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Morre pivô de disputa sobre eutanásia
A italiana Eluana Englaro, 38, em coma há 17 anos, teve crise "inesperada"; aliados de Berlusconi pedem investigação
Alimentação artificial
havia sido interrompida por decisão da Justiça; governo direitista e Vaticano eram contrários ao procedimento
LaPresse - 15.out.2007/Associated Press
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Beppino Englaro, pai de Eluana, mostra fotos de sua filha
DA REDAÇÃO
A italiana Eluana Englaro,
em estado vegetativo havia 17
anos e pivô de uma disputa que
opôs o governo conservador do
primeiro-ministro Silvio Berlusconi, apoiado pelo Vaticano,
ao Judiciário e ao presidente da
República da Itália, morreu ontem, aos 38 anos.
Sua morte ocorre após meses
de manobras políticas de Berlusconi para tentar evitar o
cumprimento da decisão da
máxima corte de Justiça italiana, que em novembro passado
deu ganho de causa à família de
Englaro e autorizou o desligamento, iniciado na última sexta-feira, do processo de alimentação e hidratação artificial que
a mantinha viva.
Berlusconi chegou a ameaçar
mudar a Constituição e tentou,
na sexta, passar um decreto-lei
vetando o procedimento autorizado pela Justiça -o presidente do país, Giorgio Napolitano, se recusou a ratificá-lo,
considerando a iniciativa inconstitucional. O premiê manifestou ontem "profundo pesar"
por não ter conseguido salvar a
vida de Englaro.
Anunciada no Senado enquanto se discutia um projeto
de lei ordinário apresentado
pelo governo depois do fracasso da tentativa de decreto
-que, com texto idêntico, proíbe a interrupção da alimentação em pacientes incapazes de
expressar sua vontade-, a notícia não pôs fim à disputa entre
governo e oposição no caso.
Após ter sido feito um minuto de silêncio, o senador Caetano Quagriello, aliado de Berlusconi, afirmou que "Eluana não
morreu; foi assassinada". Outro
parlamentar, Maurizio Gasparri, disse se tratar "claramente"
de um caso de eutanásia.
A legislação italiana não reconhece o direito à eutanásia,
embora a jurisprudência autorize aos pacientes o direito de
não se alimentar.
Médicos encarregados do
processo de interrupção da alimentação de Englaro haviam
afirmado na semana passada
que a paciente, em coma por
causa de um acidente de carro,
deveria demorar cerca de duas
semanas para morrer.
O processo de corte da alimentação só teve início na última sexta, quando uma clínica
particular em Udine (nordeste
da Itália) se dispôs a realizá-lo.
No último sábado, após Berlusconi propor o projeto em
discussão ontem, os médicos
aceleraram o procedimento e
interromperam completamente a alimentação artificial.
Parada cardíaca
O neurologista encarregado
do caso, Carlo Alberto Defanti,
disse à imprensa italiana que
sua paciente morreu "de forma
inesperada", e a causa precisa
será determinada por autópsia
"que já estava programada".
A agência de notícias italiana
Ansa afirmou que Englaro
morreu de parada cardíaca. O
pai de Eluana, Beppino, não
quis se pronunciar: "Me deixem sozinho".
O cardeal Javier Lozano Barragán, presidente do Conselho
Pontifício para a Pastoral da
Saúde, pediu que "o Senhor a
acolha consigo e perdoe aqueles que a levaram à morte".
A oposição acusa Berlusconi
de ter tentado se valer do sofrimento de Englaro para aumentar seus poderes e desvirtuar a
democracia italiana.
Em editorial de primeira página, o diretor do jornal "La Repubblica", Ezio Mauro, disse
que a tentativa de decreto de
Berlusconi tentava romper o
"ordenamento constitucional"
da Itália. Mauro atacou a orientação religiosa radical do gabinete de Berlusconi. "O catolicismo italiano deixou de ser religião das pessoas para se converter em religião civil."
Ontem o ministro da Saúde,
Maurizio Sacconi, pediu que o
país aprove o projeto de lei que
barra interrupções de alimentação "para que o sacrifício de
Eluana não seja em vão". O Legislativo italiano retoma hoje
as discussões sobre o projeto
governista.
Com agências internacionais
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