São Paulo, segunda-feira, 10 de março de 2008

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Ações da Colômbia na Amazônia afetam Farc

LUIS KAWAGUTI
ENVIADO ESPECIAL A CUCUÍ

A intensificação das ações do Exército colombiano na região da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Venezuela no início deste ano diminuiu as atividades das Farc e provocou a retração do comércio na região, segundo informações obtidas pelo Exército brasileiro.
As forças guerrilheiras eram normalmente abastecidas com alimentos e remédios vindos de cidades brasileiras. "Quando sai um barco daqui de São Gabriel da Cachoeira (AM) subindo à Colômbia para vender comida, com certeza parcela dessa comida será utilizada pela guerrilha. Mas isso é o livre comércio, não temos como proibir", afirmou o general-de-brigada Antônio Hamilton Martins Mourão, comandante da 2ª Brigada de Infantaria de Selva.
Para chegar à Colômbia, esses barcos sobem o rio Negro e passam por um posto de fiscalização no Pelotão Especial de Fronteira de Cucuí. Até janeiro de 2008, de dois a três barcos carregados de mantimentos cruzavam a fronteira por semana em direção ao país vizinho.
Contudo, há um mês e meio o Exército não registra mais a passagem desse tipo de embarcação. A época coincide com a intensificação das operações do Exército colombiano na região. Os militares colombianos estão instalados nas cidades de Guadalupe e San Filipe, antes dominadas pela guerrilha. Uma das hipóteses dos militares brasileiros para a diminuição do trânsito desses barcos é que esses guerrilheiros tenham se concentrado agora na área do rio Guainia.

Duas frentes
Segundo o general Mourão, a guerrilha na região está dividida na frente um, com 430 homens, e na frente 16, com 110, aproximadamente. Essas frentes abrangem as regiões de Vaupés e Guainia, respectivamente, na Colômbia. O Exército diz crer que a área dominada por essas duas frentes funcione para as Farc como um "santuário", ou seja, um local onde os guerrilheiros podem se esconder, descansar, manter prisioneiros e planejar ataques.
A região é dominada pela selva amazônica, o que torna fácil encontrar esconderijos. Por outro lado, por ser desabitada, a área não oferece alvos compensadores aos guerrilheiros.
O Pelotão Especial de Fronteira de Cucuí fiscaliza a maior parte dos barcos que cruzam a fronteira pelo rio Negro. Quando uma embarcação é abordada, todos os passageiros são fichados e fotografados, segundo o capitão Paulo Gustavo Monteiro dos Santos, comandante do pelotão. Os dados são então repassados à inteligência do Exército e cruzados com dicas fornecidas por informantes sobre traficantes de drogas e guerrilheiros. Esse sistema, porém, ainda não está integrado com o banco de dados da polícia. O mesmo tipo de fiscalização é feito em outros oito pelotões instalados ao longo da fronteira colombiana.

Prisões
A última prisão de um suposto guerrilheiro em Cucuí foi em janeiro. Celso Rodrigues Melgueiro é brasileiro e teria atuado na produção de cocaína na Colômbia. Ele foi detido pelo Exército quando tentava sair do Brasil, não por ser suspeito de participar da guerrilha, mas por ser foragido da polícia.
Segundo o general Mourão, o Exército não tem como meta prender suspeitos de participação na guerrilha, por se tratar de um conflito de outra nação. Os guerrilheiros só podem ser detidos no Brasil se forem flagrados armados, transportando ou negociando drogas ou infringindo de outro modo a lei.
Alguns deles, diz Mourão, entram no Brasil como cidadãos colombianos comuns para fazer compras e receber tratamento em hospitais e postos de saúde.


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