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Chávez estatiza siderúrgica argentina
Sidor, que tem participação da brasileira Usiminas, será nacionalizada por "intransigência" com sindicatos, diz governo
Dono de controladora da usina é um aliado do casal Kirchner; ações da empresa, avaliada por sócio em US$ 2,4 bi, têm queda de 10,37%
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A CIUDAD GUAYANA
Em decisão surpreendente, o
governo venezuelano anunciou
ontem a nacionalização da siderúrgica Sidor, controlada pela empresa argentina Techint,
com participação minoritária
da brasileira Usiminas.
Encarregado de explicar a
decisão, o vice-presidente Ramón Carrizales disse que a nacionalização é uma resposta às
posições "intransigentes, desrespeitosas, ofensivas, arrogantes e prepotentes" da empresa
em relação aos funcionários,
que negociam há 15 meses um
novo contrato coletivo de trabalho, sem avanços.
O vice de Hugo Chávez acusou ainda a Sidor de promover
uma "exploração inclemente"
de seus funcionários, que estariam submetidos a uma "semi-escravidão" pela empresa.
Carrizales disse que não espera uma reação negativa do
governo de Cristina Fernández
de Kirchner, que mantém relação próxima tanto com a Techint quanto com Chávez. "Sabemos que o governo da Argentina sempre tem sido respeitoso das normas internas. Manteremos as melhores relações",
disse, em entrevista coletiva.
Questionado se a nacionalização era definitiva, Carrizales
foi evasivo: "Não corresponde a
mim decidir se esse é um processo que possa ser revertido",
afirmou, dando a entender que
uma mudança dependerá de
Chávez, que até ontem à noite
não havia falado sobre o tema.
O longo impasse em torno
das negociações deteriorou as
relações entre sindicato e empresa. Desde janeiro, funcionários da Sidor promoveram uma
série de paralisações e de protestos. Nesta semana, o governo indicou Carrizales para tentar mediar um acordo, mas o
impasse persistiu.
A nacionalização foi anunciada por volta da 1h da madrugada local pelo secretário-geral
do Sindicato Único de Trabalhadores Siderúrgicos e Similares (Suttis), Nerio Fuentes,
após reunião com Carrizales.
Ele telefonou ao canal estatal
VTV e, ao vivo, deu a notícia.
Privatizada em 1997 -dois
anos antes do início do governo
Chávez- por US$ 1,2 bilhão, a
Sidor é administrada pela holding Ternium, que tem participação de 60%. A holding, por
sua vez, é controlada pela argentina Techint, com uma participação minoritária, de
14,25%, da Usiminas. O restante das ações está nas mãos do
Estado venezuelano (20%) e
dos funcionários (20%).
Em entrevista coletiva ontem em Caracas, o presidente
da Ternium Sidor Venezuela,
Ricardo Prósperi, estimou o valor da siderúrgica em US$ 2,4
bilhões. Segundo ele, a planta
venezuelana representa cerca
de 26% das operações mundiais da Ternium. O executivo
chamou ainda a nacionalização
de "desnecessária".
Com o anúncio da nacionalização, o preço das ações da Ternium caiu 10,37% ontem na
Bolsa de Valores de Nova York.
Ameaça cumprida
Em maio do ano passado,
Chávez já havia ameaçado nacionalizar a Sidor, acusando-a
de monopolizar o comércio de
aço no país. Segundo relatos da
imprensa argentina na época, o
então presidente Néstor Kirchner o demoveu da idéia.
A Techint pertence ao empresário Paolo Rocca, tido com
um dos aliados mais próximos
do casal Kirchner dentro do
meio empresarial argentino.
Apesar de Chávez ter iniciado uma agressiva política de
nacionalização de setores que
considera estratégicos, a Sidor
era considerada um alvo improvável pelas boas relações diplomáticas entre o presidente
venezuelano e os Kirchner.
Ontem de manhã, Rocca ainda enviou uma carta a Chávez
no qual apresenta propostas
para os três pontos de maior
impasse com o Suttis. Mas, horas depois, Carrizales ratificou
o anúncio da nacionalização.
A Sidor é a maior siderúrgica
da região andina e do Caribe.
Com 12 mil funcionários, está
localizada em Ciudad Guayana,
cidade a 700 km a leste de Caracas e com uma população em
torno de 1 milhão de habitantes
que concentra a maior parte do
parque industrial venezuelano.
Não é a primeira vez que uma
empresa brasileira é afetada
pela política estatista de Chávez. Em 2005, a Petrobras, assim como outras empresas
multinacionais, foi obrigada a
ceder ao Estado o controle
acionário de sua operações de
explorações de petróleo fora da
faixa do Orinoco, cuja nacionalização se deu no ano passado.
Ontem, a Usiminas não quis
se pronunciar sobre o anúncio
do governo venezuelano.
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