, que abriga os detentos da chamada "guerra ao terror", e a previsão de julgamento de terroristas do 11 de Setembro.
Além disso, a tentativa de ataque de Abdulmutallab deverá ser discutida no Congresso.
O atentado tornou o cenário político para Obama ainda mais complexo em ano de eleições legislativas.
Tradicionalmente, congressistas em anos eleitorais deixam de lado projetos polêmicos para evitar reflexos nas urnas. Na agenda doméstica de Obama, projetos-chave como o de reforma da regulação do sistema financeiro e o de estímulo ao uso de energia limpa dependem do aval legislativo.

Pé esquerdo
Segundo especialistas, o ano começou mal para Obama, que saiu de férias comemorando a vitória na aprovação pelo Senado do projeto de reforma da saúde e voltou do Havaí tendo de usar seu capital político para superar críticas ao governo.
Logo após o ataque, republicanos saíram em ofensiva midiática a reforçar o mantra de que os democratas não sabem lidar com o terrorismo.
Ao produzir rapidamente um relatório sobre as falhas e assumir a responsabilidade pelos erros, Obama adotou novo tom, afirmando que o país está em guerra contra a Al Qaeda, que assumiu a tentativa de ataque.
À emissora CBS, John Negroponte, ex-diretor de Inteligência Nacional no governo de George W. Bush, disse que Obama se move "confortavelmente como comandante em chefe".
"O episódio afeta o capital político de Obama. É sempre difícil quando um presidente precisa se desculpar por algo em seu governo. Ele deve ter um ano difícil, não espero que muita coisa seja alcançada no Congresso", afirma Brian Darling, da Heritage Foundation.

Front interno
Os problemas não se resumem à segurança doméstica. Na semana passada, dois aliados de Obama anunciaram que não vão concorrer à reeleição: os senadores Christopher Dodd (Connecticut) e Byron Dorgan (Dakota do Norte). Na volta do Congresso, os democratas tentarão aprovar o Orçamento e o custeio do aumento de tropas no Afeganistão.
Para Michael McDonald, do Instituto Brookings, a decisão dos dois senadores não afeta o quadro das eleições deste ano.
"É improvável que os republicanos obtenham o controle da Câmara dos Representantes e é impossível que consigam o controle do Senado. Ironicamente, a saída de Dodd melhora as chances dos democratas. Em Dakota do Norte, essa cadeira já estava em risco antes."
Os problemas, no entanto, ainda não se refletiram na popularidade de Obama. Segundo pesquisa do instituto Gallup, o presidente tem aprovação de 52%, contra os 50% a que chegou no fim do ano passado.


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