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Brasil investirá em "portas" com Espanha
Para aparar arestas diplomáticas, Itamaraty quer relação com Madri além do âmbito da Comunidade Iberoamericana
Executivos de empresas espanholas acham que governo de Madri deve "fazer uma aposta" na economia brasileira
DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI
Na visita que fez à Espanha
em julho de 2003, com direito a
andar no Rolls Royce preto que
o cerimonial reserva para essas
solenidades, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva precipitou-se em seu discurso na Prefeitura de Madri. Declarou, então:
"Tenho certeza de que as portas de Madri estão abertas para
o povo brasileiro e de outros
países".
Já não estavam e menos ainda estão agora, como se pode
ver pela inadmissão crescente
de brasileiros, ao ritmo de 15
por dia em fevereiro, e pela retaliação do governo brasileiro
contra cidadãos espanhóis que
chegam ao Brasil.
Por isso, após a eleição de ontem, a diplomacia brasileira
gostaria realmente de abrir as
portas -e não apenas para os
cidadãos. Quer portas mais
abertas para a relação institucional entre os dois países, que
já é "o melhor relacionamento
bilateral entre países europeus
e países latino-americanos", na
avaliação do embaixador do
Brasil na Espanha, José Viegas.
Como melhorar mais ainda?
Simples: as relações da Espanha com a América Latina se
dão, essencialmente, no marco
da Comunidade Iberoamericana. A diplomacia brasileira
acha -com certa razão- que o
Brasil é maior que a comunidade e, por isso, mereceria um
tratamento especial.
Concorda com essa visão Andrés Ortega, diretor da edição
em espanhol da revista "Foreign Policy" e colunista do
principal jornal espanhol ("El
País"). No número de fevereiro/ março da revista, Ortega escreve um "memorando" ao futuro presidente do governo,
fosse qual fosse, sobre o que fazer em política externa. Sobre
América Latina, recomenda
que se faça uma "aposta" no
Brasil, "um país que promete
ainda mais com os últimos descobrimentos petrolíferos".
É uma visão parecida com a
que têm pesos-pesados do empresariado espanhol com interesse na América Latina.
"Quem não apostar no Brasil
vai ter problemas", diz José
Maria Álvarez-Paillete, presidente-executivo da Telefónica
Internacional. Na Telefónica,
aliás, todos os altos executivos
mostram a mais absoluta certeza de que o Brasil alcançará logo o "investment grade", classificação que sinaliza, para os investidores, que um país merece
o mais alto grau de confiança.
Em tese, não é difícil aperfeiçoar ainda mais o relacionamento Brasil/Espanha, na medida em que não há obstáculos
político-ideológicos: o termo
"parceria estratégica" entre os
dois já foi usado, quando estavam nos respectivos governos,
por Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e José María Aznar (do conservador Partido
Popular), por Lula (PT) e Aznar
e, no ano passado, por Lula e
José Luis Rodríguez Zapatero
(Partido Socialista Operário
Espanhol).
Ou seja, atravessou governos,
de um lado e do outro do Atlântico, que são rivais internos.
Resta o problema de transformar um rótulo altissonante
em fatos concretos, entre eles o
tratamento dos que chegam ao
aeroporto de Barajas, que nota
oficial do Itamaraty disse ser
"incompatível com o bom nível
do relacionamento entre os
dois países". A nota não diz,
mas é mais incompatível ainda
com países que se tratam como
"parceiros estratégicos".
(CLÓVIS ROSSI)
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