São Paulo, domingo, 10 de abril de 2005

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"Gostaria de um papa romano", diz censurado

DA REPORTAGEM LOCAL

"Pessoalmente, não quero um papa brasileiro. Quero um papa romano, italiano, mas que respeite as igrejas locais. Que não seja um superbispo, o chefe de uma igreja multinacional. A igreja não é uma Volkswagen", diz o monge beneditino Marcelo Barros, 60. No seu entender, "o papa é o bispo de Roma, e é melhor que seja romano do que brasileiro".
O monge diz que sofreu censura no pontificado de João Paulo 2º pela liberdade com que se expressa e por ser acusado de sincretismo. "Eu acredito que seja uma missão da igreja essa comunhão de todas as culturas. Eu me insiro na religião afro-brasileira, pois acredito nesse ecumenismo."
Pernambucano, ex-assessor de d. Hélder Câmara, teólogo com 26 livros publicados, Barros também é alvo de críticas dos conservadores pelo trabalho que realiza com comunidades do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) em Goiás.
"Eles [os conservadores] não estão acostumados com a liberdade", diz. Quando o papa escreveu uma epístola dizendo que os divorciados não podiam comungar, Barros enviou uma "carta aberta" em que tratava João Paulo 2º por "caríssimo irmão". "Foi considerado um desrespeito. Mas eu acho que o maior respeito é chamar alguém de irmão", diz o monge.
Quando o cardeal Joseph Ratzinger defendeu que a Igreja Católica era a única verdadeira, na carta "Dominus Iesus", o monge pernambucano fez trocadilho que custou censura. Disse que o cardeal "estava dominando Jesus e controlando os bispos católicos".
"Não sou a favor de uma internacionalização maior do papado. João Paulo 2º criou a diocese em que ele é o único bispo. Tudo era centrado na figura dele, com seu carisma, suas qualidades e também com todas as suas limitações. Isso não é bom para a igreja."
Para Barros, "o Concílio Vaticano 2º decidiu que a igreja é local, e que a Igreja Católica é a comunhão de todas as igrejas". No seu entender, o papa tem a função de coordenar a unidade. "Não é um bispo acima dos outros. Minha esperança é que haja uma descentralização", diz. (FV)

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