São Paulo, domingo, 10 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Tráfico dá novo vigor a paramilitares na Colômbia

Prioridade deixa de ser combate às Farc, mas influência política se mantém

Governo, que anunciou fim do paramilitarismo, diz que não há organizações políticas, e sim quadrilhas sem legitimidade social

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

Em 2006, o governo Álvaro Uribe anunciou o fim do paramilitarismo como organização armada ilegal na Colômbia, apresentando números parecidos aos de um exército: 31.671 desmobilizados e 18.051 armas apreendidas. A investigação da Corte Suprema sobre políticos envolvidos com esses grupos atingiu até agora 82 parlamentares e ex-parlamentares, quase todos da base governista, dos quais 20 estão presos.
Mas o surgimento de novos grupos e a recente eleição de candidatos ligados à "parapolítica" mostram que o paramilitarismo não acabou no país.
Sobram indícios de que a desarticulação das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia) abriu espaço para novas organizações, das quais a mais importante é o Águilas Negras, com cerca de 1.300 homens e maior presença no norte.
No campo político, um levantamento da Comissão Colombiana de Juristas revelou que os cinco principais partidos da parapolítica elegeram em outubro 239 prefeitos e dois governadores, sem contar os vereadores. Ao todo, essas agremiações apresentaram 27 mil candidatos dos 86 mil inscritos.
"Muito foi feito por parte da Corte Suprema", disse à Folha León Valencia, da Corporação Novo Arco Íris, ONG que estuda o paramilitarismo desde 2004. "Há muitos congressistas e ex-congressistas investigados. Alguns admitiram as acusações de se beneficiar de um ator ilegal armado para obter votos e chegar ao Congresso mediante essa colaboração."
Por outro lado, Valencia aponta dois grandes problemas para o avanço das investigações: a tentativa de obstrução por parte do governo Uribe e a fraca atuação da Promotoria contra políticos regionais ligados ao paramilitarismo.
Ele cita o recente anúncio de Uribe de que processará o presidente da Corte, César Julio Valencia, por injúria e calúnia, após ele declarar que o presidente lhe telefonara para discutir o processo de seu primo, o ex-senador Mario Uribe, ligado à parapolítica. Outro entrave, diz, é a investigação de políticos regionais estar fora do alcance da Corte Suprema.
Desde 2006, a rearticulação de grupos paramilitares se dá em quase todas as regiões.
Bogotá admite o ressurgimento de grupos de ex-paramilitares, mas diz que se tratam de pequenas organizações criminosas ligadas ao narcotráfico que envolvem menos de 5% dos desmobilizados. Além disso, esses grupos deixaram de combater a guerrilha, à qual se aliam no negócio da cocaína.
"Há uma diferença muito importante. O paramilitarismo chegou a ter muita legitimidade social. Hoje já não é assim. As pessoas agora confiam no Estado", disse à Folha o alto comissário para a Paz, Luiz Carlos Restrepo, em janeiro.
Valencia discorda: "Eles já não têm o caráter antiinsurgente, mas concentram as outras características: atuam como narcotraficantes, querem influenciar a política e armam exércitos privados para isso."


Texto Anterior: Mianmar: Ditadura diz que fará eleição no ano 2010
Próximo Texto: Chávez espera reféns soltos "sem pressa"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.