São Paulo, segunda-feira, 10 de março de 2008

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Nome de guerra de socialista era "Lozano"

DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI

Quando terminou a Guerra Civil espanhola, em 1939, ainda faltava 21 anos para que Purificación Zapatero tivesse o filho José Luis Rodríguez Zapatero, ontem reeleito presidente do governo espanhol (como é um regime parlamentarista, o cargo é de primeiro-ministro, mas a terminologia espanhola é a de presidente do governo).
Apesar da distância entre seu nascimento e a guerra, Zapatero traz para a vida pessoal e pública a marca do enfrentamento fratricida: seu codinome, quando entrou para a Juventude Socialista, em 1979, era "Lozano". Vinha do nome do avô, Juan Rodríguez Lozano, capitão do exército republicano, fuzilado no primeiro ano da guerra (1936), como tantos integrantes do grupo derrotado.
A dor da família, no entanto, não se transformou em amargura. Ao contrário. "Meu caráter otimista ao enfrentar meus desafios pessoais, meus desafios na vida pública, deveu-se sempre ao convencimento de que havia sido tão dura a vida de meu pai, havia sido tão dura a vida de todo o país, que nós só podíamos ter pela frente um bom futuro", depôs Zapatero para o livro "Madera de Zapatero - Retrato de un presidente", do jornalista Suso de Toro, extremamente laudatório.
Se a Espanha terá ou não um bom futuro, é matéria aberta a opiniões. Zapatero teve. Foi o mais jovem deputado das Cortes, o Parlamento espanhol, eleito em 1986, com apenas 26 anos, por León, que é seu berço político, mas não físico (nasceu em Valladolid, dia 4 de agosto de 1960). Está, portanto, nas Cortes há 22 anos.
No PSOE (o Partido Socialista Operário Espanhol), há mais tempo: desde que, em 1979, aderiu à Juventude Socialista, nunca mais deixou o partido. Elegeu-se secretário-geral no ano 2000, no vácuo criado pelo afastamento voluntário de Felipe González, o principal dirigente do PSOE desde a clandestinidade até a redemocratização, passando por 14 anos de Presidência do governo (1982-1996).
Derrotado por José María Aznar, em 1996, González afastou-se. O PSOE pulou de secretário-geral em secretário-geral, perdeu de novo a eleição de 2000, até que Zapatero lançou sua candidatura em nome de uma corrente interna batizada de "Nueva Vía", mais centrista ainda do que o partido já se tornara desde que abandonara o marxismo, ainda no período de clandestinidade.
Sua vitória surpreendeu porque ele não figurava entre os cardeais socialistas. Como surpreendeu também sua vitória seguinte, agora nas eleições gerais, em 2004: as pesquisas davam como favorito o conservador PP (Partido Popular), então como agora liderado por Mariano Rajoy.

Atentados
Mas a manipulação pelo governo conservador das informações sobre os atentados aos trens de Madri, no dia 11 de março, três dias antes da votação, acabou provocando a reviravolta e a vitória de Zapatero.
Que não surpreendeu ao anunciar sua primeira decisão: retirar as tropas espanholas do Iraque, cumprindo promessa de campanha (e atendendo ao clamor da rua, visto que todas as pesquisas de opinião mostravam uma sólida maioria contra a guerra).
Seus quatro anos de gestão têm uma aprovação muito relativa: a mais recente pesquisa do Centro de Investigações Sociológicas, em fevereiro, lhe deu nota 5,36, a melhor entre todos os líderes políticos, mas quase reprovado, já que a nota vai de 1 a 10.

Privacidade
Formado em Direito, casado há 18 anos com Sonsoles Espinoza, que também estudou Direito e é cantora de música clássica e professora de música, pai de Laura e Alba, Zapatero ganhou o direito de continuar preservando a família dos olhares do público, com a discrição que o casal faz empenho em manter, graças a poder residir até nova eleição no protegido Palácio de la Moncloa. (CR)


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