São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 2000


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RIVAIS CONSANGUÍNEOS
Pesquisa divulgada ontem afirma que "irmãos" genéticos teriam um ancestral comum
Árabes e judeus têm origem genética comum, diz estudo


MARCELO STAROBINAS E PAULO DANIEL FARAH

DA REDAÇÃO

Mais que "primos", árabes e judeus podem ser considerados irmãos geneticamente e teriam um ancestral comum, segundo estudo divulgado ontem.
Pesquisadores norte-americanos, europeus, israelenses e sul-africanos analisaram 1.371 homens de várias partes do mundo, incluindo o Oriente Médio, a Europa e a África, para observar eventuais similaridades genéticas e tentar traçar suas origens.
O estudo observou um grupo de genes do cromossomo Y (presente exclusivamente nos homens) e chegou à conclusão de que judeus e árabes compartilham genes semelhantes.
"Os judeus são os irmãos genéticos de palestinos, sírios e libaneses, e todos eles compartilham uma linha genética comum que se estende até milhares de anos", afirmam os pesquisadores na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences", publicação da Academia Nacional de Ciências dos EUA.
Sérgio Dani, médico e geneticista molecular ligado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, analisou a pesquisa, a pedido da Folha, e disse que o estudo leva a crer realmente que árabes e judeus são "irmãos".
O trabalho reforça a antiga tese de parentesco. Os dois povos -que eventualmente costumam se chamar de "primos"- são de origem semita e da mesma região.
O árabe e o hebraico pertencem à mesma família linguística. E as crenças religiosas do judaísmo, do cristianismo e do islamismo apontam para um "pai" comum: Abraão (leia texto abaixo).
No final do século 19, surgiu o movimento sionista. Sua idéia central era levar os judeus espalhados pelo mundo à Palestina para formar um Estado judeu, o que gerou disputas pela terra com palestinos que ali viviam.
Mais intensamente após a criação do Estado de Israel, em 1948, fraternidade é uma palavra de raras aparições na história das relações entre os "irmãos genéticos" do Oriente Médio.
Israelenses e palestinos negociam há quase uma década um acordo de paz definitivo.
Israel anunciou uma retirada do sul do Líbano até 7 de julho, e o governo discute com a Síria um acordo para estabelecer relações diplomáticas.

Paz

Já houve tréguas nessa guerra entre irmãos. Na Península Ibérica, judeus e árabes (muçulmanos e cristãos) tiveram convivência muito mais pacífica -acompanhada de uma significativa produção científica e literária- , até a expulsão da Espanha de 1492.
As negociações de paz em desenvolvimento no Oriente Médio, que obtiveram importantes avanços, apesar dos ataques de extremistas de ambas as partes, levam à esperança de um fim ao fratricídio deste século.
"A estreita afinidade (genética) entre judeus e não-judeus do Oriente Médio observada apóia a hipótese de uma origem comum", diz Michael Hammer, da Universidade de Tucson, no Arizona (EUA), principal responsável pelo estudo divulgado ontem.

Bomba étnica
Israel teria abortado o desenvolvimento de uma "bomba étnica" -armamento que seria capaz de matar apenas seus inimigos árabes- por causa das características genéticas semelhantes.
O projeto poderia atingir judeus, segundo pesquisadores de um instituto biológico da cidade de Nes Tziona (próxima a Tel Aviv) ouvidos pelo jornal britânico "Sunday Times", em novembro de 1998.
Israel teria aproveitado pesquisas iniciadas durante o apartheid na África do Sul. Na década de 80, o governo segregacionista da minoria branca tentou desenvolver uma arma biológica que atingisse apenas a população negra. O governo israelense nunca confirmou a existência desses estudos.
A análise genética demonstra ainda que os judeus tiveram pouca miscigenação com outros povos.


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