São Paulo, quarta-feira, 10 de março de 2010

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Israel anuncia mais construções em Jerusalém e contraria EUA

Anúncio "abala confiança" necessária à paz, afirma vice de Obama em visita

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Nem os mais céticos, e eles são a maioria, esperavam que a retomada das negociações entre israelenses e palestinos começasse a naufragar tão cedo.
Ontem, depois do anúncio de que Israel vai construir mais 1.600 casas em Jerusalém Oriental, a liderança palestina ameaçou abortar o diálogo antes mesmo do seu início.
O constrangimento se estendeu aos EUA, cujo vice, Joe Biden, iniciava seu segundo dia de visita a Israel enquanto um comunicado do governo informava sobre as novas construções -na véspera, já fora feito o anúncio da construção de 112 apartamentos na Cisjordânia, contrariando congelamento de nove meses anunciado em novembro após pressão dos EUA.
Biden, que passou a segunda-feira em Jerusalém trocando abraços e declarações calorosos com líderes de Israel, terminou a terça-feira criticando o país.
Há meses os americanos tentam vencer a resistência palestina a voltar à negociações, o que só ocorreu há poucos dias, por meio de contatos indiretos.
Para Biden, o anúncio "é exatamente o tipo de passo que abala a confiança" necessária ao avanço do processo de paz.
O Ministério de Interior de Israel afirma que as 1.600 unidades habitacionais que serão construídas num bairro de população judia ortodoxa em Jerusalém Oriental, que os palestinos reivindicam como capital de seu futuro Estado, fazem parte de um projeto iniciado há três anos e que o anúncio nada tem a ver com a visita de Biden.
Embora a decisão fosse do conhecimento do premiê israelense, Binyamin Netanyahu, o momento da revelação parece tê-lo pego de surpresa.
Nabil Abu-Rudeina, porta-voz da Autoridade Nacional Palestina (ANP), disse que o anúncio é "uma decisão perigosa, que irá torpedear as negociações e levar os esforços americanos ao completo fracasso".
Também na fraca oposição doméstica ao governo de Netanyahu o gesto foi visto como uma ação deliberada para sabotar a tentativa de avanço.
Para Meir Margalit, membro do Conselho Municipal de Jerusalém pelo partido de esquerda Meretz, a presença de Biden estimulou o anúncio sobre as construções: "É claro que não foi coincidência", afirmou.
Coincidência ou não, Biden faz um roteiro que será repetido na próxima semana pelo presidente Lula e que inclui Israel, territórios palestinos e Jordânia. Ontem foi confirmado que o presidente brasileiro discursará na Knesset, o Parlamento israelense.


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