São Paulo, segunda-feira, 10 de março de 2008

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Brasil investirá em "portas" com Espanha

Para aparar arestas diplomáticas, Itamaraty quer relação com Madri além do âmbito da Comunidade Iberoamericana

Executivos de empresas espanholas acham que governo de Madri deve "fazer uma aposta" na economia brasileira

DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI

Na visita que fez à Espanha em julho de 2003, com direito a andar no Rolls Royce preto que o cerimonial reserva para essas solenidades, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva precipitou-se em seu discurso na Prefeitura de Madri. Declarou, então: "Tenho certeza de que as portas de Madri estão abertas para o povo brasileiro e de outros países".
Já não estavam e menos ainda estão agora, como se pode ver pela inadmissão crescente de brasileiros, ao ritmo de 15 por dia em fevereiro, e pela retaliação do governo brasileiro contra cidadãos espanhóis que chegam ao Brasil.
Por isso, após a eleição de ontem, a diplomacia brasileira gostaria realmente de abrir as portas -e não apenas para os cidadãos. Quer portas mais abertas para a relação institucional entre os dois países, que já é "o melhor relacionamento bilateral entre países europeus e países latino-americanos", na avaliação do embaixador do Brasil na Espanha, José Viegas.
Como melhorar mais ainda? Simples: as relações da Espanha com a América Latina se dão, essencialmente, no marco da Comunidade Iberoamericana. A diplomacia brasileira acha -com certa razão- que o Brasil é maior que a comunidade e, por isso, mereceria um tratamento especial.
Concorda com essa visão Andrés Ortega, diretor da edição em espanhol da revista "Foreign Policy" e colunista do principal jornal espanhol ("El País"). No número de fevereiro/ março da revista, Ortega escreve um "memorando" ao futuro presidente do governo, fosse qual fosse, sobre o que fazer em política externa. Sobre América Latina, recomenda que se faça uma "aposta" no Brasil, "um país que promete ainda mais com os últimos descobrimentos petrolíferos".
É uma visão parecida com a que têm pesos-pesados do empresariado espanhol com interesse na América Latina. "Quem não apostar no Brasil vai ter problemas", diz José Maria Álvarez-Paillete, presidente-executivo da Telefónica Internacional. Na Telefónica, aliás, todos os altos executivos mostram a mais absoluta certeza de que o Brasil alcançará logo o "investment grade", classificação que sinaliza, para os investidores, que um país merece o mais alto grau de confiança.
Em tese, não é difícil aperfeiçoar ainda mais o relacionamento Brasil/Espanha, na medida em que não há obstáculos político-ideológicos: o termo "parceria estratégica" entre os dois já foi usado, quando estavam nos respectivos governos, por Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e José María Aznar (do conservador Partido Popular), por Lula (PT) e Aznar e, no ano passado, por Lula e José Luis Rodríguez Zapatero (Partido Socialista Operário Espanhol).
Ou seja, atravessou governos, de um lado e do outro do Atlântico, que são rivais internos.
Resta o problema de transformar um rótulo altissonante em fatos concretos, entre eles o tratamento dos que chegam ao aeroporto de Barajas, que nota oficial do Itamaraty disse ser "incompatível com o bom nível do relacionamento entre os dois países". A nota não diz, mas é mais incompatível ainda com países que se tratam como "parceiros estratégicos". (CLÓVIS ROSSI)

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