São Paulo, quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

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Analistas não acreditam em nova rodada de sanções

De olho em parceria econômica com Irã, China deve barrar investida, dizem especialistas

Além de afinidade histórica, Pequim e Teerã celebraram recentemente acordos para abastecimento de petróleo e construção de refinaria

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Com ou sem o apoio do Brasil, que hoje ocupa um assento no Conselho de Segurança da ONU, o esforço americano-europeu de aprovar uma nova rodada de sanções contra o Irã no órgão está fadado ao fracasso.
Para analistas consultados pela Folha, a China usará seu poder de veto como membro permanente do CS para barrar a iniciativa transatlântica, de olho em uma parceria econômica de longo prazo com o Irã e ainda como forma de contrapor o poderio americano.
A intensificação da campanha americana por novas sanções coincidiu com o plano do governo Obama de vender R$ 11,5 bilhões em armas para Taiwan, enfurecendo Pequim. Seria uma ação coordenada, destinada a pressionar Pequim?
Para o especialista em China Jonathan Adelman, da Universidade de Denver, o governo Obama superestima sua capacidade de influenciar a China. "Os EUA são vistos pela China como um tigre de papel, por causa da severa crise econômica e seu endividamento", diz Adelman, que também estuda o Oriente Médio.
As repetidas declarações do governo chinês contra sanções não mudarão devido a pressão dos EUA e da Europa, ele prevê. "Os americanos se sentem fortes no momento porque têm os principais países europeus do seu lado. Mesmo assim os chineses pensam: como eles ousam [pressionar]?"
Adelman calcula que a única chance dos EUA de quebrar a resistência chinesa seria obter o apoio da Rússia a sanções, isolando Pequim no CS. Segundo ele, ainda não está clara a direção que Moscou tomará, mas ainda que tenham endurecido o discurso contra o Irã, os russos tendem a apoiar sanções mais brandas que os EUA.
"Historicamente a China prefere não ficar sozinha, e não lhe agrada a ideia de ser a única fonte de apoio ao Irã", diz Adelman. "Por outro lado, os chineses têm mais de US$ 30 bilhões em comércio com o Irã, que é visto como um de seus grandes fornecedores de petróleo."
Uma nova rodada de sanções só alcançará seu objetivo se realmente atingir a economia do Irã, afirma o diretor do centro israelense de estudos globais de Herzylia, Barry Rubin, o que, segundo ele, não aconteceu nas três já aplicadas. Para Rubin, o mais efetivo seria boicotar o fornecimento de gasolina ao país. Mas isso afetaria interesses russos e chineses.
Apesar de ser o quarto maior produtor de petróleo do mundo, o Irã não tem capacidade de refino para suprir suas próprias necessidades, dependendo do exterior em 40% da gasolina que consome. No ano passado, a China fechou um contrato de R$ 5,4 bilhões para construir uma refinaria no Irã e anunciou planos de investir mais R$ 10 bilhões no setor.
Meir Litvak, especialista em Irã da Universidade Tel Aviv, cita afinidade histórica de Pequim e Teerã entre os motivos para ser cético sobre a inclinação chinesa em apoiar sanções, mas acha que o maior elo é o econômico: "A China quer se ligar ao Irã no longo prazo, assegurando fornecimento de petróleo por muitos anos".


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