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Tráfico dá novo vigor a paramilitares na Colômbia
Prioridade deixa de ser combate às Farc, mas influência política se mantém
Governo, que anunciou fim do paramilitarismo, diz que não há organizações políticas, e sim quadrilhas sem legitimidade social
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ
Em 2006, o governo Álvaro
Uribe anunciou o fim do paramilitarismo como organização
armada ilegal na Colômbia,
apresentando números parecidos aos de um exército: 31.671
desmobilizados e 18.051 armas
apreendidas. A investigação da
Corte Suprema sobre políticos
envolvidos com esses grupos
atingiu até agora 82 parlamentares e ex-parlamentares, quase todos da base governista, dos
quais 20 estão presos.
Mas o surgimento de novos
grupos e a recente eleição de
candidatos ligados à "parapolítica" mostram que o paramilitarismo não acabou no país.
Sobram indícios de que a desarticulação das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia)
abriu espaço para novas organizações, das quais a mais importante é o Águilas Negras,
com cerca de 1.300 homens e
maior presença no norte.
No campo político, um levantamento da Comissão Colombiana de Juristas revelou que
os cinco principais partidos da
parapolítica elegeram em outubro 239 prefeitos e dois governadores, sem contar os vereadores. Ao todo, essas agremiações apresentaram 27 mil candidatos dos 86 mil inscritos.
"Muito foi feito por parte da
Corte Suprema", disse à Folha
León Valencia, da Corporação
Novo Arco Íris, ONG que estuda o paramilitarismo desde
2004. "Há muitos congressistas e ex-congressistas investigados. Alguns admitiram as
acusações de se beneficiar de
um ator ilegal armado para obter votos e chegar ao Congresso
mediante essa colaboração."
Por outro lado, Valencia
aponta dois grandes problemas
para o avanço das investigações: a tentativa de obstrução
por parte do governo Uribe e a
fraca atuação da Promotoria
contra políticos regionais ligados ao paramilitarismo.
Ele cita o recente anúncio de
Uribe de que processará o presidente da Corte, César Julio
Valencia, por injúria e calúnia,
após ele declarar que o presidente lhe telefonara para discutir o processo de seu primo, o
ex-senador Mario Uribe, ligado
à parapolítica. Outro entrave,
diz, é a investigação de políticos regionais estar fora do alcance da Corte Suprema.
Desde 2006, a rearticulação
de grupos paramilitares se dá
em quase todas as regiões.
Bogotá admite o ressurgimento de grupos de ex-paramilitares, mas diz que se tratam
de pequenas organizações criminosas ligadas ao narcotráfico que envolvem menos de 5%
dos desmobilizados. Além disso, esses grupos deixaram de
combater a guerrilha, à qual se
aliam no negócio da cocaína.
"Há uma diferença muito
importante. O paramilitarismo
chegou a ter muita legitimidade social. Hoje já não é assim.
As pessoas agora confiam no
Estado", disse à Folha o alto
comissário para a Paz, Luiz
Carlos Restrepo, em janeiro.
Valencia discorda: "Eles já
não têm o caráter antiinsurgente, mas concentram as outras características: atuam como narcotraficantes, querem influenciar a política e armam
exércitos privados para isso."
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