São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2008

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Chávez estatiza siderúrgica argentina

Sidor, que tem participação da brasileira Usiminas, será nacionalizada por "intransigência" com sindicatos, diz governo

Dono de controladora da usina é um aliado do casal Kirchner; ações da empresa, avaliada por sócio em US$ 2,4 bi, têm queda de 10,37%

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A CIUDAD GUAYANA

Em decisão surpreendente, o governo venezuelano anunciou ontem a nacionalização da siderúrgica Sidor, controlada pela empresa argentina Techint, com participação minoritária da brasileira Usiminas.
Encarregado de explicar a decisão, o vice-presidente Ramón Carrizales disse que a nacionalização é uma resposta às posições "intransigentes, desrespeitosas, ofensivas, arrogantes e prepotentes" da empresa em relação aos funcionários, que negociam há 15 meses um novo contrato coletivo de trabalho, sem avanços.
O vice de Hugo Chávez acusou ainda a Sidor de promover uma "exploração inclemente" de seus funcionários, que estariam submetidos a uma "semi-escravidão" pela empresa.
Carrizales disse que não espera uma reação negativa do governo de Cristina Fernández de Kirchner, que mantém relação próxima tanto com a Techint quanto com Chávez. "Sabemos que o governo da Argentina sempre tem sido respeitoso das normas internas. Manteremos as melhores relações", disse, em entrevista coletiva.
Questionado se a nacionalização era definitiva, Carrizales foi evasivo: "Não corresponde a mim decidir se esse é um processo que possa ser revertido", afirmou, dando a entender que uma mudança dependerá de Chávez, que até ontem à noite não havia falado sobre o tema.
O longo impasse em torno das negociações deteriorou as relações entre sindicato e empresa. Desde janeiro, funcionários da Sidor promoveram uma série de paralisações e de protestos. Nesta semana, o governo indicou Carrizales para tentar mediar um acordo, mas o impasse persistiu.
A nacionalização foi anunciada por volta da 1h da madrugada local pelo secretário-geral do Sindicato Único de Trabalhadores Siderúrgicos e Similares (Suttis), Nerio Fuentes, após reunião com Carrizales. Ele telefonou ao canal estatal VTV e, ao vivo, deu a notícia.
Privatizada em 1997 -dois anos antes do início do governo Chávez- por US$ 1,2 bilhão, a Sidor é administrada pela holding Ternium, que tem participação de 60%. A holding, por sua vez, é controlada pela argentina Techint, com uma participação minoritária, de 14,25%, da Usiminas. O restante das ações está nas mãos do Estado venezuelano (20%) e dos funcionários (20%).
Em entrevista coletiva ontem em Caracas, o presidente da Ternium Sidor Venezuela, Ricardo Prósperi, estimou o valor da siderúrgica em US$ 2,4 bilhões. Segundo ele, a planta venezuelana representa cerca de 26% das operações mundiais da Ternium. O executivo chamou ainda a nacionalização de "desnecessária".
Com o anúncio da nacionalização, o preço das ações da Ternium caiu 10,37% ontem na Bolsa de Valores de Nova York.

Ameaça cumprida
Em maio do ano passado, Chávez já havia ameaçado nacionalizar a Sidor, acusando-a de monopolizar o comércio de aço no país. Segundo relatos da imprensa argentina na época, o então presidente Néstor Kirchner o demoveu da idéia.
A Techint pertence ao empresário Paolo Rocca, tido com um dos aliados mais próximos do casal Kirchner dentro do meio empresarial argentino.
Apesar de Chávez ter iniciado uma agressiva política de nacionalização de setores que considera estratégicos, a Sidor era considerada um alvo improvável pelas boas relações diplomáticas entre o presidente venezuelano e os Kirchner.
Ontem de manhã, Rocca ainda enviou uma carta a Chávez no qual apresenta propostas para os três pontos de maior impasse com o Suttis. Mas, horas depois, Carrizales ratificou o anúncio da nacionalização.
A Sidor é a maior siderúrgica da região andina e do Caribe. Com 12 mil funcionários, está localizada em Ciudad Guayana, cidade a 700 km a leste de Caracas e com uma população em torno de 1 milhão de habitantes que concentra a maior parte do parque industrial venezuelano.
Não é a primeira vez que uma empresa brasileira é afetada pela política estatista de Chávez. Em 2005, a Petrobras, assim como outras empresas multinacionais, foi obrigada a ceder ao Estado o controle acionário de sua operações de explorações de petróleo fora da faixa do Orinoco, cuja nacionalização se deu no ano passado.
Ontem, a Usiminas não quis se pronunciar sobre o anúncio do governo venezuelano.


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